Podcast do Correio

A luta da Fundação Athos Bulcão agora é por recursos para a construção da sede

Sede definitiva da Fundação Athos Bulcão deve reunir arte, educação e memória afetiva em homenagem ao artista. Depois de conseguir a concessão de um terreno, os esforços são para obter o dinheiro para a realização da obra

Severino Francisco (D) e Nahima Maciel (D) conversam com Valéria Cabral e Haroldo Pinheiro sobre os próximos passos para a construção da sede -  (crédito:  Minervino Júnior/CB)
Severino Francisco (D) e Nahima Maciel (D) conversam com Valéria Cabral e Haroldo Pinheiro sobre os próximos passos para a construção da sede - (crédito: Minervino Júnior/CB)

No novo episódio do Podcast do Correio, Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão (Fundathos), e o arquiteto Haroldo Pinheiro falam sobre a retomada do projeto de construção da sede definitiva da entidade, pensada por João Filgueiras Lima (1932-2014), conhecido como Lelé, em homenagem ao artista plástico. Na conversa com os jornalistas Severino Francisco e Nahima Maciel, os convidados destacaram a importância da obra para a cidade, o legado dos dois artistas e os próximos passos para tirar o projeto do papel, após mais de uma década de espera.

Uma luta de 16 anos, o que isso significa para a Fundação Athos Bulcão?

Valéria: É um misto de emoção e surpresa. Quando você luta e espera por uma coisa durante 16 anos, você recebe e fica meio incrédulo. Mas, em todo caso, é uma maravilha saber que a gente vai poder, finalmente, construir esse pré-projeto que o Lelé fez com tanto carinho para o Athos. Eles são tão parceiros. Eu acho que juntar eles dois outra vez, para disponibilizar para esta cidade — e não só para nós que moramos aqui, mas para as crianças que estudam, para os turistas —, é uma obra tão bonita. É sempre uma honra e um prazer.

Em que consiste esse teatro, esse monumento para Athos Bulcão?

Haroldo: Na verdade, é a materialização do programa de necessidade, da ideia que a Valéria passou para o Lelé. Ele organizou o espaço disponível dentro das necessidades já bem testadas da fundação, nas suas sedes provisórias. E agora tem um detalhe interessante. Antes de entrar no edifício, aquela obra da galeria, que tem aquela longa marquise, é uma obra projetada pelo Oscar Niemeyer. O Lelé detalhou a longa marquise. Então, esse edifício vem complementar uma das primeiras obras culturais da cidade, iniciada antes mesmo da inauguração. Agora, internamente, tem uma pequena área administrativa, um espaço bastante generoso para uma exposição permanente sobre a obra do Athos. Tem um outro espaço também bem iluminado para a promoção de novos artistas, de novas personalidades aqui da região ou de fora. Além de algo que a Valéria se preocupa e incentiva muito, que é o espaço para receber crianças, fazer exercícios, incentivar a arte desde os primeiros estudos. E há também o auditório, que eu acredito que vai movimentar muito durante todo o dia e toda semana, com um pequeno café, a loja tradicional dos objetos do Athos Bulcão. Então, eu penso, como cidadão de Brasília, que complementa o conjunto de edificações singelas, mas dedicadas a essas pessoas que fizeram a cidade. 

Quais são os caminhos agora para a gente ver esse prédio sair do papel, porque a concessão é por 35 anos, mas a obra tem que ser feita em cinco anos? 

Valéria: Para mim, é muito dinheiro, porque nós, na Fundação Athos Bulcão, não temos nem sombra disso. Mas, de qualquer forma, nós fizemos algumas visitas, então, tivemos apoio de parlamentares. Então, a gente tem a senadora Damares Alves (Republicanos), a senadora Leila Barros (PDT), a deputada federal Erika Kokay (PT), o apoio da Câmara Legislativa, o BRB, que nos prometeu não só um aporte financeiro, mas também nos ajudar. E nós temos também promessas de empresários que se prontificaram. De qualquer forma, Brasília tem um empresariado grande, que, de uma forma geral, também, não é muito afeito a grandes mecenatos. Mas, quem sabe, em prol de Athos Bulcão, em prol de uma cidade que eles amam, que eles constroem, na qual vivem. Bom, eu tenho essa esperança, mas enfim, como essa sanção acabou de acontecer, confesso que ainda estou começando as minhas novas visitas às mesmas pessoas com as quais eu falei. Mas a deputada Erika Kokay, por exemplo, acha que é viável uma emenda de bancada. E ela diz que, para uma emenda de bancada, R$ 8 milhões é pouco.

A estimativa é de que seriam necessários de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões. De onde que pode vir esse dinheiro? 

Haroldo: Essa é uma obra de grande interesse público. Acredito que os nossos representantes e as autoridades administrativas terão inteligência e nobreza de espírito para auxiliar a Valéria Cabral nessa luta dela e dos que a antecederam na condução da fundação por 33 anos. Eu sei que, para essas pessoas, não é grande dificuldade quando há interesse. E tem que se entender que Brasília é uma joia da criação brasileira. São esses edifícios que interessam aos estrangeiros. Então, eu ainda acredito na boa vontade, na inteligência, no interesse dessas pessoas que administram nossa cidade. 

Que salto essa sede propiciará nas ações que a Fundação desenvolve de preservação, de difusão e até de recriação?

Valéria: Então, eu consegui criar um espaço para as oficinas, para as palestras. Isso a gente vai ter permanente, porque, como eu disse, o Athos é matéria obrigatória na quinta série do ensino fundamental, e a gente recebe muita escola. Então, quando a gente consegue ser selecionado no edital do FAC, nós trabalhamos com uma média de 30 escolas no ano. E a gente manda o ônibus, oferece a arte educadora, o lanche, as crianças visitam duas obras para ver a arte do Athos aplicada. E ainda vão para casa e levam o seu azulejo. Quer dizer, para uma criança, isso é da maior importância. Não só pelas crianças, pelos adolescentes, pelos admiradores do professor, mas pelo turismo, que, afinal de contas, (Athos) é um homem que está em toda parte. Todo guia turístico que recebe alguém aqui vai ter que falar do Athos, queira ou não queira.

Sobre o Lelé, qual a importância dele como arquiteto no Brasil e até em termos internacionais?

Haroldo: No caso, eles (Athos e Lelé) vieram para Brasília juntos, ao mesmo tempo. O Athos, um pouco mais velho. Moraram muito próximos e fizeram amizade logo no início de Brasília. E, mais adiante, assim como toda obra do Oscar Niemeyer ou do Dr. Lucio (Costa), sempre era reservado um espaço para a integração das artes, e, invariavelmente, havia também a presença do Athos Bulcão. Mais adiante, o Athos acabou se tornando um parceiro persistente e necessário na obra do Lelé. Qualquer obra. O Lelé se dedicou muito a obras com programas de caráter mais social, escolas, creches, hospitais, postos de saúde, passarelas. Coisas úteis e necessárias. Então, independentemente do custo, do local, se é na capital, se é no interior, se é para o papa inaugurar, houve uma aproximação muito estreita entre um artista e um arquiteto na vida desses dois. Em todo lugar que vai, tem a presença dos dois. Complementares.

Veja o podcast:

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postado em 08/07/2025 05:00
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