Entrevista

"Colonoscopia salva vidas", afirma médico especialista

Ao CB.Saúde, o cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Anchieta Landwehrner Lucena explicou que um exame simples pode prevenir câncer colorretal, doença que vitimou Preta Gil

O cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Anchieta Landwehrner Lucena em entrevista ao CB.Poder fala sobre o câncer colorretal. Na bancada, as jornalistas Carmen Souza e Paloma Oliveto -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Anchieta Landwehrner Lucena em entrevista ao CB.Poder fala sobre o câncer colorretal. Na bancada, as jornalistas Carmen Souza e Paloma Oliveto - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O câncer colorretal tem crescido entre pessoas mais jovens. A cantora Preta Gil, que faleceu no último domingo (20/7), após uma batalha contra a doença, usou sua visibilidade para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e da prevenção. Um dos principais aliados nessa luta é a colonoscopia — exame ainda cercado de tabus, mas necessário para detectar e tratar precocemente o que pode evoluir para câncer. No CB.Saúde — parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense — desta quinta-feira (24/7), o cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Anchieta Landwehrner Lucena destacou às jornalistas Carmen Souza e Paloma Oliveto a importância da colonoscopia. Ele disse como funciona o exame e alertou sobre os sinais de risco que não devem ser ignorados.

O que é a colonoscopia?

A colonoscopia é um exame fundamental na prevenção do câncer colorretal. Ela tem a capacidade não apenas de prevenir o câncer, mas também de tratá-lo. Durante o exame, conseguimos identificar pólipos — que são pequenos ajuntamentos de células que formam tipo pequenos caroços na parede do intestino. Esses pólipos podem, ao longo de 10 a 15 anos, se transformar em câncer. O grande benefício da colonoscopia é que, ao identificar, conseguimos retirá-los imediatamente. Quando isso acontece, o risco de evolução para câncer é eliminado naquele momento.

A colonoscopia deve ser feita uma única vez ou precisa ser repetida?

A recomendação é que todas as pessoas façam a primeira colonoscopia aos 45 anos. No entanto, quem tem fatores de risco, como histórico familiar de câncer colorretal em parentes de primeiro grau, com diagnóstico antes dos 50 anos, ou síndromes genéticas, deve iniciar a partir dos 35 anos. A frequência com que o exame deve ser repetido depende do resultado inicial. Se não forem encontrados pólipos, a nova colonoscopia pode ser feita em cinco anos. Se forem detectados pólipos, a periodicidade varia: pode ser a cada seis meses, um ano ou dois, dependendo do tipo e do risco de malignidade da lesão.

Todos os pólipos encontrados durante o exame são retirados?

Sim. A colonoscopia permite examinar todo o intestino grosso. Se houver pólipos, conseguimos retirá-los no mesmo procedimento.

Retirar um pólipo significa que o paciente está curado, ou é necessário um tratamento adicional?

Depende do tipo de pólipo. Se ele for benigno, sem sinais de malignidade, a remoção é suficiente. Já se o pólipo apresentar características de tumor maligno, pode ser necessário dar continuidade ao tratamento com cirurgia. Mas a maioria dos pólipos retirados são benignos, e a remoção acaba com as chances de se tornarem um câncer.

Qual é o preparo necessário para fazer a colonoscopia?

Infelizmente, ainda existe muito preconceito e medo em relação ao exame, o que dificulta a adesão, principalmente entre os homens. Mas a colonoscopia evoluiu bastante. Antes era feita com o paciente acordado, com aparelhos desconfortáveis. Hoje, é realizada com sedação. O paciente dorme durante o procedimento e não sente dor. A parte mais difícil continua sendo o preparo intestinal, que precisa ser feito na véspera ou na manhã do exame. É preciso tomar uma medicação que provoca diarreia para limpar completamente o intestino. Se o preparo não for bem feito, não conseguimos visualizar a mucosa adequadamente e, muitas vezes, o exame precisa ser repetido. 

Fazer o preparo na clínica facilita?

Com certeza. Alguns pacientes, especialmente idosos ou pessoas com comorbidades, têm mais dificuldade em fazer o preparo sozinhos em casa. Nesses casos, é possível interná-los na véspera para que o preparo seja feito com acompanhamento médico. Isso reduz riscos como desidratação e garante maior segurança. A maioria dos pacientes, no entanto, consegue realizar esse processo em casa sem problemas.

Como é o procedimento da colonoscopia em si?

O exame é rápido, dura cerca de 15 minutos. A recuperação também é simples. Após o exame, o paciente fica cerca de cinco minutos em observação, se alimenta e já pode ir para casa.

É necessário fazer o exame com urgência ou pode esperar?

A urgência é fundamental. O fato de os pólipos levarem anos para se transformar em câncer não significa que devemos adiar o exame. A Preta Gil, por exemplo, foi diagnosticada aos 48 anos. Não podemos postergar esse cuidado.

Tem-se falado sobre o aumento do câncer colorretal em pessoas mais jovens. Isso é real?

Sim, é uma realidade preocupante. Antes, a recomendação era iniciar a colonoscopia aos 50 anos, mas isso mudou para 45 e, provavelmente, vai cair para 40 em breve. O câncer colorretal tem aumentado entre os jovens, e isso tem relação com o estilo de vida atual, como consumo excessivo de ultraprocessados, carne vermelha, sedentarismo, tabagismo e obesidade. A estimativa é de que, nos próximos anos, o Brasil registre 40 mil novos casos da doença por ano em pessoas mais jovens. Por isso, a prevenção e a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, especialmente na alimentação, são necessários.

Veja a entrevista na íntegra:

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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postado em 25/07/2025 05:00 / atualizado em 25/07/2025 19:27
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