Entrevista

"Paciente pode ter alta no mesmo dia após cirurgia no pulmão", diz cirurgião

Ao CB.Saúde, o cirurgião torácico e diretor do Hospital Brasília, Julio Mott, falou dos avanços relacionados à prevenção e ao tratamento do câncer no pulmão, com cirurgia que permite ao paciente retornar no mesmo dia para casa

 14/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF -  Julio Mott,  cirurgião torácico e diretor do Hospital Brasília, é o entrevistado do CB.Saúde -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
14/08/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Julio Mott, cirurgião torácico e diretor do Hospital Brasília, é o entrevistado do CB.Saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Laíza Ribeiro*

O cirurgião torácico e diretor do Hospital Brasília Julio Mott comentou sobre os avanços na descoberta e no tratamento do câncer de pulmão no CB.Saúde — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ele destacou a importância da prevenção e do diagnóstico precoce por meio de exames, em especial, para pessoas com histórico de tabagismo. "Cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao fumo", explicou Julio, que também alertou sobre o uso de vapes, principalmente pela comunidade mais jovem.

Quais os sinais de alerta para o câncer de pulmão?

O câncer de pulmão, na maioria das vezes, não dá sintomas nas fases iniciais. Ele começa a se manifestar quando está em um estágio mais avançado. Os sintomas mais comuns são tosse persistente, falta de ar, dor no peito, perda de peso inexplicável e, em alguns casos, escarro com sangue. O problema é que esses sinais, muitas vezes, aparecem quando a doença está mais desenvolvida. Por isso, para pacientes de risco, como fumantes e ex-fumantes, a recomendação é fazer acompanhamento regular e exames de rastreamento, como tomografia de baixa dose.

Qual é o impacto do diagnóstico precoce? 

Quando conseguimos identificar o tumor pequeno, localizado, temos chance de curar o paciente, muitas vezes, com cirurgia e sem necessidade de outros tratamentos. Infelizmente, no Brasil e no mundo, a maioria dos diagnósticos ainda acontece em estágios avançados, quando há metástase ou a doença está muito disseminada. Nesses casos, não falamos mais de cura, mas sim de controle da doença. Por isso, o rastreamento é tão importante, especialmente para quem tem histórico de exposição ao tabaco. 

O tabagismo ainda é o principal causador da doença?

Cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados diretamente ao tabagismo. O cigarro contém mais de 70 substâncias comprovadamente cancerígenas. Elas danificam o DNA das células pulmonares, facilitando a formação do câncer. E não existe "uso seguro" — mesmo quem fuma pouco ou só socialmente está exposto a riscos. O ideal é não fumar nada e, para quem fuma, buscar ajuda para parar o quanto antes. 

E qual é a visão sobre os cigarros eletrônicos e os vapes?

Existe uma falsa percepção de que o cigarro eletrônico é seguro ou de que ele pode ser usado como método para parar de fumar. Ele também libera substâncias tóxicas, como metais pesados e compostos voláteis, que provocam inflamação pulmonar e podem aumentar o risco de câncer no longo prazo. O vape tem apelo muito grande para jovens, com sabores adocicados e marketing atrativo, e isso preocupa porque estamos formando uma nova geração de dependentes da nicotina. Todos os componentes no vape causam câncer. Se fizermos uma pesquisa in vitro, não tem nenhum dado científico falando que o vape causa câncer. Mas, precisamos de um tempo de exposição para que todo esse processo, essa cascata aconteça. Eu não tenho dúvida de que, nos próximos anos, esses garotos vão começar a ter câncer de pulmão. Ainda não vemos os casos de câncer, mas podemos observar que já existem internações por inflamações crônicas, um comprometimento pulmonar significativo. Quem fuma vape, fuma mais — pode fumar em todo lugar. 

O que mudou no tratamento nos últimos anos e como a cirurgia evoluiu?

A chance de cura do câncer de pulmão se relaciona diretamente com o momento no diagnóstico. A gente chama de precoce quando ele tem até 3cm e quando não tem em volta dele nenhum sinal de disseminação. Quando a gente faz a cirurgia correta, o paciente tem uma sobrevida em 5 anos de até 80%, ou seja, existe chance real de cura. Há 26 anos, eu fazia uma torocotomia — que era um corte do peito até as costas em 30cm — e o paciente ficava internado por quase 15 dias com dois drenos no tórax, um mês para conseguir voltar ao trabalho. Hoje, a gente consegue fazer uma cirurgia do pulmão minimamente invasiva ou por vídeo ou por robô. A depender da lesão do pulmão é possível fazer a incisão por agulha e queimar esse tecido e o paciente vai para casa no mesmo dia. A pessoa consegue viver absolutamente normal em qualquer uma dessas cirurgias.

*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti

 


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CB
postado em 15/08/2025 02:00
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