
Bruna Teixeira*
Um ataque de cães na última quarta-feira (20/8), em Ceilândia, acendeu o alerta sobre os riscos causados pela população de animais em situação de rua no Distrito Federal. A vítima, Cláudia Gomes de Menezes, 49 anos, foi cercada por mais de seis cachorros no momento em que atravessava uma pista no Setor O. "Eles me derrubaram no chão e me morderam muito. Um deles tentou pular no meu pescoço, mas coloquei o braço na frente. Levei seis pontos no antebraço", contou.
Além do ferimento, Cláudia sofreu mordidas nas pernas, joelho, ombro e arranhões nas costas e nos braços. O resgate só foi possível graças à intervenção de um motorista, identificado como Rodrigo Anjo, que avançou com o carro para dispersar os animais e chamou o socorro. Em suas redes sociais, ele contou que, ao ver a situação, não pensou duas vezes. "Eu só comecei a buzinar e joguei o carro no canteiro para tentar ajudá-la", afirmou.
Cláudia foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde recebeu vacina contra tétano e medicação para dor. Ela vai tomar seis vacinas contra a raiva, para evitar a contaminação pela doença após o ataque.
A filha da vítima, Emilli Gomes, relatou o impacto emocional do episódio e lembrou outros ataques de cães na família. "Nossa cachorrinha, a Poli, morreu após ser atacada por cães em situação de rua, e eu fui mordida por um cachorro, aqui na rua de casa, quando voltava da academia", disse. Ela criticou a falta de controle sobre os animais abandonados e alertou para os riscos futuros. "Esses cachorros saem juntos e atacam qualquer um. Sabemos que eles não têm culpa, porque são animais, mas é muito preocupante."
Cláudia destacou que a situação vai além das marcas físicas. "Não consigo mais ver cachorro sem me sentir mal. Aqui em Ceilândia tem muitos cães soltos. Cada dia aparece mais e ninguém faz nada", criticou.
A Secretaria de Proteção Animal (Sepan) alegou que, assim que foi notificada do ataque, designou uma equipe técnica para ir ao local e avaliar a situação. De acordo com o órgão, a partir do levantamento realizado pela vistoria, serão definidas medidas necessárias para garantir a segurança da população e o manejo adequado dos cães.
Aumento de casos
Dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) revelaram um aumento de 42% nos casos de ataques de cães, entre 2021 e 2024 (veja quadro). Nesse período, Ceilândia registrou o maior número de casos, com 81 registrados.
A protetora de animais Jana Beraldo explicou que a medida mais eficiente para combater o aumento do número de animais em situação de rua é a castração. "Isso não gera resultados de curto prazo, mas já está comprovado, pelos países que chegaram à erradicação total ou parcial dos animais em situação de rua, que é a alternativa mais eficaz a médio e longo prazo", esclareceu.
O Projeto de Castração e Adoção de Pets (Castra-DF) oferece o procedimento de forma gratuita para cães e gatos do DF. Apesar do projeto não ser voltado para animais desabrigados, a castração pode ser realizada nos animais que têm acesso às ruas para prevenir a procriação.
A protetora recomenda sempre andar atento aos arredores e, se visualizar uma matilha, não seguir em direção a ela, pois os animais podem entender essa atitude como um confronto. Além disso, é importante não passear com cães soltos e nunca tentar correr, pois isso ativa o instinto de caça deles.
Outra ocorrência
No último mês, outro caso de ataque animal ocorreu no DF. Uma mulher de 40 anos foi ferida por uma matilha de cães na Vila Planalto, após sair para correr de manhã. A vítima fraturou o pulso e sofreu mordidas nas regiões das panturrilhas, coxas e nádegas.
Número de casos
REGIÃO ADMINISTRATIVA 2021 2022 2023 2024 TOTAL
Ceilândia 16 25 19 21 81
Plano Piloto 13 10 25 24 72
Samambaia 14 13 14 21 62
Planaltina 13 12 15 12 52
Taguatinga 16 16 7 12 51
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho
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