Entrevista

'Anistia é absolutamente inadequada', opina o deputado Rodrigo Rollemberg

Ao CB.Poder, Rodrigo Rollemberg, deputado federal (PSB-DF), diz que perdoar o ex-presidente Jair Bolsonaro e demais envolvidos no projeto de golpe de Estado "aumentaria a polarização e seria um sinal ruim de impunidade"

O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB/DF) foi entrevistado pelas jornalistas Ana Maria Campos e Denise Rothenburg no CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. O parlamentar afirmou que o debate a respeito da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro e os golpistas do 8 de Janeiro é "absolutamente inadequado e inoportuno". "Temos que pautar temas que sejam de interesse da população brasileira", frisou.

Com a possibilidade do projeto de anistia ir ao plenário, o senhor acredita que teriam votos suficientes para aprovação?

Eu acho que seria bem dividido, difícil fazer uma previsão do resultado. Hoje, temos uma declaração do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, na imprensa, que pode dificultar o avanço do projeto na Câmara. Ele disse que não votará uma anistia ampla, geral e irrestrita. Ou seja, ele faria uma proposta de projeto de anistia, mas excluindo o núcleo dirigente — o ex-presidente Jair Bolsonaro e as pessoas que estavam no grupo político que planejou o golpe. Então, acredito que isso torna o tema mais fragilizado.

A aprovação da anistia poderia trazer uma certa pacificação ao país?

Uma anistia, neste momento, iria tocar fogo no país. Essa medida aumentaria muito a polarização que estamos vivendo e seria um sinal ruim de impunidade. O que aconteceu foi muito grave, temos provas robustas, apresentadas pelo procurador-geral Paulo Gonet, de que foi criado um plano para matar o presidente, o vice-presidente, o ministro do Supremo Tribunal e implantar uma ditadura no Brasil. Vamos passar uma borracha nisso tudo e achar que com isso vamos estar pacificando o Brasil? Não, isso será um sinal de que temos impunidade e podemos fazer outras vezes. Portanto, acredito que é absolutamente inadequado e inoportuno pautar esse tema no Congresso. Temos que pautar temas que sejam de interesse da população brasileira.

Existem boatos de que o centro da política não quer a prisão de Bolsonaro, apenas que ele permaneça inelegível. O senhor acredita que é possível chegar a esse acordo no Congresso?

Percebemos que há uma divisão na direita em função desse tema. O próprio Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo, do Republicanos) foi muitas vezes atacado, desmoralizado e enfraquecido por declarações de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos — diga-se de passagem, é um total absurdo a Câmara ainda não tê-lo cassado. A declaração do Tarcísio, que, na eventualidade de ser presidente, daria um indulto ao (Jair) Bolsonaro no primeiro dia, gerou grande desgaste para ele. E existe também uma parcela da direita mais responsável, digamos, a direita democrática, que não quer Bolsonaro como candidato. No meio de toda essa pressão pela anistia, existem vários interesses contraditórios. Na hora que for definido o escopo do projeto dessa anistia, as divergências vão começar a aparecer.

Qual é a prioridade para os próximos um ano e meio de mandato?

Eu quero trabalhar na questão do empreendedorismo. É um tema que está crescendo muito e mudou o mercado de trabalho do Brasil nos últimos anos. Temos que dar uma atenção especial para isso, para o microempreendedor individual (MEI), para a microempresa, para a pequena empresa. Isso pode contribuir para impulsionar a nossa economia de baixo para cima. Nesse sentido, apresentei um projeto que amplia os limites do MEI, que hoje tem faturamento de até R$ 81 mil por ano, para R$ 120 mil por ano, e o reajuste anual pelo IPCA para garantir segurança jurídica, para aquele que amplia um pouco o seu faturamento possa trabalhar com tranquilidade. Em torno de 15 milhões de pessoas no Brasil e em torno de 207 mil pessoas no Distrito Federal serão beneficiadas com o aumento desse limite.

Qual é a proposta da emenda que o senhor acrescentou à Lei de Diretrizes Orçamentárias?

Essa foi uma reivindicação dos reitores e estudantes dos institutos federais de ensino. Hoje, são milhões de alunos em todo o Brasil, essa rede cresceu muito no Distrito Federal e não existe uma rubrica especial no orçamento para financiar a alimentação escolar. Hoje, o atendimento é muito bom para as universidades federais, como a Universidade de Brasília, mas institutos federais não recebem o mesmo tratamento. A ideia é que os institutos tenham seus bandejões. É importante ressaltar que grande parte dos estudantes do ensino técnico, tecnológico e científico, são pessoas carentes, que precisam dessa alimentação, que certamente vai contribuir para a melhoria do desempenho escolar. Então atendemos essa demanda e apresentamos a emenda na LDO.

*Estagiária sob supervisão de Patrick Selvatti

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