INTOXICAÇÃO

Metanol: saiba como a substância é comercializada no Brasil

Produto químico altamente tóxico, usado em biodiesel e solventes, pode estar sendo destinado a combustíveis e bebidas alcoólicas de forma irregular

O metanol, produto químico altamente tóxico, voltou a ser alvo de atenção no país após denúncias de uso irregular em combustíveis e até em bebidas alcoólicas -  (crédito: Agência Brasil)
O metanol, produto químico altamente tóxico, voltou a ser alvo de atenção no país após denúncias de uso irregular em combustíveis e até em bebidas alcoólicas - (crédito: Agência Brasil)

O metanol, produto químico altamente tóxico, voltou a ser alvo de atenção no país após denúncias de uso irregular em combustíveis e até em bebidas alcoólicas. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), há indícios de desvio do metanol importado para fins irregulares.

Atualmente, o Brasil não produz metanol — todo o insumo comercializado no território nacional é importado. Para trazer o produto do exterior, é necessário ter um CNPJ e obter autorização da ANP, que acompanha cada carga por meio de licenças de importação. O órgão também fiscaliza o destino do produto, com atenção especial às distribuidoras de solventes — empresas que comercializam substâncias químicas usadas em indústrias como a de tintas e cosméticos — e às usinas de biodiesel, que utilizam o metanol como insumo no processo de fabricação do combustível.

Em alguns casos, o órgão chegou a revogar autorizações de usinas de biodiesel e de distribuidoras de solventes após identificar compras de volumes muito acima do necessário para a produção declarada. Para aumentar a transparência, foi criado o Painel de Monitoramento de Metanol na Produção de Biodiesel, que permite acompanhar a compatibilidade entre o insumo adquirido e a quantidade de biodiesel fabricada.

Segundo a resolução 987/2025, as empresas com autorização da ANP para a importação desse tipo de produto devem detalhar, mensalmente, a quantidade de metanol comprada e também à sua destinação. 

Embora seja semelhante ao etanol em aparência e aplicação, o metanol pode causar cegueira e até a morte quando ingerido. A endocrinologista Fernanda Parra explica que existe uma diferença significativa entre o impacto metabólico do etanol, presente nas bebidas alcoólicas comuns, e o de substâncias adulterantes, como o metanol. “O etanol já é tóxico em excesso, podendo causar sobrecarga hepática, pancreatite e hipoglicemias, mas o organismo possui mecanismos de metabolização adaptados a ele”, afirma. No caso do metanol, mesmo pequenas quantidades podem provocar lesões irreversíveis. “Enquanto o etanol é metabolizado em acetaldeído e ácido acético, o metanol é convertido em ácido fórmico, que podem levar à falência de órgãos e até à morte”, alerta.

A preocupação também é compartilhada por entidades do setor. Paulo Tavares, presidente do Sindicombustíveis-DF, lembra que a presença irregular do produto já foi registrada em postos de combustíveis de São Paulo, com consequências graves. “O etanol não é nocivo, mas o metanol mata. Em Campinas e em cidades do interior paulista, moradores de rua consumiram combustível vendido em postos e morreram. Houve ainda relatos de frentistas que ficaram cegos após contato com o produto”, afirma.

O dirigente explica que o problema pode estar ligado ao crime organizado, que aproveita a diferença de tributação entre os dois produtos: enquanto o etanol sofre incidência média de 18% de ICMS, o metanol paga apenas 4%. “Essa diferença de 14% é o ganho usado para lavagem de dinheiro no mercado irregular. O metanol é colocado no lugar do etanol em combustíveis e, mais recentemente, há suspeitas de uso também na fabricação de bebidas alcoólicas”, alerta Tavares.

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A ANP afirma que tem reforçado parcerias com órgãos públicos e até com plataformas digitais para coibir a venda ilegal do insumo, como no caso de anúncios identificados em sites de comércio eletrônico. A agência também intensificou a fiscalização em postos de combustíveis para evitar que consumidores sejam expostos aos riscos apresentados pela substância.

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postado em 02/10/2025 17:11
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