STALKING

Médica brasiliense relata quatro anos de perseguição de paciente

Caso começou após duas consultas em 2019 e levou a medidas judiciais, internação compulsória e desrespeito a medidas protetivas

Médica brasiliense relata quatro anos de perseguição de paciente e alerta sobre riscos da exposição nas redes sociais -  (crédito: Reprodução Redes Sociais)
Médica brasiliense relata quatro anos de perseguição de paciente e alerta sobre riscos da exposição nas redes sociais - (crédito: Reprodução Redes Sociais)

A médica brasiliense Laura Campos usou as redes sociais para relatar um caso de stalking que enfrenta há quatro anos. A perseguição começou após ela atender um paciente em 2019 e, segundo a profissional, se intensificou dois anos depois, em 2021. Desde então, ela diz viver sob constante medo e alerta, mesmo após recorrer à polícia, à Justiça e adotar diversas medidas de segurança.

Tudo começou quando o homem passou a mandar mensagens pelas redes sociais. No início, eram mensagens inofensivas, mas logo o comportamento se tornou insistente e invasivo. “Ele me mandou uma mensagem dizendo que eu quase tinha batido nele na primeira consulta e que na segunda fui cordial. Eu não entendi o que ele queria dizer, pedi desculpas e segui minha vida. Depois vieram mensagens estranhas, e uma delas dizia: ‘Não precisa ter medo de mim. Só estou usando das suas fraquezas para chamar sua atenção’”, relatou Laura. Após o episódio, ela bloqueou o perfil do homem.

Pouco mais de um mês depois, ele apareceu pessoalmente em seu consultório, levando presentes. “Ele disse que veio me trazer uma roupa de ciclista e outros objetos. Eu fiquei paralisada, sem reação. A sorte é que uma paciente chegou e uma colega conseguiu tirá-lo da clínica”, contou. O homem chegou a deixar óculos, ferramentas e outros itens no local — objetos que permitiram à médica e à polícia identificá-lo pelo CPF na nota fiscal.

A partir daí, começaram as tentativas legais de proteção. Laura registrou boletim de ocorrência na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e pediu o bloqueio de acesso do homem ao prédio, mas ele voltou a aparecer dias depois. “Eu vi o quanto a gente está desprotegida. Mesmo com boletim, medidas protetivas e tornozeleira eletrônica, ele sempre dava um jeito de se aproximar”, disse.

De acordo com a médica, o agressor foi preso e passou por internações compulsórias, determinadas pela Justiça, mas as perseguições nunca cessaram completamente. “Ele tem um delírio amoroso, acredita que temos uma relação. Mesmo internado algumas vezes, quando sai, volta a me procurar”, contou.

Por medo, Laura mudou o local de trabalho e evita divulgar informações pessoais nas redes sociais, como horários e endereços. Ela também afirma ter deixado de atender por um período e passou a adotar medidas de autoproteção, como portar spray de pimenta. 

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o crime de perseguição, conhecido como stalking, foi tipificado em 2021 pela Lei nº 14.132/2021. A prática consiste em atos reiterados que invadem a privacidade da vítima e causam medo, abalo psicológico e restrição de liberdade. A lei prevê aumento de pena quando o crime é cometido contra mulher por razões de gênero. A perseguição pode ocorrer tanto presencialmente quanto virtualmente — e não depende de uma relação íntima entre autor e vítima.

Hoje, o homem está internado de forma compulsória, por ordem judicial, mas Laura ainda afirma não se sentir segura. “Por mais que tenha acionado todos os meios legais possíveis, me sinto desprotegida”, afirmou.

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Ao decidir contar sua história, a médica diz querer alertar outras mulheres sobre os riscos da exposição excessiva e sobre a dificuldade de obter proteção efetiva. “Se alguém está sendo insistente demais, isso não é carinho — é um sinal de alerta. A gente não tem culpa por ser vítima, mas precisa se proteger”, concluiu a médica.

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postado em 15/10/2025 11:45
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