VIOLÊNCIA

Coração dilacerado: a ferida aberta pela morte de Isaac Vilhena

Desde as primeiras décadas e agora nesse início da segunda metade de século de existência, crimes brutais marcaram as páginas do jornal e as quadras do seu Plano Piloto

Se, ao passarmos por um parque, o primeiro pensamento que vier à mente for sobre o crime que ocorreu ali, é porque o modelo falhou, e quem perde somos todos nós -  (crédito:  Giovanna Kunz CB/DA Press. )
Se, ao passarmos por um parque, o primeiro pensamento que vier à mente for sobre o crime que ocorreu ali, é porque o modelo falhou, e quem perde somos todos nós - (crédito: Giovanna Kunz CB/DA Press. )

Tantas vezes exaltamos as qualidades da Brasília que habita nossas memórias e nossos sentimentos mais alegres. Aquela que vivemos nas temporadas de seca e nos chuvosos outubros. A que certa vez ficou coberta de neve, e a que agora se alegra com o laranja dos flamboyants.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

Mas há um lado doloroso que insiste em perseguir nossa capital. Desde as primeiras décadas e agora nesse início da segunda metade de século de existência, crimes brutais marcaram as páginas do jornal e as quadras do seu Plano Piloto. Para ser uma cidade modelo, é preciso também ser exemplo, merecer reverência e ser alvo do orgulho de seus moradores. 

Se, ao passarmos por um parque, o primeiro pensamento que vier à mente for sobre o crime que ocorreu ali, é porque o modelo falhou, e quem perde somos todos nós. Arrastamos conosco também um país inteiro que depositou confiança e envidou esforços às vezes sobrehumanos para que seus edifícios fossem erguidos.

Não é normal que adolescentes matem por causa de um celular. A vida não é banal. Muito menos uma vida tão jovem quanto a de Isaac Vilhena. Ele praticava esporte no parque que amava, ao lado de sua casa, perto de seus pais e irmãos, na companhia de amigos de escola, quando foi vítima da violência. E qualquer violência desse tipo é uma falha incontestável.

Quando os pais de Isaac falarem, eles precisam ser ouvidos. Sua dor, inimaginável, deve ser aplacada com ações concretas. Dizer basta à violência é dizer sim à educação, sim ao humanismo, sim às cidades que se conectam com seus habitantes e com suas periferias, de forma humana e responsável.

O Parque Maria Cláudia Del'Isola foi inaugurado há poucos anos, em um vazio que gritava entre as quadras 112 e 113 Sul. Ganhou o nome da jovem que foi violentada, assassinada e teve o corpo escondido dentro da própria casa, e se tornou uma homenagem a ela e a todas as vítimas de violência em Brasília, graças à força da mãe, Cristina Del'Isola.

Recordo-me até hoje da angústia da família à procura da menina. Ela tinha quase a minha idade, e seu pai era diretor na escola em que eu estudava. Sua morte foi um golpe, deixou o sentimento de vulnerabilidade e de medo. 

O assassinato de Isaac, no último 17 de outubro, no parque que leva o nome de Maria Cláudia, é um novo golpe. A sensação que me toma é mais uma vez de impotência e, principalmente, de revolta. Fui ao inferno pela segunda vez, como cantou Renato Russo. Coração dilacerado, penso nos meninos e meninas desta cidade. Que Brasília entregaremos a eles?

 

  • Google Discover Icon
postado em 20/10/2025 11:20 / atualizado em 20/10/2025 11:27
x