O falecimento de José de Paiva Netto, presidente da Legião da Boa Vontade (LBV) e fundador do Templo da Boa Vontade (TBV), comoveu fiéis e peregrinos do DF que, ao longo dos anos, encontraram em sua obra espiritual uma fonte de fé, conforto e inspiração. O líder, de 84 anos, morreu na madrugada desta terça-feira (7/10), no Rio de Janeiro.
No Templo da Boa Vontade, na Asa Sul, monumento fundado por ele em 1989 e reconhecido como uma das Sete Maravilhas da capital, a movimentação foi marcada por emoção e homenagens. Fiéis e frequentadores se reuniram para orar e relembrar os ensinamentos do “irmão Paiva”, como era carinhosamente chamado.
A secretária executiva, Lina do Nascimento de Silva Santos, de 51 anos, é voluntária do coral do templo e se emocionou ao recordar as mensagens de fé deixadas por Paiva Netto. “Falar dele é como falar de um pai ou de um amigo bem próximo. Mesmo quando não estava fisicamente presente, era como se ele sempre tivesse algo bom para nos dizer. Em momentos difíceis, uma oração ou uma mensagem dele vinha como um abraço espiritual”, contou ao Correio, com lágrimas.
Para Lina, o maior legado deixado pelo líder é o sentimento de força e esperança. “Ele sempre nos lembrava de que Jesus, o Divino Amigo, nunca nos abandona. O irmão Paiva nos ensinou que somos capazes de vencer qualquer obstáculo quando temos fé. Ele era o tipo de pessoa que dizia: ‘Levanta, você consegue’. E a gente acreditava”, completou, com a voz embargada.
A radialista aposentada Regina Maria dos Santos, 69, frequenta o templo desde sua construção e define o local como um refúgio espiritual. “Aqui eu encontro a paz que o mundo lá fora às vezes nos tira. Já cheguei muito angustiada, com dores da alma, e bastava caminhar pela espiral, ouvindo as músicas e as orações, para sentir um equilíbrio que só esse lugar proporciona”, relatou.
Segundo ela, o maior ensinamento de Paiva Netto foi o respeito às diferenças. “O Templo da Boa Vontade representa a convivência entre todos os povos, credos e pensamentos. Ele mostrou que todos somos filhos de Deus, mesmo aqueles que não acreditam”, destacou.
Entre os frequentadores mais jovens, o sentimento também é de gratidão. Marcos Dutra, 35, conta que tem uma ligação com o TBV desde antes de nascer. “Minha mãe veio à inauguração grávida de mim, então posso dizer que já estive aqui ainda no ventre dela”, contou.
“Desde criança participo das aulas de moral ecumênica e dos grupos musicais. Agora trago meus dois filhos para viver essa mesma experiência de fraternidade. O irmão Paiva representa o potencial que todo ser humano tem de realizar o bem e transformar o mundo”, enfatizou Marcos Dutra.
A pregadora ecumênica Maria Helena da Silva também ressaltou o impacto espiritual de Paiva Netto. “Ele foi meu líder espiritual e o responsável pela minha formação religiosa. O Irmão Paiva sempre nos ensinou a aproximar o coração de Jesus, a enxergar o outro como filho de Deus, independentemente de crença ou origem. Ele materializou essa mensagem ao construir o Templo da Boa Vontade, um espaço onde ninguém é julgado, mas acolhido”, afirmou.
O administrador do TBV, Paulo Medeiros destacou a importância da missão deixada por Paiva Netto e relembrou a trajetória pessoal que o conecta ao líder. “Paiva Netto deixa um legado social, educacional e espiritual de ouro. Ele dizia que o Templo da Boa Vontade é o agasalho para o sentimento de todos”, afirmou.
Medeiros acompanhou a fundação do templo desde a juventude. “Eu estava no evento em Minas Gerais, em 1985, quando ele lançou o desafio da construção. Depois participei da pedra fundamental, em 1986, e desde então sigo essa jornada. Trabalhar aqui é uma missão espiritual. Casei aqui, batizei meu filho aqui. Este lugar é parte da minha história e da minha fé”, disse, emocionado.
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Legado
Líder da LBV por quase 70 anos, consolidou a entidade como um dos maiores movimentos humanitários do planeta, com atuação reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Fundador do Templo da Boa Vontade (1989) e criador do Fórum Mundial Espírito e Ciência (2000), Paiva Netto também foi autor de livros traduzidos para mais de 25 idiomas e recebeu diversas condecorações nacionais e internacionais.
O presidente da LBV deixa a esposa, Lucimara Augusta, e os filhos Franklin (in memoriam), Pedro, José Eduardo, Iraci, Tatiana, Alziro e Emmanuel Adolfo, além de noras, genros, netos, bisneto, familiares e amigos.
