Luto

Ação em homenagem a Isaac Vilhena é marcada por comoção e protestos

Neste domingo (19/10), moradores, amigos e familiares prestaram homenagem ao estudante do Colégio Militar Isaac Vilhena, morto a facadas no Parque Maria Cláudia

O Parque Maria Cláudia, na 112/113 Sul, foi tomado pela emoção na manhã deste domingo (19/10). Amigos, familiares e moradores da região se reuniram para homenagear Isaac Augusto de Brito Vilhena de Moraes, de 16 anos, morto a facadas durante um assalto no local na última sexta-feira (17/10). O encontro, realizado às 10h, foi organizado por Cristina Del’Isola, fundadora do Movimento Maria Cláudia pela Paz, com o propósito de “emanar luz ao jovem e transmitir amor solidário à família”.

Cristina é mãe de Maria Cláudia Del’Isola, jovem assassinada em 2004 aos 19 anos, cujo nome batiza o parque. Após o crime, ela transformou o luto em ação e criou o movimento que hoje apoia vítimas de violência e promove a cultura de paz. “Não existem palavras no dicionário que expressem o que sente uma mãe e um pai em um momento como esse. Esse apoio é muito importante”, disse Cristina, visivelmente emocionada.

Entre os discursos mais tocantes estavam os da família. A mãe de Isaac, Jane Vilhena, agradeceu a presença e o carinho de todos. Em meio às lágrimas, lembrou momentos simples e afetuosos: “Ele era grandão e ainda vinha para a minha cama. Desde que o parque foi reinaugurado, ele não saía daqui. Esse lugar era tudo para ele.”

O pai, Lucas Vilhena, abalado, contou que entrou na vida do garoto quando ele tinha apenas três anos e meio. “Quando ele começou a me chamar de pai, ele se tornou meu filho de verdade. Tem meu nome e meu sobrenome”, relatou. Ele também lembrou da filha mais velha, Ana Júlia, a quem Isaac chamava de irmã. “Se ele foi embora ontem, aos 16 anos, foi porque Deus sabia que ele estava preparado. Agradeço a todos que o socorreram naquele momento”, disse. “Peço que se repensem as penas para esses atos, que duram dois ou três anos, enquanto a nossa será eterna”, acrescentou. 

O irmão mais velho, Edson Avelino, também prestou homenagem. Disse que Isaac era muito desejado pela família e que sempre pediu à mãe um irmão para não se sentir sozinho. “Ele estava quase se formando no curso de inglês e queria fazer TI”, contou, emocionado.

Durante a condolência, o clima era de profunda comoção. Mãos dadas, os presentes fizeram um momento de oração com o Pai-Nosso, Ave-Maria e o Canto da Oração pela Paz. Em seguida, foi aberto um momento para quem quisesse prestar tributo ao adolescente. Moradores e amigos lembraram o sorriso, o carisma e o amor de Isaac pelo parque. “Sou morador da 112 Sul e o que aconteceu é um absurdo. Nós que somos pais não podemos aguentar calados”, afirmou um dos presentes. Outra completou: “Um menino do bem, super legal.”

Valeska Valente, mãe de um colega de Isaac do Colégio Militar de Brasília, pediu aos jovens que guardassem as boas lembranças. “Lembrem-se dos momentos felizes que compartilharam com o Vilhena. Falei para o meu filho: toda vez que tiver vontade de chorar, ore por ele e pela família.”

Entre os moradores, o sentimento era o mesmo: incredulidade e tristeza. Luzia Ruiz, aposentada e vizinha de Isaac, acompanhou a homenagem de perto. “Eu fico muito comovida, muito chocada com o que aconteceu com esse menino. Da minha janela, eu via eles jogando na quadra e jamais imaginei que pudesse acontecer isso. Eu, como mãe, não tenho ideia do que possa passar pela cabeça dessa mãe. É muito triste, só Deus pra dar um pouco de paz pra essa família”, contou.

Giovanna Kunz/Correio Braziliense - Cartazes de protesto foram deixados no parque

Luzia também fez um apelo por mais segurança na região. “É bom que a gente peça aos governantes que isso pare agora, que o que aconteceu com o Isaac não se repita. Aqui na 113 e na 112 eu nunca tinha visto nada parecido. Vim do Rio de Janeiro pra cá em busca de tranquilidade, porque lá a violência toma conta. Já passei por assaltos, meu filho também. Aqui era um refúgio, e espero que continue sendo.”

No final, a mãe de Isaac pediu que os amigos do Colégio Militar cantassem o hino da escola. Em seguida, os participantes deram uma volta pelo parque em silêncio, em sinal de respeito, e soltaram balões brancos em homenagem ao estudante. As flores deixadas no local e o silêncio que tomou conta do ambiente mostravam que Isaac, mesmo aos 16 anos, deixou uma marca profunda.

 

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