
Em mais uma das dolorosas tragédias brasileiras, o jovem Isaac Vilhena de Morais perdeu a vida por causa de um telefone celular na capital federal. No início da noite de sexta-feira, o estudante de 16 anos foi golpeado no peito com uma faca por reagir ao assalto promovido de um bando de delinquentes no coração da Asa Sul, bairro de classe média alta em Brasília. Isaac brincava com um amigo "embaixo do bloco", para usar uma expressão tipicamente brasiliense, quando foi abordado pelo grupo. Horas depois do latrocínio, a polícia apreendeu os infratores.
Equipamento eletrônico de uso pessoal, o telefone celular é praticamente uma extensão do corpo do brasileiro. Há mais de 270 milhões de aparelhos em funcionamento, segundo as estatísticas mais recentes. A alta popularidade desse objeto de consumo atrai o interesse de criminosos, na medida em que o telefone celular representa uma possibilidade para a realização de outros crimes: receptação de mercadoria roubada e uma grande variedade de golpes eletrônicos, desde saques de contas bancárias a estelionatos digitais.
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É por causa dessas circunstâncias que os brasileiros, apesar do fascínio em relação aos aparelhos eletrônicos, evitam se expor aos olhos dos bandidos. Segundo pesquisa divulgada na semana passada pelo Datafolha, 60% da população prefere manter o celular guardado quando está fora de casa. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, praticamente 500 mil telefones móveis foram furtados, e outros 419 mil, roubados no ano passado.
Em 2025, um dos casos mais emblemáticos ocorreu em São Paulo. O ciclista Vitor Medrado foi assassinado a sangue frio por uma dupla de assaltantes, de moto. A vítima nem sequer teve tempo de se dar conta do crime. Morreu à queima-roupa, em apenas um instante. Investigações indicaram que os suspeitos fazem parte de uma quadrilha especializada nesse tipo de crime. Ainda segundo o Anuário de Segurança Pública, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará registraram o maior número de ocorrências envolvendo telefones celulares.
Crime contra o patrimônio que muitas vezes pode levar à morte da vítima, a subtração de bens pessoais é um desafio para a segurança pública. Por um lado, as estatísticas indicam uma redução nos casos de roubo e furtos de telefones celulares no Brasil. Por outro, especialistas alertam que a subnotificação é muito grande, o que impede obter um retrato mais preciso da realidade das ruas, além de dificultar o trabalho da polícia, que precisa de dados para executar ações de segurança.
No caso ocorrido em Brasília, há outros fatores que tornam o exame desse episódio trágico mais complexo. Um deles é a ocorrência de crimes em regiões onde, teoricamente, deveria haver mais segurança pública. Trata-se de fenômeno recorrente nas grandes cidades brasileiras. Outro problema é o tratamento penal para menores infratores. Discute-se, mais uma vez, se a legislação em vigor para adolescentes com menos de 18 anos tem sido eficaz ante a realidade que se apresenta nas ruas. E se há políticas públicas capazes de reduzir a ocorrência de tragédias como a que se viu no coração da capital federal.
É dever do Estado e da sociedade, em nome da família de Isaac Vilhena de Morais e de tantas outras golpeadas pela violência urbana, atuar incansavelmente para aplacar tanto sofrimento. Essas ações não trarão de volta as vítimas, mas são fundamentais para o país não assistir mais ao flagelo de jovens serem assassinados por outros jovens, em um ciclo de violência nefasto e inaceitável. A morte não pode ser banalizada; a vida não pode ser reduzida a um telefone celular.
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