Feminicídio

Esperança que virou luto: os detalhes do assassinato de Allany Fernanda, 13 anos

Internada no Hospital de Base, Allany Fernanda, de 13 anos, morreu na madugada de ontem. Foi a segunda vítima de feminicídio menor de 18 anos este ano. O suspeito é Carlos Eduardo Pessoa, 20, que está preso

Adolescente foi vítima de feminicídio no DF -  (crédito: Reprodução Redes Sociais )
Adolescente foi vítima de feminicídio no DF - (crédito: Reprodução Redes Sociais )

Às 22h12 de segunda-feira, a ambulância deixou o Hospital Regional de Ceilândia rumo ao Base. Allany Fernanda, 13 anos, baleada na cabeça, havia reagido bem e, por isso, a transferência soou como ponto de esperança à família. Três horas e trinta e cinco minutos depois, às 1h47 dessa terça-feira (4/11), o silêncio se desfez. Uma mensagem escrita pela família e enviada à reportagem do Correio dava a notícia: "Allany morreu". Ela é a 25º vítima de feminicídio no DF em 2025 — a segunda com menos de 18 anos. O suspeito, Carlos Eduardo Pessoa, 20, teve a prisão preventiva decretada em audiência de custódia.

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Nas redes sociais, uma sequência de homenagens, com fotos e frases parecidas: "Dor, saudade e Justiça." Allany perdeu a vida ao levar um tiro na cabeça disparado por Carlos por volta das 5h20 de segunda-feira, segundo a Polícia Civil (PCDF). O próprio suspeito acionou a Polícia Militar (PMDF). Aos militares, contou uma versão "mentirosa", segundo as investigações. Alegou que um rival teria entrado na quitinete dele com a intenção de matá-lo, mas que o tiro teria acertado a menina por engano.

A delegada à frente do caso, Mariana Almeida, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2), não acredita na versão contada pelo suspeito. Laudos iniciais apontam para marcas de mordidas dadas pela vítima no peito e no braço de Carlos, fatos esses que corroboram para os relatos escutados pelos policiais no local do crime: "Houve luta". Na casa, estava também uma amiga de Allany. O depoimento dela é tratado como ponto-chave, avalia a polícia.

O autor foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada
Carlos Eduardo Pessoa foi preso em flagrante e nega o crime (foto: Cedido ao Correio)

"Ainda estamos apurando o grau de envolvimento entre o autor e a vítima, e que tipo de relação era essa. Não sabemos se ela foi por livre e espontânea vontade à quitinete ou se foi levada à força. Aguardamos os resultados periciais e ouviremos as testemunhas", explicou a delegada Mariana.

Versão contraditória

A casa onde ocorreu o feminicídio comporta outras quitinetes, incluindo a do pai de Carlos. O Correio esteve na residência na segunda-feira. Em poucas palavras, o pai disse ter tomado um remédio para dormir e que não ouviu nada. Na quitinete de Carlos, peritos encontraram o local empoeirado e sujo. Havia apenas dois cômodos e, no quarto, um colchão no chão com manchas de sangue. Foram recolhidas cápsulas de bala, mas a arma de fogo não foi encontrada.

Carlos sustenta a fala de que um rival invadiu a residência para matá-lo, mas o tiro teria acertado Allany. O fato dele mesmo acionar a PM leva os agentes a desconfiarem que a tática foi usada para despistar a polícia e atrapalhar as investigações. Diante das provas colhidas, a PCDF o prendeu em flagrante por feminicídio.

Em audiência de custódia promovida ontem, a Justiça considerou as acusações e decretou a prisão preventiva de Carlos. Ele, que acumula passagens por roubo, tráfico de drogas, receptação e lesão corporal, deve ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda esta semana. Outras informações ainda em apuração levam a crer que ele tem vínculo com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

Luto

Ontem, a família guardou o luto e preferiu ficar em silêncio. A mãe, Ivani Oliveira, 42, afirmou desconhecer o autor e a casa onde a menina foi morta. Em entrevista concedida na segunda-feira, falou que, na sexta-feira, buscou a filha na casa da avó paterna, no Setor O, para ficar com ela durante o fim de semana em Águas Lindas. No sábado, a adolescente disse que precisava voltar para cuidar da avó. "Deixei ela no ponto de ônibus. Quando ela chegou ao Setor O, me ligou e disse ter chegado bem", contou.

No início da noite, ela ligou de novo para a mãe, em videochamada — dessa vez, da casa de uma amiga, em Ceilândia Norte. "Achei que ela dormiria na casa da avó, mas só descobri depois que não dormiu lá", detalhou Ivani. Fontes policiais afirmam que, no momento do vídeo, Allany já estava na quitinete de propriedade de Carlos.

Até o fechamento desta edição, o local e horário do enterro não estavam definidos.

Vítimas de 2025

Dos 24 feminicídios ocorridos no DF — a morte de Allany contabiliza o 25º, mas ainda não foi notificado —, segundo o painel da Secretaria de Segurança Pública, um deles é o de Géssica Moreira de Sousa, 17 anos. Ela foi a primeira adolescente vítima de feminicídio deste ano. O crime ocorreu em 23 de fevereiro.

Géssica Moreira de Sousa deixou duas filhas e estava grávida
Géssica Moreira de Sousa deixou duas filhas e estava grávida (foto: Reprodução redes sociais)

Géssica foi brutalmente assassinada na frente da filha de 2 anos, fruto do relacionamento com o autor, Vandiel Prospero, 24, dentro de uma igreja evangélica localizada no Núcleo Rural da Rajadinha, em Planaltina. O feminicida entrou no templo armado e atirou contra a cabeça da ex-companheira. Depois, fugiu com um comparsa em um carro vermelho. Ele foi preso poucos dias depois pela 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá).

Onde pedir ajuda

» Ligue 190: Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Uma viatura é enviada imediatamente até o local. Serviço disponível 24h por dia, todos os dias. Ligação gratuita.

» Ligue 197: Polícia Civil do DF (PCDF); e-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br; WhatsApp: (61) 98626-1197; site https://www.pcdf.df.gov.br/servicos/197/violencia-contra-mulher

» Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher, canal da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, além de reclamações, sugestões e elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. A denúncia pode ser feita de forma anônima, 24h por dia, todos os dias. Ligação gratuita.

» Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deam): funcionamento 24 horas por dia, todos os dias.

Deam 1: previne, reprime e investiga os crimes praticados contra a mulher em todo o DF, à exceção de Ceilândia.; endereço: EQS 204/205, Asa Sul.; telefones: 3207-6172 / 3207-6195 / 98362-5673; e-mail: deam_sa@pcdf.df.gov.br.

Deam 2: previne, reprime e investiga crimes contra a mulher praticados em Ceilândia; endereço: St. M QNM 2, Ceilândia; telefones: 3207-7391 / 3207-7408 / 3207-7438.

 


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postado em 05/11/2025 06:00
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