
Em uma rua estreita e sem saída do Sol Nascente, a penúltima casa concentrava o vaivém de peritos criminais e papiloscopistas da Polícia Civil na busca por vestígios que ajudassem a elucidar a tentativa de feminicídio cometida contra uma menina de 13 anos. A adolescente — que não terá o nome revelado — levou um tiro na cabeça e segue internada até o fechamento desta edição. O suspeito, Carlos Eduardo Pessoa Tavares, 20, nega o crime. Alegou à polícia que o disparo partiu de um rival, que queria matá-lo.
A casa era desconhecida pelos familiares da menina. A mãe, a dona de casa Ivani Oliveira, 42, afirmou à reportagem nunca ter visto o local, tampouco o suspeito. O imóvel, de portão verde e pichação alusiva à Torcida Facção Brasiliense (TFB), reúne uma sequência de kitnets. Carlos morava em uma delas: dois cômodos, quarto e sala, com puxadinho que servia de cozinha.
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A perícia concentrou os esforços no quarto, onde havia manchas de sangue no colchão estendido ao chão. O boletim de ocorrência registra 5h20 da manhã de ontem como o horário do fato. O acionamento da Polícia Militar ocorreu por volta das 8h. Carlos foi preso em flagrante, e a menina, encaminhada às pressas ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde permanece em estado grave. À tarde, a equipe médica avaliou transferi-la ao Hospital de Base, mas a hipótese foi descartada por risco elevado.
Pistas
Ivani não entende como a filha chegou ao endereço do Sol Nascente. A mãe, o padrasto e os quatro irmãos da adolescente mudaram-se de Ceilândia para Águas Lindas (GO) havia menos de um mês. A menina, no entanto, permaneceu na casa da avó paterna, no Setor O.
Na sexta-feira, Ivani a buscou para ficar com ela durante o fim de semana em Águas Lindas. No sábado, a adolescente disse que precisava voltar para cuidar da avó. "Deixei ela no ponto de ônibus. Quando ela chegou ao Setor O, me ligou e disse ter chegado bem."
No início da noite, ela ligou de novo para a mãe, em videochamada. Dessa vez, da casa de uma amiga, em Ceilândia Norte. "Achei que ela dormiria na casa da avó, mas só descobri depois que não dormiu lá", detalhou Ivani.
Depois disso, a mãe não teve mais notícias. Dormiu com o coração apertado, segundo ela. Um sonho na madrugada, com água limpa, a fez despertar no susto. "Água limpa é dor, morte", disse, emocionada. A triste notícia chegou às 12h. Ela deixou os quatro filhos com uma prima e saiu de Águas Lindas com o companheiro em um transporte por aplicativo rumo ao HRC.
Na visita à UTI, notou sinais de estrangulamento no pescoço da adolescente. O Correio apurou ainda que o suspeito apresentava duas marcas de mordida no peito e no braço. A PCDF pediu perícia para verificar se as marcas correspondem à arcada dentária da vítima.
As marcas parecem ter ligação a um dos relatos ouvidos pelos policiais na casa, de que antes do disparo houve luta corporal. As hipóteses são investigadas pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2).
O Correio esteve na casa e conversou com o pai de Carlos. Em poucas palavras, disse ter tomado um remédio para dormir e não ter ouvido nada. Uma vizinha contou que o suspeito tinha uma namorada. Nas redes sociais dele, há a menção a uma menina, acompanhada de um emoji de aliança de compromisso. O grau de envolvimento entre Carlos e a adolescente também é apurado.
Em depoimento, Carlos alegou que um rival com quem tinha desavença foi o responsável pelos disparos. Afirmou que ele era o alvo, mas o tiro acertou a adolescente. O suspeito passará por audiência de custódia hoje.
Enquanto isso, os familiares anseiam por respostas. "Só quero justiça, independente de qualquer coisa. Precisa pagar pelo que fez. E ela só tem 13 anos. Vai fazer 14 neste mês", desabafou a mãe.
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