CONSCIÊNCIA NEGRA

O racismo no banco dos réus: peça retrata julgamento do último negro escravizado

Inspirada em história real, espetáculo no teatro Mapati leva reflexão antirracista às escolas e destaca a responsabilidade do público no julgamento do protagonista

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17/11/2025. Cr..dito: Minervino J..nior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Projeto teatro-educa....o "Racismo no banco dos r..us" no Teatro Mapati. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

“Como a gente devolve a humanidade a quem a humanidade foi tirada?” Esse foi o questionamento da diretora e roteirista da peça O racismo no banco dos réus, Ana Luiza Pinheiro, ao produzir o enredo e o projeto que leva o debate antirracista às escolas do Brasil. Na trama, inspirada em uma história real, a plateia acompanha o julgamento do personagem Francisco, o último homem negro escravizado condenado à pena de morte no Brasil. Apesar de ocupar os assentos em frente ao palco do teatro Mapati, os espectadores também são personagens importantes da história: o júri, responsável por decidir o destino do protagonista.

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De acordo com Ana Luiza, é necessário entender a escravidão para enxergar o que ela ainda deixou na sociedade e encontrar caminhos para combater o racismo, que ainda perdura. Ao levar a pauta para dentro das escolas, a peça enriquece a educação antirracista e dá luz à necessidade de lutar por um país mais igualitário.

William Costa, que interpreta o personagem Francisco, conta que é um desafio fazer um personagem que está em um lugar de resistência, por acessar muitas dores dentro dele: "Interpretar esse personagem é uma oportunidade de vocalizar um grito de resistência através da arte". Para o ator, o palco é um espaço seguro que permite que ele se expresse, sem sentir tanto medo de retaliações. O artista ainda explica que discursos como o expressado na peça encontram resistência no dia a dia.

Marcos Davi, intérprete de García, diz que o capitão do mato, um indivíduo pobre e normalmente negro do Brasil colonial, é um personagem subjetivo, que gera ambiguidade nos telespectadores. Responsável por capturar escravos fugitivos, controlar brigas e destruir quilombos, os capitães do mato eram vistos como traidores: “Mas se ele não fosse traidor, ele estaria vivo? Como Garcia, eu estou lutando pela minha vida, sobrevivendo como um animal. Se for preciso matar, ele vai matar.”

“Interpretar a advogada de defesa é muito forte, mas também é muito frustrante. Ela sabe que não vai ser ouvida, mas mesmo assim ela tem aquele sentimento de que é preciso verbalizar. Eu não sei dimensionar ainda o quanto tem de mim na personagem e o quanto eu tenho dela”, destacou Ana Clara Menezes, que interpreta A Defesa.

Larissa Salgado e Hugo Rodrigues, que dão vida à Promotora e ao Juiz, detalham a angústia que é interpretar personagens com um papel tão revoltante diante da plateia: aqueles que querem matar Francisco por lutar por sua liberdade. “É um sentimento de fúria, estar desse lado que defende uma crueldade absurda que existe até hoje”, diz Larissa. “É uma responsabilidade enorme ter essa voz do colonialismo nas nossas bocas, porque é o oposto do que nós, artistas, buscamos para educar. O juiz tem esse papel muito contraditório de intermediar e ao mesmo tempo querer julgar”, pontua Hugo.

 *Estagiária Jessica Sousa sob supervisão de Tharsila Prates

 

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    17/11/2025. Cr..dito: Minervino J..nior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Projeto teatro-educa....o "Racismo no banco dos r..us" no Teatro Mapati. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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postado em 18/11/2025 05:00
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