Consciência Negra

Mulheres de todo o país reforçam união e resistência durante a Marcha

A edição de 2025 da Marcha das Mulheres Negras reivindica reparação e bem-viver da comunidade negra

A Esplanada dos Ministérios tornou-se, nesta terça-feira (25/11), um grande ponto de encontro de mulheres vindas de diversas partes do país para a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver. Entre faixas, cantos, manifestações religiosas e palavras de ordem, o ato reuniu quilombolas, lideranças comunitárias, integrantes de coletivos, mulheres de religiões de matriz africana e jovens ativistas em defesa de mais direitos, visibilidade e igualdade racial.

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“É uma marcha muito importante. É um marco, porque é uma marcha só de mulheres negras. A gente não está pedindo, a gente está dizendo: nós resistimos e resistimos. Viva o coletivo de mulheres do nosso Brasil”, afirmou Odara Oliveira, 30, moradora do Recôncavo Baiano, que viajou exclusivamente para participar da marcha e reforçar o vínculo com outros movimentos do país. Em meio à multidão, ela destacou ainda a importância da presença das religiões de matriz africana no ato. “Fiquei emocionada de ver tanta gente, principalmente as pessoas do candomblé, porque eu sou candomblecista. Isso, para a gente, é muito importante, é um destaque", reforçou.

Também vinda exclusivamente para o ato, Maria de Lourdes Moraes, conhecida como mãe Lourdes, de 61 anos, saiu de Sorocaba, no interior de São Paulo, para somar à manifestação. Para ela, a presença das mulheres negras nas ruas representa tanto o reconhecimento de conquistas quanto a urgência de avanços concretos nos espaços de decisão. “Nós já avançamos, tivemos várias conquistas, mas precisamos de mais. Principalmente colocar pessoas no espaço de poder, que é com a caneta na mão. Ainda existe uma escravização pela caneta, pela escrita. Não basta ser negro, precisa ter consciência racial”, ressaltou.

Emocionada, mãe Lourdes também destacou a presença de mulheres jovens na mobilização como um sinal de continuidade da luta. “O que mais me emociona é ver tantas jovens. A gente sempre diz que os jovens são o futuro, e são mesmo. Nós vamos envelhecer, mas queremos que a luta e as conquistas continuem, não só para as nossas meninas, mas para os jovens e para o futuro delas também", contou.

Ao Correio, a chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Cultura, Mariana Braga, destacou que esse movimento reafirma a centralidade das mulheres negras na garantia de direitos e na construção cultural do país. “Essas mulheres estão à frente dos projetos culturais, são lideranças nas comunidades, fortalecem e protegem os conhecimentos tradicionais, produzem, criam, agregam e sempre estiveram na defesa da cultura brasileira, muito antes mesmo das políticas culturais existirem.”

Mariana ressaltou que não há como formular políticas públicas para uma sociedade diversa sem a participação das mulheres negras, que atuam diariamente na linha de frente das lutas sociais e dos fazeres culturais. Ela ainda explica que história do Brasil é marcada por apagamentos, especialmente do papel das mulheres negras, cujas práticas culturais foram, muitas vezes, criminalizadas. Segundo ela, o compromisso do governo federal é garantir o direito constitucional à cultura, assegurando que todas as pessoas tenham acesso às manifestações culturais e possam criar a partir de seus territórios e experiências.

"O Ministério da Cultura aposta na implementação de ações afirmativas como estratégia para reparar séculos de exclusão. Embora as mulheres negras sejam lideranças, elas não recebem os melhores salários, não são reconhecidas pelos seus conhecimentos e práticas culturais. As ações afirmativas visam corrigir essas desigualdades, garantindo condições para que esse conhecimento seja protegido, valorizado e reconhecido", diz. 

Atualmente, políticas como o Sistema Nacional de Cultura e a Política Nacional Aldir Blanc descentralizam recursos a estados e municípios, que devem aplicá-los com ações afirmativas. Isso inclui um mínimo de 25% de cotas para pessoas negras em projetos culturais, além de editais específicos para cultura negra e para mulheres negras, bônus de pontuação, busca ativa, formação, articulação e comunicação antirracista.

A marcha segue ao longo do dia, com shows gratuitos de artistas negras de todo o país a partir das 15h, na área externa do Museu Nacional. Já às 19h30, representantes da Marcha terão audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin. Na ocasião, a comitiva deve apresentar demandas relacionadas, sobretudo, ao enfrentamento da atual política de segurança pública no Brasil.

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