Fundada em 1937, a italiana Moto Morini atravessou gerações, sobreviveu a guerras, reinventou-se ao longo das décadas e, agora, está oficialmente na capital. A marca premium de motocicletas inaugurou, ontem, sua primeira loja no Distrito Federal. Presente em 57 países e com 88 anos de história, a Moto Morini prevê encerrar 2025 com sete unidades no Brasil. A nova loja está localizada no SIA Trecho 4 — Zona Industrial do Guará, com funcionamento a partir das 9h. O presidente da empresa no Brasil, Fabrício Morini, contou sobre a chegada da marca a Brasília em entrevista ao Podcast do Correio, conduzida pelos jornalistas Jéssica Andrade e Marcelo Agner. Confira os principais trechos:
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O que você idealizou quando decidiu trazer uma marca italiana para o Brasil?
Paixão e herança. Essas são as duas palavras, os dois sentimentos e as duas vertentes que guiam, guiaram e continuarão guiando a Moto Morini, não só no Brasil, mas no mundo. O que eu tenho visto, e apelidei de "inferno do igual", são carros e motocicletas muito parecidos. Mudam detalhes, uma coisa ou outra, mas, de modo geral, mantêm um certo padrão. A Moto Morini faz um pouco diferente disso. É difícil ficar indiferente ao lado de uma Moto Morini. Começamos a operação no Brasil há cerca de um ano, após uma forte prospecção de mercado. Mas, de fato, as lojas começaram há seis meses, com a primeira unidade em São Paulo. Agora, chegando a Brasília.
Você acha que a unidade de Brasília abre as portas com o conceito da Moto Morini no Brasil mais maduro?
Sim. A cada nova loja aberta, o público passa a conhecer melhor o DNA da marca. Apesar de termos 88 anos de história, nem todo brasileiro conhece a Moto Morini. Dá para dizer que, no Brasil, ela ainda é uma novidade. Contudo, carrega toda essa herança, essa paixão e tudo o que permeia a empresa.
O que vocês estão trazendo para o Brasil, em um mercado tão competitivo mundialmente?
“É exatamente o que está lá fora. Isso foi fruto de uma discussão muito forte com a matriz da Moto Morini, porque eu entendo que o brasileiro não gosta de esperar, ele quer tudo para ontem. Ficamos na dúvida sobre quantos produtos lançar, e eu defendi que lançássemos tudo o que já temos, agregando ao lineup à medida que novos modelos forem chegando. Estreamos no Brasil com três modelos e seis versões, o mesmo lineup disponível no exterior. Estamos preocupados em lançar rapidamente os produtos no Brasil para acompanhar a velocidade do mercado internacional.
O mercado brasileiro exigiu alguma adaptação nos veículos?
Gosto de usar a palavra ‘tropicalização’, que vem muito da minha formação como executivo. Diversas adaptações precisaram ser feitas em todas as áreas.
O motociclista brasileiro é tão apaixonado e exigente quanto os de fora?
Para mim, o motociclista brasileiro é o mais apaixonado do mundo. O brasileiro costuma ter duas ou três motos na garagem. No Festival Interlagos, as pessoas se aproximavam com muito interesse. O brasileiro é extremamente apaixonado.
Existiu alguma adaptação para atender às exigências do público brasileiro?
Totalmente. Na questão das peças de reposição, por exemplo, essa é a pergunta que mais escuto: ‘Vai ter peça?’ Costumo brincar com os clientes e dizer: ‘Viemos para ficar, não somos aventureiros’. O Brasil é o país mais importante para nós, então, é óbvio que temos peças. Houve uma tropicalização também nessa área. Não se pode depender apenas do que vai para Manaus e depois converter em peça no Brasil. Temos um centro de distribuição em São Paulo, que abastece os dealers, que também precisam ter peças para atender o público. O cliente brasileiro não gosta de esperar, e ele tem razão. Está comprando um produto premium, que não é barato, e precisa ser bem atendido.
Como você avalia o atual mercado brasileiro de motos?
Todos somos motociclistas de alguma forma, seja para trabalho, lazer ou outras atividades. O mercado de motos no Brasil é muito bom, só cresce e continuará crescendo. Precisamos reconhecer também o papel da Honda, que é gigante e muito atuante no país. Sou fã da marca. Tenho um palpite: nos próximos três anos, o Brasil vai viver um movimento semelhante ao que ocorreu no mercado de quatro rodas, com a entrada de marcas de qualidade, bom acabamento e preços bem posicionados. Antes, dizia-se que o Brasil era difícil. Hoje, isso mudou. Todo mundo está de olho nesse mercado. Afinal, quem não está no Brasil não está em lugar nenhum.
O investimento anunciado foi de R$ 250 milhões. Onde vocês estão investindo mais?
Esse investimento será feito ao longo de três ou quatro anos. A maior parte do capital está direcionada à experiência do cliente e ao marketing, para apresentar nossa estratégia de marca ao público. Também há investimentos importantes em lojas, parceiros e na fábrica em Manaus. É um investimento feito com responsabilidade.
O momento econômico do Brasil preocupa vocês?
Se isso preocupasse tanto o brasileiro, o país não teria motos nas ruas. Nenhum momento é totalmente favorável para atuar no Brasil, porque o país oscila. O importante é estar preparado para lidar com essas oscilações. Não me preocupa. Pelo contrário, continuo acreditando que o Brasil é o país do futuro, ou melhor, do presente.
O que é uma moto premium?
É uma moto que, principalmente, avança em preço acima de R$ 45 mil, mas também em desempenho e estética. Estamos falando de motos acima de 500 cilindradas. Cerca de 80% do mercado brasileiro é voltado ao trabalho, com motos entre 150 e 250 cilindradas. Os outros 20% correspondem ao lazer, que é o mercado premium. Nosso comprador geralmente já tem uma moto, tem em torno de 55 anos, está estabilizado e busca algo mais sofisticado e diferente.
Você acha que o Brasil prepara bem seus motociclistas?
Não acho. Trânsito é educação, é saber se relacionar. Não tem a ver com técnica. Ou você sabe pilotar ou não sabe. Trânsito é como ir a uma festa: é preciso calma, respeito e entender que você não está sozinho. Precisamos investir muito mais em educação de trânsito. Os dados de acidentes me causam muita tristeza. Perder a vida no trânsito é algo banalizado demais.
As estradas no Brasil melhoraram para os motociclistas?
De forma geral, melhoraram bastante. O Brasil evoluiu na qualidade das rodovias, embora ainda precise avançar. Transporte é um dos pilares mais importantes de um país.
Como você enxerga o cenário de Brasília e o Capital Moto Week?
No ano que vem, estaremos, com certeza, presentes. Vejo Brasília como uma cidade organizada no trânsito, tudo flui bem. Tenho o hábito de ver o copo meio cheio. Brasília não é uma aposta, é uma certeza.
Como você enxerga a Moto Morini no Brasil daqui a cinco anos?
Meu plano é vender 7 mil motos por ano no Brasil, com cerca de 25 a 30 lojas. Vejo a Moto Morini com um lineup cada vez mais diversificado. O plano é vida longa. Viemos para ficar.
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