Revitalização urbana

Projeto prevê reocupação do Setor Comercial Sul

Projeto em parceria com o GDF e UnB, quer resgatar SCS, reduzir espaços vazios, sensação de insegurança e reerguer a parte comercial no local

Cerca de 1,3 mil imóveis — entre salas e lojas — estão fechados no Setor Comercial Sul (SCS), importante polo comercial de Brasília, localizado na parte central da Asa Sul, segundo uma pesquisa da Universidade Católica (UCB), realizada dentro do projeto Polo Criativo Tecnológico de Brasília, conduzido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), com liderança da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF).

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A primeira etapa do projeto, entregue no início de dezembro, foi um relatório de mapeamento das atividades econômicas do setor. A análise apontou que dos 5,5 mil CNPJs registrados na região, apenas 3,2 mil estão em atividade. O levantamento ouviu funcionários e donos de 482 empreendimentos sobre os principais problemas enfrentados. Entre as respostas, estão o deficit habitacional, a degradação do espaço público, a discriminação racial e a falta de segurança.

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Para recuperar o espaço, o projeto prevê iniciativas como a construção de um Polo Criativo e Tecnológico para fomentar ações culturais e empresariais da região. Entre os empreendimentos sugeridos, estão um centro gastronômico, um palco para atividades culturais integradas, uma rua comercial que vai funcionar 24 horas, além de três Hubs tecnológicos — espaços de inovação cooperativa.

O professor coordenador do estudo na UCB, Alexandre Kieling, destacou que a junção de atividades culturais e tecnológicas é uma receita “virtuosa”, capaz de atrair novos negócios para regiões em abandono, e uma estratégia já testada dentro e fora do país.

De acordo com a Secti-DF, o Setor Comercial é um importante ponto de desenvolvimento para o comércio da capital, uma vez que o mapeamento, realizado de 26 de maio a 18 de julho, mostrou uma grande concentração de comerciantes e movimentação de pessoas na região. “Os objetivos da iniciativa são a requalificação urbana, a promoção da inovação e o fortalecimento da economia criativa, acabando com os gargalos como a sensação de insegurança e a retração do empreendedorismo local”, informou a pasta em nota.

Entre as obras já realizadas pelo GDF na região, estão a construção de novas calçadas, recuperação do pavimento no bolsão de estacionamento, remarcação de sinalização viária, paisagismo e implantação de mobiliário urbano nas quadras 3, 4 e 5, com um investimento de R$ 10,2 milhões. A quadra 6, em frente ao Pátio Brasil, está recebendo obras de revitalização, que seguirá o mesmo padrão, focando em melhorias para pedestres, comerciantes e motoristas.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta, afirmou que as obras vão devolver a atuação do setor. “É muito importante, pois vai devolver esse importante espaço para nós”, destacou.

Comandando uma lanchonete há 22 anos na quadra 5 do SCS, José Elísio Júnior, de 38 anos, afirma que o movimento já foi melhor. "Antes tinha mais circulação de pessoas na região. Vimos muitas coisas sendo fechadas, como agências bancárias e outras lojas que movimentavam nosso comércio", comentou. Para ele, as reformas e o projeto, que ainda está nas fases iniciais, pode melhor a situação para todo mundo. "As reformas já estão melhorando, apresenta uma configuração melhor do setor", acrescentou. 

Para Júnior, eventos culturais e um polo específico para esse fim podem ajudar ainda mais os comerciantes. "Na época de carnaval, a região (SCS) fica muito movimentada. Os shows que são realizados aqui também impulsionam a economia. Viabilizar um novo espaço para isso vai melhor para os transeuntes e empresários", ressaltou.

Transformação criativa

Kieling afirma que a comunidade do SCS enfrenta uma grande sensação de insegurança, causa direta da falta de iluminação pública, lixo ao ar livre e grande quantidade de moradores de rua. Apesar dessas questões, o pesquisador afirma que o número de ocorrências de crime não é alto e “não há necessariamente um caso crítico de segurança”, afirmou. 

O professor comentou que é possível reproduzir modelos vistos em outros estados e países — como o Porto Digital, em Recife; e a cidade de Medellín, na Colômbia — na capital. Ele explicou que o SCS se assemelha aos dois exemplos, pois passou por abandono, como em Recife, e dispõe de população de camadas sociais distintas, com a presença de moradores de rua, como foi observado na cidade colombiana. “Claro que esses dois casos já estão há mais de 20 anos nesse processo, mas acredito que, com a mobilização dos órgãos, podemos criar soluções efetivas em Brasília com cinco anos de atuação”, disse Kieling.

Com a entrega do mapeamento, o projeto avança, agora, para a fase de planejamento estratégico, na qual serão definidas as vocações do território, o modelo de governança e as diretrizes de uso do Setor Comercial Sul. Em seguida, o GDF prevê a formulação de instrumentos urbanísticos e políticas de incentivo, preparando o ambiente para a implantação e ativação do polo, com a atração de empreendimentos criativos, tecnológicos e culturais para a região.

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