Astronomia

Com 4 bilhões de anos, maior cometa já observado se aproxima da Terra

Não tem razão para temer! Descoberto por dois cientistas, um deles brasileiro, o cometa C/2014 UN271 é considerado uma "relíquia do sistema solar" e, agora, novos dados do telescópio Hubble mostram os mistérios deste gigante

Jéssica Gotlib
postado em 13/04/2022 20:23 / atualizado em 13/04/2022 20:24
O telescópio Hubble confirmou dados de massa e dimensões do cometa, mas mostrou que ele tem um núcleo mais escuro que o estimado -  (crédito: NASA, ESA, Zena Levy (STScI))
O telescópio Hubble confirmou dados de massa e dimensões do cometa, mas mostrou que ele tem um núcleo mais escuro que o estimado - (crédito: NASA, ESA, Zena Levy (STScI))

O maior cometa já observado por astrônomos está vindo em direção à Terra a uma velocidade de 35,4 mil km/h. Mas, calma, não é necessário pânico. Como de costume em astronomia, proximidade é um conceito muito relativo. Neste caso, o mais perto que o C/2014 UN271 chegará do Sol (no ano de 2031) é uma distância de 1,6 bilhão de quilômetros. Isso significa que, em nove anos, ele vai passar um pouco mais longe do nosso planeta que a rota de Saturno — o sexto planeta do Sistema Solar (em relação a distância do Sol).

Ainda assim, o fenômeno é considerado extraordinário pelos astrônomos e astrofísicos e vem chamando atenção dos estudiosos da área há mais dez anos por vários fatores. O primeiro deles é a dimensão do cometa Bernardinelli-Bernstein, como foi batizado o C/2014 UN271. O nome é em homenagem aos dois cientistas que o descobriram, em 2010: o brasileiro Pedro Bernardinelli e estadunidense Gary Bernstein. 

Com um diâmetro estimado em 130 km, pouco menos que a distância entre o centro de Brasília e a cidade de Pirenópolis, o cometa chegou a ser confundido com um planeta anão — como Plutão — na época em que foi achado. A confusão ocorreu porque encontrar um cometa desse tamanho é extremamente raro, uma vez que o núcleo dele é cerca de 50 vezes maior que a média dos corpos celestes da mesma categoria.

Além disso, o Bernardinelli-Bernstein é considerado uma relíquia do Sistema Solar pela idade, estimada em 4 bilhões de anos, e vem de uma região sobre a qual quase não há dados, só teorias, chamada de Nuvem de Oort. “Este cometa é literalmente a ponta do iceberg de muitos milhares de cometas que são muito fracos para serem vistos nas partes mais distantes do sistema solar”, explicou David Jewitt, professor de ciência planetária e astronomia da Universidade da Califórnia (UCLA).

 Este diagrama compara o tamanho do núcleo gelado e sólido do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) com vários outros cometas. A maioria dos núcleos de cometa observados são menores do que os do cometa Halleyâs
Este diagrama compara o tamanho do núcleo gelado e sólido do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) com vários outros cometas. A maioria dos núcleos de cometa observados são menores do que os do cometa Halleyâs (foto: NASA, ESA, Zena Levy)

Hubble confirma massa de aproximadamente 500 trilhões de toneladas

Jewitt é coautor de um estudo sobre o C/2014 UN271 publicado no The Astrophysical Journal Letters na terça-feira (13/4). Para o cientista, uma das funções mais importantes dos novos dados, coletados através do telescópio Hubble, é confirmar dimensões que, até então, os cientistas só podiam estimar.

Com a massa de aproximadamente 500 trilhões de toneladas, o cometa tem o tamanho do núcleo equivalente ao monte Everest. Isso é cem mil vezes maior que a massa de um cometa típico encontrado muito mais perto do Sol. O C/2014 UN271, no entanto, é menos brilhante que os cientistas imaginavam, com um núcleo bastante escuro e sólido, além da nuvem de poeira e gás que o envolve.

“Achamos que o cometa poderia ser bem grande, mas precisávamos dos melhores dados para confirmar isso”, disse o autor principal do estudo Man-To Hui, que obteve o título de doutor na UCLA em 2019 e agora está na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau em Taipa, Macau. “Este é um objeto incrível, dado o quão ativo é quando ainda está tão longe do sol”, complementou.

Sequência mostra como o núcleo do Cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) foi isolado de uma vasta concha de poeira e gás ao redor do núcleo sólido de gelo
Sequência mostra como o núcleo do Cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) foi isolado de uma vasta concha de poeira e gás ao redor do núcleo sólido de gelo (foto: NASA, ESA, Man-To Hui (Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau), David Jewitt (UCLA). Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI))

A distância entre o Bernardinelli-Bernstein e sol é de menos de 3 bilhões de quilômetros. Daqui a alguns milhões de anos, ele retornará ao seu local de origem na nuvem de Oort, segundo o professor Jewitt. A teoria diz que essa região é local de surgimento de trilhões de cometas e fica a algumas centenas de vezes a distância entre o Sol e a Terra, pelo menos, um quarto do caminho para a distância das estrelas mais próximas ao nosso Sol, no sistema Alpha Centauri.

O artigo Detecção do Telescópio Espacial Hubble do Núcleo do Cometa C/2014 UN 271 (Bernardinelli–Bernstein) pode ser lido, na íntegra (em inglês), na página do The Astrophysical Journal Letters.

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  • O cometa C/2014 UN271 pode ter até 85 milhas (128 km) de diâmetro.
    O cometa C/2014 UN271 pode ter até 85 milhas (128 km) de diâmetro. Foto: NASA, ESA, Zena Levy (STScI)
  •  Este diagrama compara o tamanho do núcleo gelado e sólido do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) com vários outros cometas. A maioria dos núcleos de cometa observados são menores do que os do cometa Halleyâs. Eles são tipicamente uma milha de diâmetro ou menos. O cometa C/2014 UN271 é atualmente o detentor do recorde de grandes cometas. E, pode ser apenas a ponta do iceberg. Pode haver muito mais monstros lá fora para os astrônomos identificarem à medida que os mapeamentos do céu melhoram a sensibilidade. Embora os astrônomos saibam que este cometa deve ser grande para ser detectado até agora a uma distância de mais de 2 bilhões de milhas da Terra, apenas o Telescópio Espacial Hubble tem a agudeza e a sensibilidade para fazer uma estimativa definitiva do tamanho do núcleo.
    Este diagrama compara o tamanho do núcleo gelado e sólido do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) com vários outros cometas. A maioria dos núcleos de cometa observados são menores do que os do cometa Halleyâs. Eles são tipicamente uma milha de diâmetro ou menos. O cometa C/2014 UN271 é atualmente o detentor do recorde de grandes cometas. E, pode ser apenas a ponta do iceberg. Pode haver muito mais monstros lá fora para os astrônomos identificarem à medida que os mapeamentos do céu melhoram a sensibilidade. Embora os astrônomos saibam que este cometa deve ser grande para ser detectado até agora a uma distância de mais de 2 bilhões de milhas da Terra, apenas o Telescópio Espacial Hubble tem a agudeza e a sensibilidade para fazer uma estimativa definitiva do tamanho do núcleo. Foto: NASA, ESA, Zena Levy
  • Isolando o núcleo de um cometa (IMAGEM). Sequência mostrando como o núcleo do Cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) foi isolado de uma vasta concha de poeira e gás ao redor do núcleo sólido de gelo.
    Isolando o núcleo de um cometa (IMAGEM). Sequência mostrando como o núcleo do Cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) foi isolado de uma vasta concha de poeira e gás ao redor do núcleo sólido de gelo. Foto: NASA, ESA, Man-To Hui (Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau), David Jewitt (UCLA). Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI)
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