EXPLORAÇÃO ESPACIAL

3I/Atlas tem proporção inédita de metais e desafia teorias científicas

Descoberta de ferro e níquel em abundância inesperada no cometa 3I/Atlas sugere novos caminhos para entender a química de objetos vindos de fora do Sistema Solar

Imagem do cometa 3I/ATLAS feita pelo Hubble em 21 de julho de 2025, quando o visitante interestelar estava a 445 milhões de quilômetros da Terra -  (crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA))
Imagem do cometa 3I/ATLAS feita pelo Hubble em 21 de julho de 2025, quando o visitante interestelar estava a 445 milhões de quilômetros da Terra - (crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA))

Detectado em julho de 2025, o cometa 3I/Atlas chegou ao Sistema Solar vindo do espaço interestelar, movendo-se quase duas vezes mais rápido que seus antecessores, o Oumuamua e o 2I/Borisov. Com um núcleo estimado em 5,6 quilômetros e massa superior a 33 bilhões de toneladas, o 3I/Atlas chamou atenção não apenas por seu tamanho, mas por um comportamento químico que intriga os astrônomos.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Em observações realizadas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul, pesquisadores identificaram uma abundância “extrema” de ferro e níquel na coma, a nuvem de gases e poeira que envolve o núcleo do cometa. Essa proporção, muito acima do que se observa em cometas do Sistema Solar e no interestelar 2I/Borisov, desafia as explicações convencionais sobre como esses metais se tornam visíveis a grandes distâncias do Sol.

Linhas de emissão de níquel e ferro já haviam sido detectadas em outros cometas, mas sempre causaram surpresa. Isso porque, nas distâncias em que o 3I/Atlas foi observado, as temperaturas são muito baixas para permitir a sublimação — processo pelo qual sólidos se transformam diretamente em gás — de minerais que contêm esses metais.

Nos cometas do Sistema Solar, a razão entre níquel e ferro tende a ser cerca de 10 vezes maior do que a proporção observada no Sol. O 3I/Atlas, porém, exibiu uma razão ainda mais alta, nunca vista antes. Curiosamente, à medida que o cometa se aproximou do Sol, essa proporção diminuiu rapidamente, tornando-se semelhante à dos cometas conhecidos. Em apenas duas semanas, a relação entre os dois elementos mudou de forma significativa.

Para explicar o fenômeno, os cientistas propuseram um cenário baseado na presença de compostos chamados carbonilas. Essas moléculas se formam quando átomos de metal se ligam ao monóxido de carbono e são conhecidas por sublimar a temperaturas muito baixas.

Se o níquel no cometa estiver sendo liberado principalmente por meio da sublimação da carbonila de níquel, cuja temperatura de evaporação é menor que a da carbonila de ferro, isso poderia justificar a razão elevada entre os dois metais observada nas primeiras medições. O comportamento do 3I/Atlas reforça a ideia de que compostos voláteis contendo metais podem estar presentes no material cometário — uma hipótese que, se confirmada, amplia o entendimento sobre a diversidade química de cometas e planetesimais.

O estudo, publicado no servidor científico arXiv e ainda em revisão por pares, é conduzido por uma equipe internacional de astrônomos. Embora o cometa tenha desaparecido temporariamente de vista após passar atrás do Sol, novas observações devem ser possíveis nos próximos meses. O 3I/Atlas é apenas o terceiro cometa interestelar já identificado. Cada um deles tem mostrado características únicas, revelando que o espaço entre as estrelas abriga uma variedade de materiais e processos ainda pouco compreendidos.

  • Google Discover Icon
postado em 07/10/2025 10:22 / atualizado em 07/10/2025 15:10
x