EXPLORAÇÃO ESPACIAL

Objetos interestelares, como o 3I/Atlas, atuam como "sementes" de planetas

Objetos de outro sistema estelar podem ser a "semente" para o nascimento de planetas. Uma teoria que muda o que sabemos sobre o espaço

Imagem do cometa 3I/ATLAS feita pelo Hubble em 21 de julho de 2025, quando o visitante interestelar estava a 445 milhões de quilômetros da Terra -  (crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA))
Imagem do cometa 3I/ATLAS feita pelo Hubble em 21 de julho de 2025, quando o visitante interestelar estava a 445 milhões de quilômetros da Terra - (crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA))

Astrônomos acreditam que encontraram a peça que faltava no quebra-cabeça da formação planetária. A hipótese é ousada: corpos vindos de fora do sistema estelar — os chamados objetos interestelares — atuam como “sementes” que dão início ao crescimento de planetas gigantes, ajudando a resolver um dos maiores impasses da teoria atual.

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Esses viajantes cósmicos, semelhantes a asteroides e cometas, são expulsos de seus sistemas de origem e passam a vagar pelo espaço. Desde 2017, três deles já foram identificados atravessando nosso Sistema Solar: o famoso Oumuamua, o cometa Borisov e, em 2025, o recém-descoberto 3I/Atlas, que tem despertado a curiosidade de cientistas pelo comportamento único.

Segundo a professora Susanne Pfalzner, do Instituto de Pesquisa Científica Jülich, da Alemanha, esses visitantes podem ter um papel decisivo no nascimento de novos mundos. “O espaço interestelar forneceria sementes prontas para a formação da próxima geração de planetas”, explica. A ideia foi apresentada na Reunião Conjunta EPSC-DPS2025, realizada nesta semana em Helsinque.

O problema da “barreira de um metro”

Os modelos tradicionais de formação planetária preveem que planetas surgem da aglomeração de poeira em discos que circundam estrelas jovens. Mas há um obstáculo: simulações mostram que, quando pedaços de rocha chegam ao tamanho de cerca de um metro, eles tendem a se chocar e se fragmentar em vez de se unir, travando o processo de crescimento.

A entrada de um objeto interestelar já formado — com algumas centenas de metros de comprimento, como Oumuamua — poderia pular essa etapa crítica. Uma vez capturado gravitacionalmente pelo disco de poeira, ele serviria como núcleo para que mais material se acumulasse, acelerando a formação de planetas.

Estudos recentes sugerem que esse mecanismo é especialmente eficaz em estrelas de maior massa, semelhantes ou mais pesadas que o Sol. Isso ajuda a explicar um enigma das observações. Planetas gigantes gasosos como Júpiter aparecem com mais frequência ao redor dessas estrelas, mesmo que seus discos tenham vida curta. Apenas 1 a 3 milhões de anos antes de se dissiparem. Sem “sementes prontas”, seria quase impossível formar mundos tão grandes nesse intervalo.

Já as estrelas menores, como as anãs M, parecem ter mais tempo de sobra — seus discos podem durar de 5 a 10 milhões de anos — e acabam produzindo um número maior de planetas pequenos. Mas, mesmo nesses casos, a eficiência na transformação de poeira em corpos sólidos ainda surpreende os pesquisadores.

Simulações com rochas

A teoria de formação planetária sugere que a poeira e as rochas se unem gradualmente em um processo de acreção. No entanto, simulações mostram que rochas maiores que um metro tendem a ricochetear ou se partir ao colidir, em vez de se unirem. Os objetos interestelares podem contornar esse problema, agindo como as sementes prontas para a formação da próxima geração de planetas.

Essa hipótese também ajuda a explicar por que os planetas gigantes gasosos são mais comuns em estrelas mais massivas, semelhantes ao nosso Sol. A vida útil de um disco de formação planetária ao redor de uma estrela como o Sol é curta, de cerca de 2 milhões de anos. É um tempo desafiador para a formação de um planeta gigante.

No entanto, se objetos interestelares estão presentes para acelerar o processo, a formação desses planetas se torna muito mais eficiente. A pesquisa de Susanne Pfalzner mostra que estrelas mais massivas são mais eficazes em capturar objetos interestelares em seus discos.

"A formação de planetas semeada por objetos interestelares deve ser mais eficiente ao redor dessas estrelas, proporcionando uma maneira rápida de formar planetas gigantes. E sua formação rápida é exatamente o que observamos", disse a professora.

Ainda há muito a ser descoberto. Os próximos passos da pesquisa de Pfalzner incluem investigar quantos dos objetos interestelares capturados realmente conseguem formar planetas e se eles se distribuem uniformemente nos discos, ou se existem áreas de maior concentração que se tornam locais de nascimento de planetas.

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postado em 12/09/2025 17:11 / atualizado em 12/09/2025 17:19
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