CASO RARO

Câncer após transplante: SUS nega indícios de problema em fígado doado

Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, teria recebido um fígado com câncer após realização de transplante. Especialista classifica o caso como raro, e ressalta que problema pode não ter sido identificado durante a triagem pré-cirurgia

Geraldo Vaz Júnior, de 58 anos, recebeu um fígado em um transplante após diagnóstico de hepatite C -  (crédito: Reprodução / Instagram / @marciahelena.vaz)
Geraldo Vaz Júnior, de 58 anos, recebeu um fígado em um transplante após diagnóstico de hepatite C - (crédito: Reprodução / Instagram / @marciahelena.vaz)

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), estrutura ligada ao Sistema Unificado de Saúde (SUS), informou que nenhum indício de problema em exames realizados no doador do paulista Geraldo Vaz Júnior, de 58 anos, foi encontrado. Ele recebeu um fígado em um transplante no Hospital Albert Einstein, Zona Sul de São Paulo, devido a um diagnóstico de hepatite C, e o órgão teria desenvolvido câncer.

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Por meio das redes sociais, a mulher do paciente, Márcia Helena Vaz, relata que o órgão recebido estava, sim, infectado com câncer metastático. Ela afirma que exames teriam mostrado que o órgão, recebido em 2023, transmitiu a condição.

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O tumor maligno não pertenceria a ele, mas, sim, ao doador. O casal ainda conta que um retransplante foi feito, em 2024. Sessões de quimioterapia são realizadas para tratar a metástase pulmonar do câncer, segundo contou Márcia, por meio de uma conta nas redes criada especialmente para o assunto.

O SUS nega que o órgão tenha sido doado já em condição cancerígena. Em contato com o Correio, o SNT relata que protocolos de segurança e eficácia foram adotados para o procedimento. Além disso, afirma que "não foram identificados ou apresentados indícios de qualquer problema de saúde nos exames realizados no doador, incluindo a inspeção nos órgãos e abdômen, análise do seu histórico médico e entrevista com a família". Em adição, diz que mais exames precisam ser feitos, pois os já realizados "não são conclusivos sobre a relação causal". 

Especialista alerta para contaminação "discreta"

Oncologista e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Márcio Almeida explica que as células cancerígenas presentes no fígado doado podem não ter sido detectadas por razões científicas. De acordo com ele, mesmo após passar por avaliações rigorosas, o órgão poderia estar em fase inicial do câncer no momento do transplante. 

"São realizados exames de imagem, laboratoriais e análise do histórico clínico do doador para descartar doenças infecciosas e tumores. No entanto, existem situações em que um câncer pode não ser detectado, principalmente se estiver em fase muito inicial ou se for um tumor de crescimento lento, sem sinais clínicos ou radiológicos visíveis", explicou. 

O especialista também ressalta que tipos de câncer como melanomas ou certos tumores do sistema nervoso central podem ficar ocultos por longos períodos de tempo, mesmo com resultados negativos em exames. No entanto, a condição pode se manifestar, sim, meses depois do transplante. 

"Quando o câncer surge no órgão transplantado, geralmente significa que a doença estava presente no doador e não foi identificada no momento da triagem. É uma situação rara, mas conhecida", alertou. "Já quando o câncer retorna, trata-se de uma recidiva de um tumor que o próprio receptor já teve antes do transplante. Nesse caso, células cancerígenas remanescentes do paciente voltam a se multiplicar", completou Márcio.

O oncologista ainda ressalta a importância de vigilância pós-transplante, pois "nenhum método é infalível". Almeida explica que, nesses casos, o câncer já está em estágio avançado em muitas das ocasiões. 

Veja a nota do SUS na íntegra: 

"O Sistema Nacional de Transplantes adota protocolos rigorosos de segurança e eficácia para a realização de todos os procedimentos e, atualmente, o Brasil é uma referência mundial no tema.
Sobre o caso, não foram identificados ou apresentados indícios de qualquer problema de saúde nos exames realizados no doador, incluindo a inspeção nos órgãos e abdômen, análise do seu histórico médico e entrevista com a família. Todas as normas e parâmetros internacionais para a realização do procedimento foram cumpridas.

O Ministério da Saúde determinou o acompanhamento de saúde do paciente e está monitorando o caso junto à Central Estadual de Transplantes e ao hospital que faz o seu atendimento. Até o momento, os exames não são conclusivos sobre a relação causal, que exige uma análise minuciosa.

Todas informações do caso estão sendo compartilhadas com a vigilância local, responsável pela apuração do ocorrido".

 

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postado em 17/10/2025 19:58 / atualizado em 17/10/2025 20:01
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