À medida que a idade avança, o corpo perde gradualmente funções essenciais: os vasos sanguíneos tornam-se menos eficientes, a imunidade enfraquece e a capacidade de reparo dos tecidos diminui. Essas mudanças, que abrem caminho para doenças cardiovasculares, redução muscular, inflamação crônica e declínio cognitivo, entre outras, podem ser combatidas com uma ferramenta acessível e potente, segundo um estudo publicado no Chinese Medical Journal: o exercício físico.
Liderados por Junjie Xiao, pesquisador da Universidade de Xangai, na China, os pesquisadores fizeram uma revisão da literatura científica recente sobre o assunto. Eles concluíram que o exercício atua como um estímulo fisiológico natural, capaz de ativar a formação de novos vasos sanguíneos e linfáticos — processos técnicos conhecidos como angiogênese e linfangiogênese.
Esses são mecanismos fundamentais não apenas para manter a vitalidade dos tecidos, mas também para restaurar funções que se enfraquecem com a idade. "O exercício age como um estímulo poderoso que desencadeia esses processos essenciais para a saúde vascular e imune conforme envelhecemos", explica Xiao. Segundo o pesquisador, impulsionar esses processos dentro do próprio organismo é "uma estratégia promissora contra o declínio relacionado à idade".
Alarme
A cirurgiã vascular Christienne Souza, especialista em circulação periférica, explica o que acontece dentro do músculo durante o esforço físico. "Quando você se exercita, o músculo precisa de muito mais oxigênio e nutrientes, que chegam pelo sangue. Se a rede de vasos não dá conta, instala-se a hipóxia — a baixa de oxigênio — que funciona como um alarme".
O alarme aciona a liberação de substâncias químicas, principalmente fatores de crescimento, que dão aos vasos próximos uma ordem restaurativa: o organismo exige que formem mais canais de transporte do sangue. O fenômeno se chama angiogênese. "Na prática, o corpo constrói atalhos, uma rede mais densa de capilares, para que o sangue finalmente chegue aonde é necessário", detalha a médica. O resultado é uma circulação mais eficiente, que beneficia não apenas os músculos, mas o organismo inteiro.
Segundo a revisão chinesa publicada recentemente, o processo também ocorre nas linfas, responsáveis por drenar fluidos, remover resíduos metabólicos e transportar células imunológicas. Quando ativado pelo exercício, o sistema linfático ganha novos vasos e melhora a capacidade de manter o equilíbrio dos tecidos. O efeito combinado fortalece a imunidade, reduz inflamações e melhora a capacidade de reparação do corpo.
Doença periférica
Na prática clínica, esse mecanismo tem impactos diretos para quem vive com problemas circulatórios, como a doença arterial periférica (DAP), condição em que artérias das pernas estão estreitadas ou entupidas. "É como uma grande autoestrada bloqueada. Por isso dói para caminhar", explica Christienne Souza.
O exercício, entretanto, força o músculo a funcionar com pouco oxigênio, ativando a angiogênese de forma mais intensa. "O corpo começa a criar uma nova rede de vasos menores que contornam o bloqueio. Chamamos isso de 'bypass natural'", conta a cirurgiã vascular. Embora a artéria principal continue doente, os vasos recém-formados permitem que o sangue alcance o músculo e reduza a dor.
Programas de caminhada supervisionada — já recomendados em diretrizes médicas — se baseiam na capacidade de o corpo regenerar a própria circulação. "Muitos pacientes que seguem atividades físicas conseguem andar mais e com menos dor. Em alguns casos, o exercício pode atrasar ou evitar procedimentos invasivos, como angioplastia ou safena na perna", relata a cirurgiã.
Dor
Para saber se o exercício físico está, de fato, contribuindo para a criação de novos vasos, não é preciso fazer exames sofisticados. "Os sinais indiretos de que a atividade está trazendo benefício no contexto da doença obstrutiva periférica são o aumento da distância — o paciente nota que caminha mais antes que a dor apareça — e a melhora da temperatura — a frieza na perna começa a diminuir, e a temperatura do membro afetado aumenta", descreve Vagner Vinicius, Cardiologista do Hospital Mantevida.
A angiogênese e a linfangiogênese induzidas pelos exercícios físicos podem ser conquistadas também por pessoas mais idosas ou com complicações como diabetes. Embora o envelhecimento e determinadas condições crônicas possam reduzir a capacidade dos vasos de responder aos estímulos, não anulam o processo.
"Os estudos mostram que esse mecanismo continua funcionando. Pacientes idosos, diabéticos ou com obstruções severas ainda conseguem formar novos vasos", diz a cirurgiã vascular Christienne Souza. "A resposta varia de pessoa para pessoa, mas o exercício permanece como estratégia fundamental — inclusive para casos de isquemia crítica, o estágio mais grave da doença arterial periférica.
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