Música

Alexia Bomtempo explora folia afetiva com álbum 'Doce carnaval'

Cantora com origens brasileiras e norte-americanas criou roupagens intimistas para clássicos do cancioneiro de carnaval

Pedro Almeida*
postado em 12/08/2022 17:41 / atualizado em 12/08/2022 17:42
 (crédito: Nathan West)
(crédito: Nathan West)

A cantora Alexia Bomtempo lançou, no dia 5 de agosto, o álbum Doce carnaval, com releituras intimistas de grandes clássicos carnavalescos. A obra, disponível para audição nas plataformas de streaming, conta com participações especiais de Roberta Sá, Fernanda Abreu, Otto e Josh Klinghoffer.

Do encontro entre um brasileiro e uma estadunidense, nasceu Alexia Bomtempo. A garota veio à luz em Nova York, mas a vida dividida entre a cidade que nunca dorme e o Rio de Janeiro deu a ela o poder de passear com fluidez entre os gentílicos de nova-iorquina e carioca. No Brasil, fixou residência dos 7 aos 17. À época, a então garota acompanhava o pai, produtor de eventos, em shows e espetáculos. Da coxia, viu mestres como Djavan, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ansiosa, sabia que uma hora teria vez no palco. Anos depois, a autoprofecia se concluiu com uma bem estabelecida carreira musical que chega ao quinto álbum; Doce carnaval transporta a brasilidade juvenil da carioca que brincava carnaval para o contexto adulto e sóbrio da nova-iorquina que buscava escapismo frente a uma pandemia.

A bipartição cultural vivida por Alexia transparece na fala da artista como a pedra angular de toda uma visão de mundo. “A minha vida foi toda assim: meio Estados Unidos, meio Brasil”, revela, em entrevista ao Correio. Os dois países conferiram uma quase dupla-identidade que se manifesta em intervalos. “É engraçado. Meu marido, que é um dos produtores do álbum, fala que ele é casado com duas mulheres: quando eu estou falando português, eu sou a carioca; de repente, eu viro a nova-iorquina quando falo inglês. Eu acho que, por ter vivido essa vida tão partida, eu me sinto muito misturada”, diz. No fazer artístico, a possibilidade de beber de duas fontes tão ricas se tornou um alicerce pela busca de uma identidade. “É uma coisa maravilhosa, porque tem coisas maravilhosas na cultura americana e tem coisas maravilhosas da cultura brasileira. Eu sou muito grata por ter essa mistura e apresentar isso na minha música. Eu bebo muito na fonte do jazz americano e na música brasileira, da bossa nova, da MPB”, garante.

No olho do furacão pandêmico, Alexia buscou, na música, válvula de escape. A nostalgia, que se mostrou poderosa aliada no amparo emocional dos quarentenados, surgiu no trabalho da cantora como um retorno à origem brasileira. Do desejo da aglomeração e do suor do carnaval, brincadeira diametralmente oposta ao momento mundial, nasceu Doce carnaval. As conhecidas melodias dos foliões ganharam versões melancólicas em bossa, mas preservadas o suficiente para despertar calor, companhia e boas lembranças, ou um “carnaval afetivo”, nas palavras da cantora. As nove faixas do álbum contemplam clássicos como Banho de cheiro, Rapunzel e Mal acostumada. A cantora, porém, abre o trabalho com uma bossa autoral cantada em inglês ao lado do roqueiro Josh Klinghoffer: “Eu resolvi abrir com Chameleon lovers porque eu acho que a letra traduz muito bem o espírito do que é o carnaval. Conta a história de pessoas que se conhecem no Carnaval, se encontram e se apaixonam. Eu achei que era uma boa introdução”.

A escolha do repertório fluiu com naturalidade quando Alexia se propôs a navegar por memórias afetivas relacionadas ao carnaval. A transposição dos arranjos acelerados e festivos para o clima introspectivo do violão de nylon teve o feliz desdobramento de jogar luz à beleza das letras, que poderiam não ser apreciadas pelos eufóricos foliões. “Como cantora, as letras de música são uma coisa importante porque passam uma mensagem. Assim, tenho que me apropriar da mensagem para mostrar a beleza do que está sendo falado. Essas músicas se revelaram de uma maneira nova pra mim assim”, reflete. Como “não há como pensar em carnaval sem pensar nos amigos”, Alexia recorreu a parcerias de peso para engrossar o caldo do álbum. Robertá Sá, Fernanda Abreu, Otto, Maïa Barouh e até o roqueiro Josh Klinghoffer, ex Red Hot Chili Peppers, participam. No total, Alexia conta com a companhia em cinco das nove faixas. “Quando a gente realmente viu que estava fazendo um álbum, eu tive a ideia de chamar outros artistas e outros cantores que eu tanto admiro”, diz.

Por fim, o trabalho pandêmico encontra o calor do público. Alexia Bomtempo está prestes a excursionar o disco pelos Estados Unidos, mas garante que uma turnê em solos brasileiros está nos planos: “Em janeiro de 2023, pretendo levar o show para o Brasil e curtir um longo verão”.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel 

Doce carnaval, de Alexia Bomtempo

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