Música

O bandolim livre de Ian Coury brilha neste sábado (20) no Clube do Choro

O instrumentista brasiliense Ian Coury apresenta, neste sábado (20), no Clube do Choro, show para o lançamento do álbum Bora Brasil

Pedro Almeida*
postado em 20/08/2022 06:00 / atualizado em 20/08/2022 08:07
 (crédito: Claudia Coury)
(crédito: Claudia Coury)

O inocente desejo de participar de um show de talentos escolar mudaria para sempre a vida de um dos meninos de 7 anos que frequentava o 2º ano daquele colégio. No afã de acompanhar os amigos que já esboçavam acordes e melodias nos instrumentos musicais, Ian Coury bradou para o pai que gostaria de fazer um som. A princípio, o pequeno propôs tocar a guitarra. O pai retrucou que "seria um instrumento muito grande e pesado"; insistente, Ian não mediu o barulho e falou que queria ser mesmo baterista. O pai, sensato, apontou que os tambores e pratos "iriam acabar com a paz da casa"; por fim, se antecipando à criança, propôs o diminuto cavaquinho. Dali, foram seis meses de muita dedicação às quatro cordas mais famosas do Brasil. Coury lança, neste sábado (20), com show no Clube do Choro, o álbum Bora Brasil.

Flerte musical

Em um sábado qualquer daquele mesmo ano, a família Coury decidiu ir ao Clube do Choro assistir à apresentação de Armandinho Macêdo ao bandolim. De novo, a vida de Ian mudaria. Não foi necessário nem que o show se iniciasse. Antes mesmo, na passagem de som, o sonolento menino na noite brasiliense despertou quando "Armandinho subiu no palco para testar o som, tocando apenas as cordas soltas", relembra Ian Coury. Uma conversa com o artista no camarim sedimentou ainda mais o novo flerte musical. O cavaquinho abriu espaço para que o bandolim tomasse conta da cabeça do prodígio. Doze anos depois, Ian Coury volta àquele mesmo Clube do Choro para fazer ecoar o amor e dedicação à música e ao peculiar instrumento que nasceram ali, no vão da estrutura circular situada no coração de Brasília.

Anos depois, o jovem e virtuoso bandolinista rumaria para a Universidade de Berklee, nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino musical mais prestigiosas no mundo e onde ainda dá prosseguimento aos estudos; antes, Ian Coury se aprimorou no instrumento com aulas na Escola de Música de Brasília e no Clube do Choro, local recorrente na história do artista. "O primeiro show da minha vida, eu fiz lá. Eu estudei lá também. É um lugar que tem uma importância cultural muito grande para a cidade e que ensina o choro, o primeiro gênero genuinamente brasileiro", conta Ian, em entrevista ao Correio. Para afirmar a importância da casa na carreira, o bandolinista não poderia escolher outro local para a apresentação deste sábado (20): "o lançamento do álbum tinha que ser lá".

Em 2020, a pandemia se alastrou e fechou as portas da universidade em que Ian estuda. Era hora de voltar para casa. Em Brasília, o tempo de reclusão se dividiu entre a dedicação aos estudos e a indignação com a situação do país. As novas composições que surgiam serviram de centelha para a ideia de gravar um álbum. Os primeiros passos para que Bora Brasil viesse ao mundo foram dados. "É um álbum todo voltado para esse momento que a gente estava vivendo: aquele primeiro ano de lockdown, em que não era possível sair de casa. Estava muito difícil. Todo mundo meio deprê. O presidente não comprou a vacina. Fiquei puto com isso. Aí, eu comecei a compor e muita coisa começou a vir. Eu senti que tinha algo errado no Brasil e queria falar sobre esses problemas que estavam acontecendo. O atraso da vacina, a pobreza", revela. Era hora de reflexão, mas sem deixar de lado a esperança e a positividade: "E eu decidi fazer esse álbum para animar a galera. Para mostrar o que está acontecendo. Pedir a união do povo. Por conta da divisão política, o povo não estava unido". Daí o nome: "Vamos, Brasil! Vamos nessa, vamos nos juntar".

Bora Brasil foi gravado em Brasília, no estúdio Naquele Lugar, com o quarteto formado por Ian Coury, Renato Galvão, Felipe Viegas e Rafael Cruztico, formação que se repete no show. Composto por oito faixas, o álbum conta com quatro músicas autorais e quatro releituras, que "foram escolhidas a dedo para dar diversidade ao disco". Ainda sem data de lançamento programada para o álbum, o músico liberou, ontem, o single Me deixa. A música carrega, no título, o desejo do artista de ser livre dos rótulos atrelados ao bandolim e ao choro: "Essa música, eu fiz justamente para quebrar paradigmas. Sempre tentaram me rotular como um artista de choro ou de samba. E não tem isso, não. Eu toco de tudo. o bandolim é um instrumento livre".

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

Show do bandolinista Ian Coury

Neste sábado (20), a partir das 20h30, no Clube do Choro de Brasília. Ingressos antecipados no site www.bilheteriadigital.com ou direto na bilheteria. 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação