Segunda exposição de uma série de quatro de um projeto criado para dar destaque a artistas fora dos eixos, Encruzilhada ocupa da Galeria Pé Vermelho com obras do paraense Marcone Moreira, o artista convidado desta edição, e de AYA e Shevan, ambos do Distrito Federal. "Os três artistas apresentam em comum uma noção de margem", explica Luciana Paiva, uma das curadoras e fundadora da Pé Vermelho ao lado de João Angelini e Marcela Campos. Para esta edição, a galeria conta ainda com a parceria com a curadora Gisele Lima.
Nascido em Marabá, cidade no sudoeste do Pará banhada pelos rios Tocantins e Itacaiúnas, Marcone apresenta duas séries construídas com base na coleta de materiais e imagens típicos da região natal. Em Travessias, o artista faz uma mescla de desenho e pintura para retratar pescadores que se preparam para o trabalho ou que chegam da lida. A série foi concebida durante o período de isolamento da pandemia de covid-19 e complementa outro trabalho no qual o artista faz assemblages a partir da coleta de restos de embarcações.
Marcone procura fazer poucas interferências nesses materiais recolhidos nos arredores de Marabá. Eventualmente, pode lixar as superfícies para ressaltar o veio da madeira ou uniformizar os restos de pinturas, mas sem alterar excessivamente os materiais. Esses objetos também ganham restos de carrocerias de caminhões. "Essas assemblages têm uma relação muito forte com a pintura porque, como esses madeiras já estão pintados, eles acabam incluindo as pinturas", observa Luciana Paiva. "São trabalhados em que o artista interfere pouco e são uma abstração geométrica."
O processo de Marcone se assemelha ao de Shevan na coleta de materiais, embora a maneira de juntá-los seja diferente. "Shevan tem uma característica mais artesanal no trabalho, ele interfere mais", avisa a curadora, ao lembrar que parte das obras foram realizadas na própria galeria, durante uma residência do artista no local. O formato do projeto Temporada de Exposições - Contraêxodo: Estratégias de Inserções, que deu origem ao conjunto de exposições na Pé Vermelho, inclui dar destaque a artistas do DF, por isso AYA e Shevan estão na mostra. "Aya tem um trabalho no qual pensa a questão da marginalidade através tanto dos materiais que utiliza, quanto do gesto da pichação", explica a curadora. "Os três têm em comum essa coleta de materiais descartáveis, que não estão mais no uso corrente, e a realização de composições ou instalações e objetos que tendem à abstração. Então a maioria das composições nessa exposição é abstrata."
De acordo com a curadora, o artista convidado é sempre o ponto de partida para pensar nos artistas locais. "Marcone tem essa relação muito forte com a cidade dele e tem uma circulação muito grande", diz Luciana. O paraense vai realizar uma exposição no Rio de Janeiro em fevereiro e parte das obras selecionadas são as assemblages feitas com restos de embarcações e carrocerias de caminhões.
Serviço
Encruzilhada
Exposição 2 do projeto Temporada de Exposições — Contraêxodo: Estratégias de inserções. Obras de AYA (DF), Marcone Moreira (PA) e Shevan (DF). Curadoria: Gisele Lima e equipe do Pé Vermelho. Visitação até 2 março, na Galeria Pé Vermelho ( Av. 13 de maio, quadra 57 lote 6 - Praça São Sebastião — Planaltina).
Palestra Produzir à Margem
Com a participação dos artistas da mostra Bença. Dia 25 de janeiro, às 18h
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