O campo no qual Orlando Brito brilhava sempre foi o da política, mas havia outro, o tradicionalmente ocupado pelo futebol, para o qual ele olhava de soslaio e registrava sempre que podia. Durante mais de três décadas, o fotógrafo captou imagens que colocavam em evidência a importância e a presença constante da bola na vida do brasileiro. Foram décadas de olho nos campinhos de futebol, nas peladas de rua, no gramado autorizado pela Fifa e no gol improvisado no meio da aldeia indígena, uma persistência que agora ganha livro com lançamento amanhã, às 19h, na Livraria da Travessa do Casa Park. Futebol do Brasil: sonho e realidade reúne fotografias resultantes de três décadas de trabalho e observação Brasil afora.
Sonho e realidade era um projeto do próprio Brito, morto em março de 2022. Ele chegou a planejar o livro, editou as imagens, fez as legendas, mas não houve tempo para correr atrás do patrocínio. "Pouco antes de morrer, ele tinha deixado esse livro produzido e não deu tempo de publicar. Chegamos a fazer um projeto pela Lei Rouanet. E fiz questão de, no fim do ano passado, em parceria com uma empresa, conseguir lançar para honrar esse trabalho que já estava pronto", explica a filha, Carolina Brito, que terminou de editar o livro graças ao patrocínio da Reag Investimentos.
Editado pela Almedina, inteiramente em preto e branco, com 155 páginas, em formato de retângulo e com uma diagramação horizontal, o livro é o quinto de Orlando Brito e explicita uma paixão do próprio fotógrafo pelo esporte e pelo Brasil. Carolina conta que, antes da Copa do Mundo de 1994, ele já se dedicava ao projeto. "Quando fez a cobertura do tetra, ele já vinha pegando fotos. Ele entendeu ali que conseguia fazer umas brincadeiras entre o sonho, a realidade e o futebol no Brasil", conta. "Uma criança que sonha em ser o Taffarel ou o Ronaldo Fenômeno, por exemplo. Ele conseguia ir fazendo esse paradigma das duas histórias ao longo de diversas coberturas que fazia de jogos de futebol. Por exemplo, um menino no interior do Maranhão, ele fazia a mesma posição no gol do Maracanã. Ele viu que isso poderia ser uma boa antítese entre o sonho e realidade do futebol", conta Carolina.
Vascaíno, Brito era grande admirador do esporte, sobretudo quando se tratava daquele praticado nas décadas de 1950 e 1960. "Ele admirava os jogadores antigos todos", conta Carolina. No livro Senhoras e senhores, publicado em 1993, retratou o zagueiro Domingos da Guia. "E ele era vascaíno, independentemente de estar perdendo, ganhando ou passando vergonha. Tinha orgulho e defendia", garante a filha.
Brito era um dos nomes mais importantes da cobertura fotográfica da política brasileira. Laboratorista do Última Hora aos 14 anos e repórter aos 17, o fotógrafo realizou registros históricos de mais de cinco décadas de política nacional. Oficialmente, chegou a cobrir um mundial, o de 1994, quando o Brasil levou o tetra. Extra-oficialmente, costumava fazer coberturas sempre que podia. "Ele ia fazer uma campanha de um candidato em Recife e via uns meninos jogando bola na praia, fotografava. Depois encontrava a mesma cena em Brasília. Acho que, de cobertura mesmo, foi somente a do tetra. O restante foi reunindo fotos feitas durante os anos. Ele ia atrás da mesma foto e tinha o livro todo montado na cabeça. Só precisava compor as fotos que estavam faltando. É um trabalho bem de fotojornalista, a de encontrar a cena na hora que ela acontecia e registrar", conta Carolina, que escreveu o texto do posfácio. Os dois textos que abrem o livro ficaram a cargo do jornalista Fabio Altman e do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
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