Música

Olívia Hime lança álbum em homenagem ao marido e parceiro, Francis

Cantora lança álbum somente com interpretações de composições das parcerias memoráveis do compositor com Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro

Olívia Hime: homenagem ao compositor 
Francis Hime  -  (crédito: Nana Moraes/Divulgação)
Olívia Hime: homenagem ao compositor Francis Hime - (crédito: Nana Moraes/Divulgação)
postado em 17/04/2024 10:21 / atualizado em 17/04/2024 10:28

Olivia Hime diz que não tem o hábito de mostrar letra de composição para Francis Hime, antes de estar pronta. E quando o faz costuma se beneficiar dos comentários dele, que considera sempre precisos. Por um lado, para ela, é confortável trabalhar perto do compositor. "Mas, por outro lado, dá um frio na barriga porque o Francis tem parceiros memoráveis, como Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro", ressalta.

Isso, porém, não chegou a ser empecilho para que se tornasse parceira dele. Olívia foi além ao gravar Se eu te eternizar, um álbum em que homenageia o marido e que pode ser visto como uma verdadeira declaração de amor pelo companheiro de vida há quase 60 anos. O disco está disponível nas plataformas digitais.

Esse projeto, que tem direção musical de Francis, traz 12 faixas, resultou de apurada seleção no acervo do compositor, como parcerias com Chico Buarque (Pássaras), Paulo César Pinheiro (Círculo fechado), Cacaso (Ribeirinho), Geraldo Carneiro (A invenção da rosa e O eterno), Tiago Amud (Breu e Graal), Zélia Duncan (Valsa sedutora), além das canções que ela criou com o marido (Amorosa, Mar enfim, Menino de mar e Meu melhor amigo).

Sobre o parceiro e a amiga, Duncan escreveu: "Olívia revela um Francis, que traduz uma Olívia, que, seduzida pelo jovem compositor, conhece o homem que se encanta pela jovem artista. Se casaram há 58 anos, continuam se observando amorosamente e assim vão sempre se revelando um para o outro. Um tanto dessa beleza escorre pra nós, eternizando a melodia, letras e canções sem fim".

Entrevista / Olívia Hime

Parceira de Francis na vida e na arte, quando surgiu a ideia de homenageá-lo com esse projeto?

Assim como eu, durante a pandemia, todo mundo ficou botando a cabeça para pensar o que fazer naquele momento. Eu fiquei revendo as canções de Francis, canções antigas, belíssimas, que eu não havia gravado ainda. Esse foi o mote, o primeiro mote, era assim, o que eu não havia gravado de Francis. E algumas inéditas que eu encontrei, como a de Francis com Paulo César Pinheiro, Círculo fechado, que tem 40 anos e que nunca foi gravada, e algumas inéditas — dele com Zélia Duncan (Valsa sedutora) e minha com Francis, Menino de mar. Se não me engano, acho que são as três inéditas. E eu não havia cantado, com exceção de Meu melhor amigo, que foi a primeira parceria com o Francis e ele queria muito que eu regravasse essa música. Então essa foi a ideia, eu queria fazer uma busca nessas canções tão belas.

Como define a longa relação pessoal com o marido?

Esta segunda pergunta, ou eu vou banalizar a resposta ou sintetizar. Vou te dizer assim, como uma vez  disse num programa, acho que a relação de uma pessoa com a outra com tanto tempo de vivência,  a gente tem que se surpreender com o outro sempre. Seja com o filho, seja com o amigo, seja com o seu companheiro, tem que ter sempre esse elemento de surpresa. Eu sempre me surpreendo muito com o Francis. Eu não tenho muito o que te dizer, a não ser que eu entre numa conversa que vai demorar uma semana.

As músicas do repertório são de que período?

As músicas do repertório variam muito de época, mas eu te digo mais ou menos assim. Valsa sedutora, que abre o disco, é de Francis e de Zélia, do ano retrasado. Ela é inédita, é logo de quando gravei. A segunda música, o Breu e graal, Francis já havia gravado. É do Francis com o Thiago Amud, e foi gravada no disco Hoje, de Francis. Portanto, deve ter uns cinco anos. Pássara é uma canção que foi escrita para uma peça da Marilena Ansaldi, chamada Geni, inspirada na música homônima. E eu não sei se Pássara chegou a entrar na peça da Marilena, era um musical, na década de 1980. Depois, tem O mar enfim. É uma letra que  escrevi durante a pandemia, mas é uma canção muito antiga de Francis, que sempre amei. O Ronaldo Bôscoli quase escreveu uma letra para ela, acabou não escrevendo, graças a Deus, que eu queria muito escrever essa letra.

Então você acabou escrevendo...

Eu gosto tanto dessa música que  pedi a Francis que fizesse a música inteira instrumental antes. Como você deve ter percebido nos meus discos, gosto muito de instrumental. Dori Caymmi que me pergunta: "Ô, Olivia, os teus discos, você tem que decidir se é um disco de instrumental ou se é de cantora. No Mar de algodão, em homenagem ao pai dele, metade do disco é instrumental. Depois, tem Menino de mar, que o Francis gravou no disco dele também, o último disco dele, mas eu nunca havia gravado. Eu pensava muito na voz do Dori e o convidei para cantar comigo. Francis fez essa música logo depois que ele gravou um disco com o Guinga. Mas eu fiz a letra bem depois, na época do disco Hoje. Amorosa é uma valsa que o Francis havia composto há uns 10 anos e eu fiz a letra para o disco que ele canta Amorosa, comemorativo pelos seus 50 anos. Círculo fechado, essa com Paulo César Pinheiro, é muito antiga. Letra incrível, música incrível. Eles eram bem jovens, na faixa dos 20 e poucos, 30 anos e poucos anos e, por algum motivo, ela escapava. Dessa vez, ela não me escapou. É linda. Ribeirinho cantei num show chamado Cada canção, que fiz com Francis e Raphael Rabello no Rival. A letra é do Cacaso. Anunciação tem uma única gravação, do MPB-4. É muito antiga e foi defendida num festival da Record. A invenção da rosa, parceria de Francis com Geraldo Carneiro, está no disco Arquitetura da flor. Depois tem Meu melhor amigo, a única música que já tinha gravado. É a nossa primeira parceria e, curiosamente, gravei com o mesmo arranjo e a mesma tonalidade. O eterno retorno, outra do Francis com Geraldo Carneiro, também está num disco duplo só com parcerias dos dois, de 2011, por aí. Também nunca tinha gravado.

Autora de letras, já se imaginou criando melodias?

Criei uma única melodia, que é a Estrela da vida inteira, com um poema de Manuel Bandeira. Para um disco de poemas de Bandeira, que tem o mesmo título. Foi a única melodia que eu compus. Tenho algumas ideias. Às vezes, surgiram algumas melodias ou alguns finais, algumas coisas a Francis. E ele aceita com muita generosidade uma música ou outra. Eu digo, Francis, quem sabe esse final não seria melhor de outra forma? Tem umas duas músicas que eu sugeri e ele achou melhor. Mas não vejo por quê. Não me vejo capacitada para isso.

O show que estreia no Rio de Janeiro será apresentado em outras cidades?

Este show foi apresentado em São Paulo, no Sesc e, sim, eu pretendo fazer no interior de São Paulo e pretendo fazer os Sescs aqui do Rio também. Isso, né? Imagina, claro, quero fazer sempre. Hoje em dia, com os músicos que a gente trabalha, que são esses magníficos músicos, não é muito fácil, não é? A gente tem que botar na lei, tem que conseguir patrocínio, mas, sim, quero muito fazer.

 


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