MÚSICA

Banda Francisco, el Hombre anuncia pausa, álbum e turnê de despedida

O Correio conversou com dois integrantes da banda para entender melhor essa nova fase do grupo

Banda Francisco El Hombre -  (crédito: Fabien Espinasse/Divulgação)
Banda Francisco El Hombre - (crédito: Fabien Espinasse/Divulgação)

Após 11 anos de trajetória, o grupo brasileiro Francisco, el Hombre — conhecido pela canção Triste, Louca ou Má — anuncia pausa por tempo indeterminado. A notícia foi dada pelas redes sociais no dia 7 de março e foi acompanhada do anúncio do último disco e turnê, intitulado Hasta el Final. A estreia está prevista para, respectivamente, os dias 8 e 10 de maio. O motivo do fim, segundo os integrantes, seria a necessidade de um tempo para descansar e renovar as inspirações e energias de cada um.

O conceito do novo álbum vem da ideia de teletransportar o ouvinte para uma apresentação ao vivo. Para isso, o grupo traz 16 faixas e nove canções inéditas, repletas de muitos feats. Do total, duas faixas foram adiantadas e estão disponíveis nas plataformas digitais de áudio. São elas: O que existe é o agora, feat com Lenine, e Ensimesmado, com Mart'nália e Ilú Obá De Min. O último single, Outono, chega dia 24 de abril e conta com a participação de Pato Fu.

Em 2023, o grupo viajou pelo país com a turnê que marcou uma década de trajetória, intitulada 10 años. Nela, eles trouxeram clássicos que atravessam todas as fases do quinteto com uma nova roupagem. Como um fechamento completo de ciclo, a estreia e o encerramento foram na mesma cidade, Brasília. Essa fase também rendeu um disco inédito produzido em estúdio, que traz arranjos aperfeiçoados ao longo dos anos e uma energia de música ao vivo.

Quinteto formado por Mateo Piracés-Ugarte, Sebastianismos, Lazúli, Helena Papini e Andrei Kozyreff, a banda é caracterizada por misturar elementos da música latino-americana, mexicana e brasileira. Com versos em português, inglês e em espanhol, eles acumulam participações em grandes festivais como Lollapalooza Brasil, em 2018, Rock in Rio, em 2019 e 2022, e Rock in Rio Lisboa, em 2022.

Entrevista//Mateo Piracés-Ugarte e Helena Papini

Como equilibrar duas fases tão opostas e significativas, em que vocês saem da turnê de comemoração de 10 anos de carreira para um “até logo” para o público?

Helena: É muito doido esse momento de transição e ainda é uma pergunta que eu não sei exatamente como responder, porque eu sinto que essa ficha vai cair ao longo do processo. Eu imagino a gente tendo muitas sensações de nostalgia e o clima da banda se transformar em um clima de despedida. Porque para além da gente parar enquanto banda, para além das pessoas que gostam do nosso trabalho sentirem saudade da gente, tem uma coisa que é a gente sentir saudade da gente.

Qual o saldo da Tour 10 Años? E quais as expectativas para Hasta el final?

Mateo: A turnê de 10 anos trouxe a oportunidade de fazer uma retrospectiva e entender quem somos nós, qual é nossa trajetória, quais são as musicalidades e que tipo de conexão a gente gosta de criar com o público. Então a gente conseguiu dar uma boa olhada na nossa carreira, se reconectar com muita gente que a gente não via faz muito tempo, com uma musicalidade de nossos estudos latino-americanos, porém tudo repaginado com a Lena — a integrante mais recente da banda e que traz uma carga musical e profissional muito grande. Foi como uma terapia. Nós pegamos e nos centralizamos, nos entendemos novamente para poder tomar um novo passo para a frente.

Helena: E sobre a gente se entender enquanto frente ao mercado foi muito importante. Essa temporada de celebração dos 10 anos preparou muito esse caminho para a gente se ver um pouquinho de fora e entender o valor e a importância que a banda tem no cenário da cultura do nosso país. Foi uma grande pesquisa, uma investigação interna bem bacana de vivenciar.

Vocês disseram, via rede social, que estão vivendo o melhor momento da banda. Então, por que dar uma pausa agora?

Mateo: Entramos em uma rotina completamente maluca, imprevisível, uma rotina de banda. A gente viajava para muitos lugares, conhecia gente diferente e tocava shows distintos. Acho que todo mundo sente um pouquinho dessa necessidade de respirar, porque é normal depois de 10, 11 anos trampando, que a rotina apague um pouco. Cada um precisa dessa respirada. Eu sei que, como artista, compositor, produtor, amigo, vou conseguir entregar muito mais com um tempo de respiro. A gente precisa dessa pausa para descansar e, nesse período, todo mundo vai fazer algo muito legal. E a gente também sabe que, se precisar, temos um coletivo humano que pode se ajudar e se apoiar. Somos família.

O que vem depois da Hasta el Final? Quais caminhos vocês pretendem seguir nessa pausa?

Mateo: Minha primeira grande preocupação é não trabalhar por pelo menos três meses, porque eu sou viciado em trabalho. Mas eu acho que eu também estou precisando viver coisas novas. Então, eu pretendo fazer bastante pesquisa musical, especialmente falando de pesquisas rítmicas latino-americanas. Tenho muita vontade de me aventurar um pouquinho pelo Caribe e Norte do Brasil, para ficar por lá um tempinho.

Helena: Eu completei este ano 21 anos de carreira e nesse tempo eu fiz muita coisa, menos lançar um trabalho autoral totalmente meu. Estou com um disco prontinho. Compus todas as canções, gravei todos os instrumentos e fiz todas as coisas acontecerem. Então, o pós Francisco é uma oportunidade de canalizar mais energias nesse sentido, para eu poder me jogar de cabeça nesse trabalho e fazer coisas que vão me remeter mais ao começo da minha carreira. Então, vai ser uma época de frescor, de novas coisas e da gente fazer coisas diferentes.

Por Hasta el Final ser um álbum que marca a despedida dos palcos, ele está nostálgico? Como esse “até logo” influenciou na produção dele?

Mateo: Eu acho que foi nos finalmentes do disco que essa nostalgia começou a entrar, porque chega a sensação de que essas são as músicas que vão ficar tocando por muito tempo enquanto a gente não lança nada. Então o que a gente quer deixar? À medida que foi batendo essa emoção, foi dando mais um gás. O disco já está pronto, mas as outras questões não. Então, como que a gente quer que sejam as nossas últimas imagens, vídeos e disco. Então vai batendo uma emoção a mais. Tudo é mais especial.

Helena: Esse álbum tem uma teatralidade muito interessante e é uma maneira muito elegante da gente se despedir por um tempo das pessoas. Eu realmente acho esse trabalho brilhante, enquanto espetáculo auditivo. Acho que as pessoas vão ser muito tocadas.

Qual o conceito principal do álbum?

Mateo: Quando você dá play no álbum você é transportada para um ao vivo da banda. Então, ele é, de certa forma, um culto ao saudosismo, porque tem esse conceito de voltar ao ao vivo e a essa conexão com o público. As músicas são fonogramas normais, porém, de repente, elas vêm e se conectam com o público e voltam, e vêm e voltam.

Helena: Acho que o conceito deste disco é, de certa forma, muito novo, dentro do trabalho da Francisco. Ele tem um pouco de aprendizado dos 10 años, mas isso também se deve muito ao trabalho de Mateo como produtor musical de pesquisar, propor e trabalhar muito para que esse conceito se materialize em forma de disco. Eu acho que, para as pessoas que ainda gostam de ouvir álbuns completos, esse disco é um prato cheio, porque ele realmente te propõe um caminho do começo ao fim.

Começar a turnê em Porto Alegre tem algum significado para vocês?

Mateo: No começo da banda, a rota que a gente mais construiu era para o Sul, passando pelo Uruguai, Argentina, Chile e voltava. Então a gente fez essa rota várias vezes e passou muito por Porto Alegre. Começar de Porto Alegre para Curitiba e depois ir para São Paulo, Rio de Janeiro, é o caminho de volta. Me parece que a gente tá voltando pra casa.

*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel. 

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postado em 19/04/2024 17:25 / atualizado em 19/04/2024 17:25
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