SOM DAS UTOPIAS

Novo álbum de João Bosco 'Boca Cheia de Frutas' homenageia ancestrais

Álbum de inéditas conta com participações especiais e mantém estilo do lendário cantor e compositor

João Bosco canta sobre o passado o presente e o futuro -  (crédito: Victor Correa/Divulgação)
João Bosco canta sobre o passado o presente e o futuro - (crédito: Victor Correa/Divulgação)

Aos 77 anos, João Bosco faz uma volta ao passado com um olhar para o futuro porque a música, segundo ele, é uma eterna utopia. O boêmio carioca fez um resgate do passado, canta em Yanomami e lembra de velhos parceiros da Bossa Nova. O disco inédito Boca cheia de frutas é um presente para os que amam MPB e sentem falta de algo novo vindo dos nomes que pavimentaram o caminho da música brasileira.

O disco é todo formado por músicas inéditas, com exceção de uma versão de Cio da terra, de Milton Nascimento e Chico Buarque. Sete das faixas são em conjunto com Francisco Bosco, filho do músico que auxiliou na concepção final do projeto. Roque Ferreira também participou de uma canção. O craque Aldir Blanc está creditado, uma vez que João, amigo de longa data, deu melodia a uma letra deixada pelo parceiro que faleceu.

Mantendo o estilo que o fez seguir na música há mais de 50 anos, João Bosco define o novo trabalho. "Ficar sempre à procura da música é uma utopia. Saber que estou falando dessas utopias é o que me mantém vivo", afirma ele ao Correio.

O disco surge dessa necessidade de continuar vivo, afinal, a própria arte é o combustível para seguir em frente. Ele acredita que só de tentar já é viver essas utopias. "Essa iniciativa, essa vontade, essa perseverança, essa resiliência, ela tem que ser parte da nossa vida. Então, a música brasileira é isso. Se eu realmente não tiver o sentimento de procura de um novo sonho através da música, não sei, eu acho que eu teria uma vida muito a desejar. Não seria bom para mim, eu nem sei se conseguiria viver assim", reflete o artista. "O fato de você insistir para que isso aconteça é a grande coragem. É aí que reside a grande utopia, o grande desejo, o grande sonho, é esse que nós não podemos perder", complementa.

Seja na língua que for ou apenas com o violão na mão, João Bosco quer deixar uma mensagem para o futuro. "Essas músicas são memórias para um momento contemporâneo. Assim, de repente, a gente possa olhar para frente e ter alguma forma de viver de esperança, de continuidade, de uma herança que a gente tem que deixar para aquelas gerações que estão vindo, como nós herdamos de gerações anteriores", explica.

Porém, o futuro é apenas parte do processo. Para chegar até ele é preciso o passado e as memórias ele relacionadas. Por esse motivo, João Bosco exalta o que chama de ancestrais. Um raciocínio que diz respeito aos ancestrais de terra, como os Yanomami, os ancestrais espirituais como os orixás ou os ancestrais na arte, em que cita nomes como Tom Jobim, Candeia, Clementina de Jesus, João Gilberto e Dorival Caymmi. "De uma maneira ou de outra, estou fazendo o meu trabalho ao lado dessa ancestralidade que está me acompanhando", pontua.

Para o autor da obra, cada um tem uma forma de se expressar e o álbum foi a que ele encontrou, com os parceiros, para transmitir os sentimentos de uma jornada de vida de 77 anos e mais de 50 pelos palcos do Brasil e do mundo. "Esse álbum vai se transformando em música popular, porque essa é a nossa linguagem, essa é a nossa maneira de expressar, tem nossas ancestralidades e as vivências que fazem parte da nossa memória", diz.

Cíclico como a vida

"Pisa no carvão e recomeça a ser, esse disco é como uma fênix, um ciclo", representa de forma imagética João Bosco. O disco, para ele, segue uma narrativa clara que passa por sentimentos como melancolia, desespero e chega a esperança, busca que parece ser incessante na carreira do músico renomado. "A gente espera que por meio de todas essas discussões que estamos tendo hoje, possa resultar num futuro com essa abundância que o disco almeja", aponta.

A ideia de ciclo vem dessa noção de que a vida passa por momentos difíceis, mas volta em algum ponto para o vislumbre de que tudo tem o horizonte de melhorar. "Viver é, de fato, ter expectativas e vislumbrar o futuro e, nesse sentido, então, ele tem esse ciclo", acredita João Bosco, um homem que não perde a fé. "Vou acreditar sempre. Estarei continuamente olhando para a luz, gostando da canção, gostando da música, e muitas dessas vibrações, eu tenho olho na vida"

O trabalho narrativo é redondo como o ciclo que João propõe e, assim como um bom roteiro de um filme, explica o próprio nome de forma sutil, para que o público possa caminhar de mãos dadas com o autor que o conduz durante a trajetória da obra. "Esse disco começa sério e, ao longo da viagem pelos meus 77 anos, vai ganhando cores e termina com a boca cheia de frutas. Encerra com uma expectativa de abundância, de florescimento, de virtuosidade e de beleza", exalta.

 


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postado em 19/05/2024 08:12
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