Formada na década de 1990, a banda mineira Jota Quest desconhece o fracasso. Alguns dos maiores sucessos do grupo, como Encontrar alguém e Fácil, foram lançados logo nos primeiros anos de carreira e tornaram-se responsáveis por dar início a um rol de músicas que entraram para o imaginário brasileiro. Quase 30 anos depois, o quinteto, que mantém a formação original até hoje, não desiste de emplacar novos hits e lança o nono álbum de estúdio, De volta ao novo.
"A gente nunca tinha demorado tanto tempo para lançar um disco", destaca o vocalista Rogério Flausino em entrevista ao Correio. Antes, o último lançamento inédito da banda tinha sido em 2015, com Pancadélico. O novo projeto, que soma ao todo 23 faixas, vem como uma coletânea de singles lançados nos últimos quatro anos e músicas compostas exclusivamente para o álbum.
"A pandemia veio para embaralhar as cartas todas, porque foi um período que bagunçou a cabeça de todo mundo. A gente é uma banda que precisa se encontrar, tocar junto, gravar disco junto e, naquele momento, nós não conseguíamos fazer isso", lembra o cantor. Com a necessidade de ficar em casa, os artistas decidiram começar a gravar faixas avulsas para serem disponibilizadas on-line para os fãs.
Uma delas, por exemplo, A voz do coração, parceria com Rael, foi gravada completamente a distância. A música eventualmente se tornou parte do repertório do De volta ao novo, ao lado de canções que contam com a participação de nomes como Sérgio Britto, fundador do Titãs, Lucas Silveira, vocalista da banda Fresno, o pagodeiro Dilsinho e o rapper FBC.
Mesclando do samba ao rap, o lançamento do Jota Quest não deixa de lado o ritmo que os levou ao estrelato: o pop. "O nosso quarto disco se chama Discotecagem pop variada. O Jota Quest é isso. É aquela festa que toca black music, depois rock, seguido de um reggae e, no final, emenda com disco", descreve o mineiro. "Nosso pop é uma mistura de referências desde a MPB até a música eletrônica", acrescenta.
O novo projeto chega em meio a uma das fases mais bem-sucedidas do grupo. Em dezembro, o quinteto encerra a maior turnê da carreira, Jota25, em celebração aos 25 anos de estrada. Em Brasília, o show comemorativo ocorreu em outubro de 2022, no Mané Garrincha. "Entregar um bloco de canções novas é um desafio absurdo para uma banda de tanto tempo, porque muitas coisas poderiam ter acontecido para nós não termos chegado até aqui. Então, o processo de decidir fazer um disco até ele ficar pronto é muito sério para nós", assegura Flausino.
Para os músicos, o álbum é mais uma oportunidade de se reconectar artisticamente em busca de um novo repertório, sem esquecer da trajetória que viveram até aqui. "Essa volta ao novo é tentar encontrar na gente a primeira chama, o despertar da razão pelo qual nos tornamos uma banda", explica. "A gente está sempre tentando encontrar dentro de nós uma vontade que realmente nos impulsione", complementa o integrante.
"Eu cheguei em Belo Horizonte em 1993 e peguei a cidade explodindo. Skank, Pato Fu, Virna Lisi, eram bandas de tudo quanto é jeito tocando em tudo quanto é lugar. Menino vindo do interior, achei uma cidade maravilhosa. Eu sempre brinco que o trem estava passando e eu falei: 'Peraí, deixa a gente ir também', e nós pegamos o último vagão", conta.
Parceria
Flausino garante que, apesar de não haver fórmula secreta por trás do sucesso e da longevidade do Jota Quest, a manutenção da amizade e da relação entre os cinco é essencial. "É muito difícil acontecer com uma banda o que aconteceu com o Jota Quest, chegar nesse ponto da carreira com tantos sucessos, enchendo shows e ainda fazendo música. A gente tem que cuidar disso demais, e cuidar disso é cuidar do nosso relacionamento", avalia o cantor.
"Uma coisa que nós sempre tentamos fazer é passar por cima dos individualismos em detrimento do que é coletivo", afirma. "Tem que ceder, tem que ouvir o tempo todo. É um desafio, mas a recompensa é maravilhosa. É estar, 30 anos depois, lançando um disco novo na maior empolgação, na reta final da maior turnê que a banda já fez na vida", comemora.
O cantor revela que, apesar de sempre ter sonhado em tocar em grandes estádios, como ocorreu na Jota25, ele pensava que o tempo havia passado. "Nem todas nossas músicas viraram hits, nem todos os álbuns foram sucesso de vendas, mas, no fim do dia, a gente consegue fazer um show de duas horas e meia e 27 músicas cantadas com a ajuda do público", destaca. "Uma música pode mudar a vida de alguém. E poder fazer parte da playlist da vida dos outros é muito chique", sorri o artista.
Em paz com o futuro, como canta a faixa que dá nome ao novo disco, o quinteto agora vislumbra os próximos 30 anos de banda. "Muitas vezes, a gente começa a conversar com as pessoas e elas já partem da ideia de que a banda vai acabar, e eu sempre falo: 'Cara, nós não vamos acabar'", declara. "A gente tem que cuidar desse legado com responsabilidade, carinho e amor, porque foi isso que nos trouxe até aqui. Eu não pretendo abrir mão disso assim tão fácil", finaliza Flausino.
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