Oscar 2025

Oscar 2025: O impacto da indicação de 'Ainda estou aqui' ao prêmio

A tripla indicação de 'Ainda estou aqui' ao Oscar gerou repercussão nacional. Professor e crítico de cinema, Sérgio Moriconi discorre sobre a relevância da nomeação

 Selton Mello, Fernanda Torres e Walter Salles: o cinema brasileiro alcança novo patamar -  (crédito:  Instagram/Selton Mello)
Selton Mello, Fernanda Torres e Walter Salles: o cinema brasileiro alcança novo patamar - (crédito: Instagram/Selton Mello)

O anúncio da indicação do Prêmio Oscar para o longa Ainda estou aqui, de Walter Salles, nas categorias Melhor filme e Melhor filme internacional, e para Fernanda Torres, na categoria Melhor atriz, provocou repercussão no Brasil. O professor e crítico de cinema Sérgio Moriconi entende que a relevância do destaque no prêmio se dá em três planos: de mercado, simbólico e político.

Do ponto de vista do mercado, a indicação de Ainda estou aqui eleva o cinema brasileiro a outro patamar de interesse. O Oscar tem o poder de desencadear uma espiral superpositiva: "Só a indicação já valoriza muito, mas se o filme ou a Fernanda ganharem, duplicarão o prestígio do cinema brasileiro. Deixará explícito para o mundo que o Brasil tem condições de fazer produções de grande valor".

A indicação ao prêmio afeta, positivamente, um aspecto simbólico importante. Sérgio acompanha as revistas internacionais especializadas e percebeu que o cinema brasileiro não ocupava mais espaço: "Quando Milei ganhou a eleição, só se falava em cinema argentino. O Brasil estava desaparecido. A partir de agora, o cinema brasileiro será visto com outro olhar mais atencioso".

O terceiro aspecto é o de que a indicação ao Oscar potencializa o alcance do debate político que Ainda estou aqui provoca. O filme dialoga com as circunstâncias da realidade brasileira, da América Latina, da Europa e dos Estados Unidos: "Na América Latina, o Milei tenta apagar o passado da ditadura. Afirma que foi muito boa para acabar com o comunismo. Nos Estados Unidos, o filme se confronta com a ascensão de Trump. E, na Europa, com a expansão da extrema direita".

"Ainda estou aqui é um filme límpido. O maior mérito é que, sem falar, explicitamente, de política, mostra o impacto da ditadura em uma mulher e em uma família. Qualquer pessoa pode entender. Tanto que os bolsonaristas não conseguiram falar nada sobre o filme. O ex-presidente Jair Bolsonaro disse apenas que mais uma vez se jogava dinheiro público para fazer um filme ruim. E isso também é falso, não há um centavo de dinheiro público na produção do filme", finaliza o professor.

Severino Francisco
postado em 23/01/2025 12:44 / atualizado em 23/01/2025 12:52
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