dramaturgia

"Ator precisa entender lado humano do personagem", afirma Leopoldo Pacheco

Prestes a estrear no espetáculo "A Paixão de Cristo" de Nova Jerusalém, Leopoldo Pacheco vive desafios intensos no teatro, no cinema e no streaming e explica a sua relação de empatia e diversão com os vilões que interpreta ao longo da carreira

Leopoldo Pacheco, ator -  (crédito: Ale Catan/Divulgação)
Leopoldo Pacheco, ator - (crédito: Ale Catan/Divulgação)

Conhecido por sua versatilidade nos palcos, na televisão e no cinema, o ator Leopoldo Pacheco está em uma fase intensa da carreira. Em cartaz com a peça Sangue, ele também pode ser visto na série Sutura, no Prime Video, finaliza as gravações do filme O quarto do pânico e está prestes a interpretar Pôncio Pilatos na tradicional encenação de A Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, Pernambuco. Em entrevista ao Correio, o ator de 64 anos falou sobre sua preparação para os papéis e os desafios de conciliar múltiplos projetos.

Em fim de temporada em Brasília, Sangue, escrita por Kiko Marques, explora relações de poder e dominação nos bastidores do teatro. Pacheco interpreta Victor, um francês que se vê confrontado por personagens brasileiros em uma narrativa densa e cheia de camadas.

"É um texto complexo, que aborda temas como violência contra a mulher e racismo, sempre dentro do universo teatral. O choque leva meu personagem a um processo de autodestruição. Foi uma experiência curiosa interpretar essa figura", conta Leopoldo. "É um texto com muitas camadas e sempre falando do nosso trabalho. Então, é realmente um caleidoscópio de imagens e de leis, de lugares onde a gente pode se encontrar." 

Com temporadas bem-sucedidas em São Paulo e Belo Horizonte, Sangue agora encerra sua jornada na capital federal. "Tem sido uma surpresa. A peça já estreou com casa cheia, e o público está respondendo muito bem", comemora o ator paulistano.

Sangue Com Carol Gonzalez, Leopoldo Pacheco, Marcos Suchara e Rogério Brito. Direção: Kiko Marques. Amanhã e sábado, às 20h, e domingo, às 18h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - Asa sul Trecho 2). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos
"Sangue", de Kiko Marques, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) (foto: Janderson Pires)

Ética, terror e paixão

Além do teatro, Leopoldo Pacheco estrela a série Sutura, onde contracena com Cláudia Abreu. Ele interpreta um personagem envolvido em crimes do colarinho branco dentro de um hospital, em um embate intenso com a personagem da atriz. "A série tem um roteiro excelente e traz uma abordagem envolvente sobre corrupção e dilemas éticos dentro de um hospital. Eu faço esse cara que comete crimes do colarinho branco", destaca.

Leopoldo enaltece a parceria com a colega Claudia Abreu. "Em duas novelas eu trabalhei com a Cláudia: em Belíssima, a gente contracenava muito pouco, e em Cheias de charme, em que infelizmente não contracenamos. Agora, tive o prazer de fazer Sutura com ela. A Cláudia é uma atriz estupenda. Tenho um orgulho de ter trabalhado com ela muito grande."

  Leopoldo Pacheco, ator
Leopoldo Pacheco, ator (foto: Globo/Paulo Belote)

No cinema, Pacheco finaliza as filmagens de O quarto do pânico, adaptação brasileira do thriller estrelado por Jodie Foster. Ele interpreta o pai da protagonista, Isis, vivido por Marina Provenzzano. "É um filme de terror psicológico dirigido por Gabriela Amaral. Tem um elenco incrível e uma abordagem muito interessante para essa releitura. Meu personagem reaparece no final para ser usado como ferramenta de manipulação, o que adiciona uma tensão extra à trama", revela.

Agora em abril, o ator assume o papel de Pôncio Pilatos na tradicional encenação de A Paixão de Cristo em Nova Jerusalém. Pacheco, que cresceu em uma família católica, embora não seja religioso, vê esta oportunidade como um momento especial em sua trajetória. "Essa peça está no inconsciente coletivo de todos. Eu sempre quis participar e, desta vez, deu certo. A grandiosidade do espetáculo, com mais de 400 figurantes e uma produção primorosa, torna essa experiência única".

Galeria de vilões

Com uma carreira marcada por personagens icônicos, Pacheco não se incomoda em ser lembrado por vilões como Leôncio, de A Escrava Isaura (2004), Hugo, de Salve-se quem puder (2020), César Montebello, de Fuzuê (2023), e, agora, Pedro Romanelli, em Sutura, e o próprio Pôncio Pilatos. "Me divirto muito interpretando esses personagens. Acho que todo ator precisa exercitar a empatia, entender o lado humano de cada papel. Nunca levei os vilões para casa, sempre fiz questão de 'deixá-los no camarim' ao fim do dia", brinca.

Crédito: Globo/ Divulgação. Cultura. Helena e Luna são ameaçadas por Hugo em Salve-se quem puder. Na cena, os atores Flávia Alessandra, Juliana Paiva e Leopoldo Pacheco
Hugo, um dos vilões marcantes da carreira do ator (foto: Globo/ Divulga??o)

"Hoje mesmo, eu estava voltando de viagem, no aeroporto, do Rio para São Paulo, e uma senhora me viu passando e acho que ela não sabia o meu nome. Ela começou a falar: 'eu gostava tanto da novela A Escrava Isaura...' Me chamou a atenção, eu olhei, sorri pra ela e comecei a conversar um pouco sobre isso. Eu estava falando como eu me diverti fazendo o Leôncio. Era prazeroso, eu realmente me diverti muito", recorda Pacheco.

Leopoldo conta que, quando fazia Leôncio, o personagem tinha um anel quadrado, com uma pedra azul, "bonito à beça". Quando chegava na Record para trabalhar, o ator punha o anel no dedo e falava: agora eu estou pronto. "E todo dia eu tirava o anel e punha dentro da caixa e falava: 'agora o Leôncio vai ficar aqui e eu vou embora para minha casa'. Eu brincava com isso todo dia. Deixava o Leôncio guardado na minha caixa e, no dia seguinte, eu pegava ele de volta. A minha relação, era um pouco essa. E assim, muitos personagens a gente faz dessa maneira", finaliza o ator.

postado em 03/04/2025 08:00
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