
Crítica // Emmanuelle ★★
Foram necessários cinco anos para que a censura brasileira liberasse, em 1979, a exibição daquele título que se tornou clássico num segmento que andou lado a lado com a pornochanchada nacional: o soft porn. Se em 1973, a holandesa Sylvia Kristel (morta há 13 anos) encarou a realização de três filmes, foi apenas um ano depois que ficou imortalizada pelo cinema, ao estrelar Emmanuelle, que transpôs para a telona o conteúdo do livro da francesa Emmanuelle Arsan.
Vencedora do Leão de Ouro, em 2021, no Festival de Veneza, com o longa O acontecimento, a cineasta Audrey Diwan era nome promissor no redesenho de Emmanuelle para os dias de hoje, num roteiro co-assinado Rebeca Zlotowski. Mas, glacial, quando comparado ao filme setentista de Just Jaeckin, o novo filme tem poucas cenas de alta voltagem, à medida em que a personagem-título de Noémie Merlant (Retrato de uma jovem em chamas) desfila, autônoma (e quase autômata), pelas acomodações de um hotel de primeira linha em Hong Kong; no filme, ela parece estender a função de gerente de controle (de hotel) para quem a cerca.
OK, a primeira cena, em avião (que referenda situação de sexo da fita original — e que faz menção ao chamado mile high club, ligado a orgasmos aéreos), é fluente em provocação e tensão decorrente de desejo. Entretanto, fica perdida a trama do filme original em que uma modelo, na Tailândia, ao lado do marido diplomata, testava as situações de pretensa liberação sexual e o tensionamento dos laços afetivos.
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Limites de prazer, no novo filme, parecem opacos e dão lugar a uma vazia renegação da presença masculina. Imersa no domínio de qualidade (no campo do trabalho), a nova Emmanuelle, que presencia uma rede de prostituição no hotel e, de jogatina, na noite, parece cercada de homens sem personalidade, a exemplo de Kei (Will Sharpe). Com apenas uma reveladora cena do uso de um cubo de gelo, Emmanuelle não tem profundidade, e não aproveita nem mesmo a presença da experiente Naomi Watts, na pele da mecânica Margot.
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