DEPOIMENTO

Ozzy Osbourne em Londres, 1978: audácia e voz especial

"Volto àquela noite de 1978 porque testemunhei o auge de um cantor especial e que muitos acreditavam ser somente um personagem. Longe disso: era um músico brilhante, com uma voz especial"

"Ozzy era um músico brilhante, com uma voz especial" - (crédito: STRINGER/BRAZIL)

Tenho a mais absoluta certeza de que todos aqueles garotos não poderiam imaginar que, naquele junho de 1978 (lembro que foi dias depois de meu irmão completar quatro anos de idade), apertados no Hammersmith Odeon, estavam vendo o capítulo final da presença de Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Era a turnê de 10 anos da banda e do lançamento do derradeiro disco com a formação original, Never Say Die.

Mover-se no meio daquela multidão, no velho, mas elegante, teatro/cinema/casa do shows, importava menos. Interessava era, além de Ozzy, ver e escutar Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward na ponta dos cascos. Jovens, criativos, brilhantes e autoridades absolutas sobre a plateia hipnotizada.

Chegar ao Hammersmith foi um inferno. O centro do mundo, naquela noite, era lá. E era para ver o pacote completo. A abertura do show estava a cargo do Van Halen, que tinha lançado, meses antes, o estrondoso Van Halen I. Não era a nova geração pedindo passagem aos quatro de Birminghan, mas pagando a eles respeito e reconhecimento.

O show do Sabbath começou como, depois, iniciariam-se os de Ozzy — com um excerto de O Fortuna, da ópera Carmina Burana. As luzes se apagavam e a banda, já no palco, atacava Symptom Of The Universe. Tudo em nome da tensão. A ordem das músicas pouco importa a partir daí, mas estavam lá todas as que eram parte do repertório clássico do Sabbath (Iron Man, War Pigs, Fairies Wear Boots, Snowblind, Black Sabbath) e canções que quase passaram despercebidas — como Shock Wave (do Never Say Die) e Dirty Woman (do Technical Ecstasy). Ozzy continuava cantando do lado direito (de quem assiste) do palco, pois Tony Iommi fazia questão do centro, à frente da bateria de Bill Ward. No fundo, revezavam-se projeções do fantasmagórico piloto de avião que ilustra a capa de Never Say Die e a do demônio vermelho de asas longas, lançando laser pelos olhos, que vinha no programa da turnê de 10 anos. Sobre a música, uma palavra a define: estupenda.

Assim me despeço de Ozzy. Acompanhei a brilhante carreira que teve e tenho quase tudo que lançou (admito que me faltam dois discos). Mas volto àquela noite de 1978 porque testemunhei o auge de um cantor especial e que muitos acreditavam ser somente um personagem. Longe disso: era um músico brilhante, com uma voz especial. Ozzy é inesquecível.

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postado em 23/07/2025 05:50
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