
Canalizar o ódio e transformá-lo em arte. Esse é o verdadeiro sabor de converter sentimentos em elementos concretos, palpáveis e visíveis. Fazer isso, de fato, não é fácil. Mas é justamente essa dificuldade que revela os grandes. Diante de uma trajetória repleta de arames farpados, o rapper baiano Alee, depois de muito tempo, encontrou o seu lugar no mundo. O último projeto Caos DLX, lançado nesta quinta-feira (24/7), confirma o artista baiano como um dos principais nomes do rap a nível nacional.
No entanto, antes de falar sobre o novo trabalho, é importante conectar os pontos que trouxeram Alee ao centro desse novo momento vivido pela cultura urbana brasileira. Em 2024, ganhou destaque com os projetos Dias Antes do Caos e Caos, que saíram em sequência. “Esses dois álbuns são o yin e o yang. No primeiro, de fato, tinha muito ódio. Estava organizando tudo na minha cabeça, coisas que ninguém sabia. No Caos, crio uma maturidade que nunca tive. É um novo eu, talvez com os mesmo dilemas, mas com a diferença de saber lidar”, conta.
As capas, inclusive, conversam com o conceito de ambos os trabalhos. Alee no centro e, no fundo, todo o cenário sendo destruído enquanto ele permanece resiliente, controlando as dualidades de amor e ódio que o trouxeram até aqui. Agora, com o Caos DLX, encerra a trilogia quase que involuntária, mas que necessária para que o novo mar de criatividade se abra para o artista baiano.
“Algumas músicas que deveriam ter saído antes, estão saindo nesse novo projeto. Isso, sobretudo, é para dar segmento ao que estava sendo construído, até chegar a vibe que busco, que vem com o álbum Pagão. Mas, mesmo assim, estou muito empolgado com o Caos DLX”, afirma. Despretensiosamente, apenas fazendo o que gosta — que é música — fez com que mais uma nova fase da própria história aparecesse. No entanto, Alee está apenas começando.
Cultura negra e musicalidade
E de certo modo, este é apenas o início. Não apenas da arte experimentada por ele, mas da ideia que o artista baiano também carrega do que entende por talento. Em suas veias musicais, leva a autoestima da cultura negra, bem como as musicalidades que nasceram através dos inúmeros artistas que compõem esse universo tão espetacular e especial. “Fomos nós (negros) que construímos tudo isso. Essa é a nossa herança. Não vencemos ainda, pois há muito para ser mudado”, ressalta Alee.
Porém, enxerga que o caminho tem sido bem pavimentado, tanto por ele quanto por outros artistas do cenário. “Só quem vive o dia a dia, sabe como é não ter autoestima preta. Esse meu cabelo aqui, antigamente, não podia usar. Sempre fui o mais feio da sala, mas tudo isso mudou”, completa. Outro componente fundamental na musicalidade de Alee é a religião. A macumba, presente em cada passo que ele dá, inserir as crenças que obteve antes de ganhar destaque nacional, é o que lhe deixa mais confortável para continuar sendo quem é.
“Sou filho de Exu e todo o meu caos é ele que organiza. O hip hop e qualquer tipo de cultura negra ela é axé. É uma vida e uma herança, as pessoas precisam entender isso”, conclui. No momento, Alee une o que de melhor aprendeu na infância, seja nas batalhas de rima, seja nas poesias cantadas que fazia desde a juventude. Cultura negra, rap, jazz e musicalidade. Como Caos DLX, ele já é considerado, por muitos, como o grande novo nome do ritmo em território brasileiro, provando que sair do Nordeste e furar a bolha não é um feito realizado somente por artistas de outros estados.
Diversão e Arte
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