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Fábio de Luca comemora estreia em novelas como "um gol de Copa do Mundo"

No ar em "Êta mundo melhor!", estreante que já é veterano, ou vice-versa, o humorista do Porta dos Fundos Fabio de Luca desembarca nas novelas após 27 anos de carreira. "Aqueles de placa que a gente lembra para sempre", compara

Fábio de Luca, ator -  (crédito: Vinicius Mochizuki)
Fábio de Luca, ator - (crédito: Vinicius Mochizuki)

Há quem diga que a vida de um ator é feita de esperas. Espera pelo teste, pelo sim, pela cena, pela fama. Fábio de Luca, 45 anos e 27 de carreira, parece ter dominado a arte da paciência com um sorriso no rosto e um caquinho na ponta da língua. Agora, quando menos se esperava — ou talvez exatamente quando deveria ser — ele finalmente desembarca no território sagrado das novelas globais em Êta mundo melhor, interpretando Sabiá, um detetive que se acha o Sherlock Holmes dos trópicos, mas tem mais cara de inspetor trapalhão.

O caminho até aqui foi longo e sinuoso, como costuma ser para quem escolhe essa profissão maluca. "Querer todo mundo quer, e 'todo mundo' é muita gente", diz o carioca, com a sabedoria de quem já fez seus mil e trezentos testes antes de acertar um. Quando a chamada finalmente veio, comparou a sensação a um gol de Copa do Mundo — mas não qualquer gol, aqueles de placa que a gente lembra para sempre. Afinal, para sua geração, entrar em uma novela da Globo era como ser convocado para a Seleção, só que com menos chuteiras e mais maquiagem.

"A novela brasileira é um fenômeno cultural único no mundo, então participar disso é uma oportunidade de mergulhar fundo na identidade artística nacional. Não diria que é obrigatório, mas certamente é uma experiência que todo ator brasileiro deveria ter a chance de viver", defende Fábio de Luca.

O Sabiá que ele interpreta é uma criatura peculiar — metade Poirot, metade Clouseau, com um bigode que é quase um personagem à parte. "Ele se acha o máximo, mas é um desastre ambulante", confessa o ator, que, para construir o papel, mergulhou na tradição dos detetives cômicos, daqueles que resolvem crimes por acidente e tropeçam em pistas como quem escorrega em casca de banana.

O curioso é que, em meio ao rigor normalmente associado às produções de Walcyr Carrasco, Fábio conseguiu seu espaço para pequenas revoluções criativas — um improviso aqui, uma inversão ali — como quem coloca pitadas extras de tempero em um prato que estava bom, mas podia ficar melhor ainda — tal qual o título da continuação da novela. "Respeitando, é claro, a estrutura e sentido do texto original, senão deixa de ser colaboração e passa a ser interferência", garante.

Reduzindo monstros

Enquanto navega pelas cenas da novela, dividindo sets com nomes como Ary Fontoura e Elizabeth Savalla (o que ele descreve como "surreal, no bom sentido"), Fábio mantém outros tantos projetos no ar, como um malabarista que não deixa cair nenhuma bola. Há o canal Amigos da Luz, onde mistura humor e espiritualidade com a naturalidade de quem sabe que rir de si mesmo é o primeiro passo para não levar a vida tão a sério. "A ideia é mostrar que espiritualidade e bom humor podem andar juntos, que a gente pode rir das nossas contradições humanas e, ao mesmo tempo, refletir sobre nossa evolução espiritual. Usamos o humor para falar de vaidade, egoísmo, orgulho... Quando rimos dos nossos 'monstros', eles ficam menores", afirma.

Fabio tem planos para um podcast, uma oficina de comédia, um espetáculo teatral prestes a estrear. E há, claro, o Porta dos Fundos, onde há seis anos ajuda a escrever e atuar em esquetes que já viraram parte do imaginário humorístico nacional. "O Porta é um marco fundamental na história do humor brasileiro. Teve Emmy, teve bomba, tem Porta internacional... Fazer parte disso é gigante", fala, com gratidão.

O mau da fita

O futuro, como não poderia deixar de ser para um sujeito que demorou 27 anos para estrear em novelas mas parece estar sempre começando algo novo, promete mais capítulos interessantes. Vem aí um filme de comédia espírita e até o coronel Tenório Madeira no remake de Dona Beja.

Perguntado sobre sonhos não realizados, de Luca não hesita: quer um dia interpretar um daqueles vilões memoráveis, daqueles que o público ama odiar, com direito a vaias e xingamentos na rua. "Tipo uma Carminha ou uma Nazaré versão homem", conclui. Depois de tanto tempo esperando, parece justo que agora o estreante veterano, ou novato experiente, queira mesmo é ser o mau da fita — e, considerando seu talento para roubar cenas, provavelmente vai ser um mau muito bom.

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postado em 18/08/2025 18:00
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