Festival de Brasília

Festival de Cinema: Segundo dia de Mostra Competitiva reflete sobre territorialidade

Refletindo sobre questões de territorialidade e luta social, o segundo dia de Mostra Competitiva exibiu os filmes Xingu à margem e Dança dos vagalumes

Diretor e protagonista, Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem -  (crédito: João Pedro Carvalho/CB/D.A. Press)
Diretor e protagonista, Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem - (crédito: João Pedro Carvalho/CB/D.A. Press)

 O segundo dia de Mostra Competitiva Nacional do 58° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro refletiu sobre questões de territorialidade e luta social. Na noite deste domingo (14/9), foram apresentados no Cine Brasília o longa-metragem Xingu à margem (BA), de Wallace Nogueira e Arlete Juruna, e o curta Dança dos vagalumes (PR), de Maikon Nery.

Segundo longa apresentado na mostra, o documentário Xingu à margem acompanha a luta de ribeirinhos, beiradeiros e indígenas na Volta Grande do Xingu, desde a construção da hidrelétrica de Belo Monte. “Não teria lugar melhor no mundo que não o Festival de Brasília para estrear o filme”, declara o diretor Wallace Nogueira. “Foi muita coragem da parte deles ter topado exibir uma produção como essa”, revela.

“Foram dez anos acompanhando uma violência crescente na região com a construção da hidrelétrica, mas o filme não discute geração de energia — discute humanidade”, descreve o cineasta. “Eles precisavam tirar pessoas ribeirinhas, beiradeiras e indígenas do lugar onde sempre viveram para a construção, e as colocaram para brigar entre si”, protesta.

“Para que ficasse mais fácil a construção, eles fizeram com que filhos matassem os pais, maridos matassem suas esposas e por aí vai. Foram famílias destruídas que desequilibraram socialmente toda uma região gigantesca”, conta Wallace. Segundo ele, foram desfeitas mais de mil aldeias com a chegada de Belo Monte.

Acompanhado de Dona Raimunda, ribeirinha que protagoniza o filme, o diretor lamentou a ausência da co-diretora Arlete. “Ela não pôde vir por questões de saúde do filho, que tem sofrido as consequências de um conjunto de violências devido à construção da hidrelétrica”, diz. “Hoje, me visto de preto representando quem Belo Monte matou com sua ignorância”, acrescenta Raimunda.

Curta-metragem

Abrindo a noite, o curta Dança dos vagalumes conta a história de Joana, uma professora que retorna ao assentamento do Movimento Sem Terra (MST), onde passou a infância, para dar aulas. “O filme fala sobre luto, memória, direito à terra e direito à educação”, define o cineasta Maikon Nery.

“Ele tem esse atravessamento a partir da luta social no campo, das possibilidades que a gente tem no Brasil, e da nossa vontade e direito. A gente deve buscar, cada vez mais, direito à terra. Todos os direitos são importantes para a gente entender e inventar um país melhor”, declara o diretor.

O curta, que se passa no assentamento Eli Vive, no norte do Paraná, atravessa todos os pontos relativos à territorialidade segundo o ponto de vista dos vagalumes. “Eles sumiram, ou seja, a esperança sumiu. A esperança de pensar um país diferente, existe ou não? Onde estão esses vagalumes? Onde está essa esperança?”, questiona Maikon.

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Para ele, o curta é uma oportunidade de representar uma população que normalmente não se vê nas telas. “São pessoas que não se reconhecem, não tem a luta reconhecida no estado, não tem rosto, não tem o modo de vida reconhecido no cinema”, lamenta.

“Quando estávamos finalizando, nós apresentamos o filme para uma turma de 15 crianças da escola de lá e algumas nunca haviam ido ao cinema. O primeiro filme que eles viram foi sobre eles”, celebra o cineasta.

A Mostra Competitiva continua amanhã (15), com exibições no Cine Brasília e no Complexo Cultural Planaltina. Os filmes da noite são Quatro meninas (RJ), de Karen Suzane, Faísca (AC), de Bárbara M Kariri, e Laudelina e a felicidade guerreira (RJ), de Milena Manfredini.

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LM
postado em 14/09/2025 22:33 / atualizado em 14/09/2025 22:34
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