Festival de Cinema

Depois dos prêmios em Brasília, cineastas adiantam novos projetos

Diretores que integraram a seleção de longas-metragens da edição encerrada no sábado contam ao Correio quais serão os próximos passos no audiovisual após a premiação

Diretor e protagonista, 
Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem -  (crédito:  João Pedro Carvalho/CB/D.A. Press)
Diretor e protagonista, Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem - (crédito: João Pedro Carvalho/CB/D.A. Press)

Para além da exibição de filmes já finalizados e embalados para o lançamento próximo nos cinemas, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro serve ainda para plataformas de debates do fazer cinema e da discussão e dos ajustes, nos bastidores, de longas e curtas em desenvolvimento pelos integrantes da linha de frente do futuro nas telas. A seguir, o Correio adianta os próximos passos dos talentos alinhados na seleção do prestigiado palco do Cine Brasília, o templo do festival.    

Espécie de farol sobre questões em torno da exploração de recursos amazônicos, a engajada moradora de Altamira, dona Raimunda Silva volta a tornar-se a estrela do cinema documental do diretor Wallace Nogueira (codiretor de Xingu à margem, exibido no Festival de Cinema). Ela engatou, em Brasília, as filmagens de longa com denúncias sobre licenças para exploração do ouro em Altamira. Com todo o orçamento do projeto aprovado, o novo filme de Wallace terá coprodução entre Vogal Imagem e uma produtora independente local.

"Dona Raimunda conhece a região e pessoas que estão sendo ameaçadas de morte, com a expulsão de comunidades inteiras como Ressaca, Ilha da Fazenda e Galo. O filme vai mostrar uma mineradora instalada na região de Belo Monte, e que pretende fazer a rapa, por debaixo da terra, com a abertura da maior cratera a ser aberta para extração de ouro", explica Wallace. "A vivência com a comunidade mostra, ao longo dos tempos, o assédio da empresa para comprar as terras para as pessoas saírem, de imediato. São comunidades que têm se ido", conta Raimunda.

Com uma produção encadeada, o brasiliense José Eduardo Belmonte, vencedor de prêmios no Festival, entre os quais o Saruê e o de melhor filme pelo júri popular para Assalto à brasileira, alinha o lançamento deste filme com dois novos títulos: Aurora e Quase deserto (com exibição no Festival do Rio, e a ser lançado em novembro). "Criamos uma forma de lançamento que traga um tempo entre os lançamentos. Quase deserto é um filme muito mais autoral, que busca público diferente. A convergência é boa", analisa o diretor que, em Assalto à brasileira, teve dois atores premiados em Brasília: Murilo Benício e Christian Malheiros.

Filmado em Detroit, Quase deserto traz no elenco Alessandra Negrini, Daniel Handler e Vinícius de Oliveira, numa coprodução entre Brasil e Estados Unidos. "A equipe foi muito diversa, com mexicanos, argentinos e americanos. Carlos Marcelo (diretor de redação de O Estado de Minas) e Pablo Stoll são corroteiristas com Belmonte do filme que abarca relações entre as Américas. "Falamos de imigração, e da América do Norte que traz a visão sobre a América Latina. Brincamos com gênero de cinema, o thriller; chamamos de um filme noir distorcido, que abraça ironias. Na cocriação entre países, procuramos temas comuns de vários países, na expansão de fronteiras", adianta Belmonte.

Outro cineasta que alinhava, no momento, coprodução é o paraibano Torquato Joel, responsável no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro pelo longa Corpo da paz, vencedor de quatro troféus em categorias técnicas. "Estamos em processo de formatação do projeto para obter recursos. O roteiro está bem desenvolvido e trata de indígenas. Na história, mostramos a derrota dos holandeses na ocupação da Bahia, e os efeitos de terem aportado na Paraíba (no município Baía da Traição), antes de adentrarem o Atlântico, para o retorno à origem. Um dos cinco indígenas que levam com eles para a Holanda retorna para o Brasil, já convertido ao calvinismo, depois da estadia nos Países Baixos", adianta Torquato. O roteiro é coescrito por Rodolpho Barros, diretor de fotografia premiado com o Candango, na categoria, em Corpo da Paz. "O desenvolvimento de roteiro foi intenso, desde 2016, e derivou de pesquisas em arquivos na Holanda", completa Joel.

Ares de futuro 

Ainda sem autorização para revelar tema do novo filme, o premiado realizador de Futuro futuro (considerado o melhor, em Brasília, e ainda detentor dos prêmios Candango de roteiro e montagem, além de menção honrosa para o ator Zé Maria Pescador) adianta que o "cronograma de vida" é passar, trancado, no escritório, desenvolvendo o novo roteiro. "É um projeto pessoal, feito para outra produtora. O filme terá centro em Porto Alegre e outra localidade. Vamos trazer uma derivação de gênero de cinema com o drama. O tema do filme traz um elemento tabu; meus filmes, aliás, lidam com isso. Trato de temas difíceis, como a violência no campo, e acho que o novo filme vai tratar de múltiplas crises, como foi o caso da inteligência artificial explorada em Futuro futuro", pontua o cineasta, valorizado pela exploração de uma ficção científica.

Na mesma levada, o novo filme de Guto Parente (vencedor do prêmio da crítica, pela comédia Morte e vida Madalena), Futuro, será filmado entre o Carnaval e a Copa de 2026. "Traremos um suspense, que transcorre em 2040, num mundo pós-distópico, onde tudo já colidiu, tudo já deu errado e a humanidade busca a reconstrução e o encontro para o florescimento das utopias. Imaginamos o que todos farão, depois que tudo acabar", observa Guto Parente. Como protagonista, o longa, inspirado em temas da escritora norte-americana Octavia E. Butler, terá Isabél Zuaa (de O agente secreto). Futuro será filme de orçamento largo, fator da coprodução com Portugal, México e Suíça. "O orçamento desse filme é maior do que todos os 11 longas que eu já fiz, somados", comenta Parente.

Brilho feminino

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi mais do que vitrine, e sim agente de premiação de talentos femininos, como foi o caso das duas competidoras na categoria de longas, Karol Maia (premiada como melhor diretora por Aqui não entra luz, filme vencedor do prêmio Zózimo Bulbul) e Karen Suzane, do longa Quatro meninas, destacado pelas atuações de Maria Ibraim e Dhara Lopes, além de vencedor do prêmio especial do júri.

Estou muito ansiosa para meus próximos projetos. Há um, pré-encaminhado, que resultará na minha primeira ficção em curta-metragem, e outro, a ser filmado em São Paulo, e que falará de pagode. O curta tem no enredo uma menina que perde o pai, que some no mar. Daí, ela passa a performar uma sereia em um hotel de luxo, numa pequena vila litorânea", adianta. Já o filme de pagode, em desenvolvimento, traz o estilo musical que influenciou a vida nas periferias, no final dos anos 90 e começo dos anos 2000", pontua.

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À frente do sucesso do longa Quatro meninas, no Festival de Brasília, Karen Suzane conta do longa Brilhante, já aprovado no edital Ruth de Souza, a ser filmado em 2026, com uma co-diretora estreante, mineira. O filme já conta com R$ 2 milhões, mas queremos reforçar a estrutura com patrocínios diretos, na casa dos R$ 3 milhões, além de uma boa distribuidora. Será uma comédia, em que situações podem dar certo e errado, ao mesmo tempo. "Investimos no universo de uma escola de arte drag, para contar de Pedro, jovem com dificuldades para se assumir artista. Tratamos do quem você é, e mostramos que há gente que só nasceu para brilhar, mesmo. Será um filme, leve, divertido, e que vai abordar a temática LGBTQIAPN . Por enquanto, estamos na fase de lapidação do roteiro", conclui.

 

  •  Karol Maia, melhor direção pelo longa
 Aqui não entra luz na competição nacional
    Karol Maia, melhor direção pelo longa Aqui não entra luz na competição nacional Foto: Minervino Junior CB/DA Press
  •  Futuro futuro, de Davi Pretto, foi o grande vencedor da 58ª edição do FBCB
    Futuro futuro, de Davi Pretto, foi o grande vencedor da 58ª edição do FBCB Foto: Minervino Junior CB/DA Press
  • Representante do longa premiado 
Corpo da paz, Torquato Joel
    Representante do longa premiado Corpo da paz, Torquato Joel Foto: Minervino Junior CB/DA Press
  • José Eduardo Belmonte: figura 
recorrente no palco do Cine Brasília
    José Eduardo Belmonte: figura recorrente no palco do Cine Brasília Foto: Minervino Junior CB/DA Press.
  • O diretor de Morte e vida 
Madalena, Guto Parente
    O diretor de Morte e vida Madalena, Guto Parente Foto: IMDb/Divulgação
  • Diretor e protagonista, Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem
    Diretor e protagonista, Wallace Nogueira e Dona Raimunda Gomes apresentaram o longa Xingu à margem Foto: João Pedro Carvalho/CB/D.A. Press
  • A diretora de Quatro meninas, 
Karen Suzane
    A diretora de Quatro meninas, Karen Suzane Foto: Cris Lucena/ Divulgação
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postado em 22/09/2025 13:47 / atualizado em 22/09/2025 13:54
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