
Nova série documental da HBO Max, Pílulas de farinha: o escândalo que gerou vidas resgata e investiga o episódio que marcou o Brasil no final da década de 1990. Em 1998, foram vendidos em farmácias de todo o país cerca de 600 mil comprimidos ineficazes do anticoncepcional Microvlar como resultado de um desvio de produção do laboratório Schering, responsável pelo contraceptivo. Os comprimidos, fabricados para testar novas máquinas de embalagem, não tinham efeito preservativo, o que levou a gravidezes inesperadas em muitas mulheres que as consumiram.
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"Na época, eu estava me formando em jornalismo, começando minha vida profissional como repórter na imprensa escrita, e fui testemunha em tempo real do que ocorreu", narra Jana Medeiros, diretora de conteúdo do seriado. "Isso me impactou muito como mulher no início da vida reprodutiva, pensando no impacto que isso poderia me causar se eu tivesse ingerido essa pílula da farinha", diz.
"Do ponto de vista profissional, eu via envolvidos no escândalo personagens riquíssimos que não estavam sendo explorados. Isso me causava uma certa dor e uma certa agonia, porque não estavam dando a voz devida a essas mulheres. Mas a gente está falando de 1998, em que o público feminino, especialmente de baixa renda, não tinha tanto espaço na imprensa", pontua.
Jana lembra de notar o escândalo deixando de ser repercutido na mídia rapidamente: "Ele deixou de estar em destaque nas manchetes, foi indo para o meio da página e depois para o rodapé". "E eu sempre fiquei muito intrigada, e sentia uma dor muito grande pensando que há muito mais para se falar sobre esse caso", conta a diretora de conteúdo. Em 2022, trabalhando com audiovisual, ela resolveu relembrar o caso. "Eu queria entender o porquê desse episódio não ter tido nenhum tipo de sobrevida ao longo dos anos e porquê ninguém do universo de vídeo buscou essa história para dissecá-la de uma forma mais ampla", diz.
A série, adianta a diretora Cassia Dan, mergulha na trajetória de algumas das protagonistas do escândalo — algumas foram indenizadas, outras não, mas a maioria passou anos movendo processos contra o laboratório Schering. "São histórias distintas e individuais", define Cassia. "Temos um universo de seis personagens, cada uma com um desdobramento diferente. A série traz, talvez, mais questões do que respostas. Mas precisamos relembrar esse episódio. Se não tivemos respostas satisfatórias lá atrás, o que garante que isso não possa acontecer novamente?", questiona Jana.
"Esse escândalo resultou em impactos profundos nas pessoas que engravidaram, e também na sociedade como um todo. Algumas normas de vigilância em relação aos processos da indústria farmacêutica foram alteradas ou criadas a partir dessa história. Naquela ocasião, era tudo muito novo. O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda eram instituições recém-criadas", destaca Cassia. "Então, se a gente pode dizer que o episódio teve algum legado positivo, pode-se dizer que foi esse avanço na legislação", finaliza a diretora.
Diversão e Arte
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