É uma história longa e antiga a da relação do ator Roberto Bomtempo com o cantor e compositor Raul Seixas. Os dois nunca se conheceram pessoalmente, mas quando o ator decidiu ouvir o cantor atentamente, nunca mais se afastou do criador de Gita. O resultado foi o misto de musical e monólogo Raul fora da lei — A história de Raul Seixas, em cartaz a partir de hoje e até quinta-feira no Teatro Caixa Cultural. O espetáculo acaba de completar 25 anos de existência, um aniversário que Bomtempo nunca imaginou comemorar. "A peça ganhou uma dimensão, a parte musical do show cresceu, a música é muito gostosa, uma coisa que descobri no palco. Foi uma coisa na minha vida que nunca imaginei, ter uma peça que ficasse tanto tempo em cartaz", conta o ator.
De volta à história "longa e antiga", Bomtempo conta que sempre soube quem era Raul Seixas e conhecia algumas músicas, mas foi um encontro com uma coleção de caixas de fitas K7, durante a gravação da novela A história de Ana Raio e Zé Trovão, em 1990, que disparou uma pequena obsessão. "Essa foi a primeira novela da TV brasileira gravada toda em externa, foi 1,5 ano viajando pelo Brasil", conta Bomtempo. Durante uma dessas viagens, ao visitar um sebo, ele encontrou 24 caixas com fitas gravadas com todos os discos de Raul Seixas. Era uma encomenda, mas o cliente nunca foi buscar a mercadoria e o ator decidiu comprar. "Fiquei com isso, tenho até hoje. Foi 1,5 ano viajando pelo Brasil e ouvindo no Walkman. Fiquei fascinado, porque conheci a obra do Raul toda, de ponta a ponta. E foi uma transformação, uma coisa do Raul falar para mim mesmo. Me identifiquei muito. E aquilo ficou na minha cabeça", conta.
- Leia também: Festival de Cinema: Protagonismo feminino dá o tom do terceiro dia de Mostra Competitiva
Ao final da década de 1990, o ator decidiu fazer um monólogo e procurava um texto para adaptar quando um amigo lembrou-se do fascínio por Raul e sugeriu o compositor como tema. Nasceu então o espetáculo, um monólogo cronológico no qual Bomtempo conta a história do músico e, ao mesmo tempo, canta algumas das músicas acompanhado de uma banda de três músicos e uma cantora. "Vou contando a história da infância até juventude e depois a decadência física de saúde, e as músicas vão entrando", diz.
Quando decidiu montar o monólogo, Bomtempo tinha claro na cabeça que não queria uma peça escrita por alguém que falasse sobre o Raul Seixas. O ator queria um roteiro a partir das ideias do músico. "E comecei a trabalhar, fiz uma pesquisa gigante e separei todo o material grande de coisas que queria falar no palco, que sintetizavam o pensamento dele e tinham a ver comigo", lembra. Para ajudar, ele chamou o cineasta e amigo José Joffily e, para dirigir, Deto Montenegro, professor e criador da escola Oficina de menestréis que, a partir de 2003, começou a dividir o palco com Bomtempo em algumas ocasiões especiais. Na versão do espetáculo para Brasília, a oficina não participa e foi escolhida uma banda local para acompanhar o ator.
Raul Fora da Lei - A história de Raul Seixas
Com Roberto Bomtempo. Hoje, amanhã e quinta-feira, às 20h, no Teatro da Caixa Cultural. Ingressos: R$ 15 (meia) e R$ 30.
