Literatura

Romance Profanação, de Ruy Fabiano, ganha adaptação em áudiossérie

A obra tem como pano de fundo a sucessão presidencial de 1984 e mistura realidade e ficção para denunciar a manipulação da palavra na política

"O romance nasceu da vontade de narrar minha vivência no centro do poder em Brasília de uma forma que não fosse autobiográfica", explica Fabiano - (crédito: Divulgação)

O romance Profanação, de Ruy Fabiano, publicado no ano de 2005, ganha adaptação para áudiossérie, no marco dos 40 anos da redemocratização do Brasil. A obra tem como pano de fundo a sucessão presidencial de 1984 e mistura realidade e ficção para denunciar a manipulação da palavra na política. "O romance nasceu da vontade de narrar minha vivência no centro do poder em Brasília de uma forma que não fosse autobiográfica", explica Fabiano. 

A narrativa acompanha o jornalista fictício Gregório Pedras, que se muda de Juiz de Fora (MG) para Brasília. O personagem mergulha em uma crise moral e existencial: "O ambiente social era revelador, com bares onde, depois de dois ou três uísques, vinha o striptease moral", relembra o autor. "Eles brigavam no plenário e depois tomavam uísque juntos. São atores, mesmo quando não se percebem assim", afirma Fabiano.

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A diretora Fátima Mourão, da Anima Filmes, é a responsável pela adaptação. Ela destaca o desafio de recriar uma obra tão densa utilizando apenas o som. Sobre o formato da produção, Fátima recorda: "Comecei a dublar nos anos 70 com os craques da rádionovela, e esse formato sempre me cativou". Para ela, o projeto é uma oportunidade de resgatar um gênero narrativo com novas ferramentas. 

As escolhas estéticas também foram centrais na adaptação, especialmente sem o recurso da imagem. "Quando você não tem o fator vídeo, tem que valorizar muito o áudio", reitera a diretora. "As vozes foram escolhidas a dedo, a trilha sonora é condizente com a dramaticidade e usamos efeitos para recriar a ambiência do Congresso, das redações e dos restaurantes de Brasília", completa. A diretora garante que o resultado dará "muita vida à dramaticidade".

Ruy Fabiano destaca o caráter atemporal da obra e a força da espiritualidade como contraponto à corrupção: "Religião infunde sentido ético à vida, e cultura é sacerdócio: cultivo e culto ao mesmo tempo". Para ele, essa dimensão metafísica ajuda a contrapor a manipulação política: "O Verbo continua a ser profanado sem cerimônia, mas a literatura pode resgatar seu sentido profundo".

A adaptação será disponibilizada nas plataformas digitais em 25 de outubro. Fabiano celebra o alcance maior que o novo formato pode trazer. "Lê-se pouco no Brasil. Somos um país audiovisual. Em formato de novela, o livro ampliará sua audiência", constata. Mourão também aposta no público contemporâneo: "Hoje, temos uma sociedade muito mais politizada, e Profanação dialoga diretamente com esse interesse crescente".

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 

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BL
postado em 07/10/2025 06:00
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