
Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão, Bidu… Os personagens de Mauricio de Sousa marcaram diversas gerações de brasileiros que liam sobre as aventuras no Bairro do Limoeiro. Agora, é a vez de o público conhecer mais sobre a história do artista que contou tantas histórias com a cinebiografia Mauricio de Sousa — O filme, que estreia hoje nos cinemas.
No ano em que o artista completa 90 anos, Pedro Vasconcelos roteiriza e dirige o longa que mostra a trajetória do garoto que nasceu no interior de São Paulo, se apaixonou por histórias em quadrinhos, usou da criatividade para criar seus próprios enredos e personagens e tornou-se um dos artistas mais marcantes do país. Mauro Sousa, filho do quadrinista, estreia no cinema interpretando o pai na telona. "Foi o melhor papel que eu poderia imaginar para iniciar minha carreira no audiovisual, não podia ser diferente e mais especial para mim", destaca.
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Não somente o público pode aprender mais sobre a trajetória de Maurício, como Mauro aproveitou a oportunidade para se aproximar do pai, que o ajudou a se preparar para o personagem e a entender as motivações e comportamentos dele. "Foi uma experiência muito bonita. O meu pai estava bastante presente, porque eu sempre ligava para ele e nos falamos bastante durante todo o processo de gravação. Ele me dava muitas informações que não eram só da boca para fora, ele realmente contava essas histórias para mim com muita vontade e emoção, tão feliz, então, eu realmente aproveitava para incorporar ainda mais ao personagem", explica o ator.
Além de Mauro, o elenco inclui Diego Laumar, que dá vida à versão criança de Maurício, Thati Lopes, que interpreta Marilene, a primeira mulher do artista, e Natália Lage, Emílio Orciollo Netto e Elizabeth Savalla como mãe, pai e avó dele, respectivamente.
Três perguntas //
Mauro de Sousa, ator
Contracenando com as crianças que trouxeram não somente o Maurício, mas os personagens dele à vida, teve algum momento, durante as filmagens, que mais te marcou?
Tiveram vários momentos bastante emocionantes e interessantes. Um deles foi quando eu estava interpretando o meu pai durante as gravações e me deparei com as minhas irmãs crianças. Na verdade, as filhas do Maurício, que são minhas irmãs. E isso foi muito interessante de lidar, entender a minha situação ali, esse contexto no qual eu estava inserido. Mas é muito gostoso também, porque foi uma maneira de realmente aprender um pouco mais e entrar em maior contato com a minha história, porque saber mais da história do meu pai é também saber mais da minha história. Foi um processo de autoconhecimento, de certa forma, porque eu sou uma extensão do meu pai, eu sou ele também. Então, conforme eu ia aprendendo mais sobre esse personagem, aprendi mais sobre mim. Foi um momento bastante especial e interessante, estar com aqueles personagens e pessoas que fazem parte da minha vida.
Muitas crianças aprenderam a ler com as histórias e os personagens do Mauricio de Sousa. Como foi revisitar a história e o legado do seu pai nesse filme e quais foram os principais desafios da sua primeira experiência como ator no cinema?
Ter esse contato com meu pai durante as gravações fortaleceu ainda mais nossa relação como pai e filho, porque a gente realmente se reaproximou e me vi admirando-o ainda mais, amando-o ainda mais, ao conhecer ainda mais dele. Porque eu achava que conhecia, mas pude aprender ainda mais dele. Foi um processo muito gostoso, pessoalmente falando, como filho, mas profissionalmente também, porque também foi um grande desafio, uma vez que eu nunca tinha pisado num set. A minha experiência em teatro era completamente diferente da que tive dentro do set, mas tive uma ajuda muito grande do Pedro, ele foi um ótimo diretor, que me direcionou e me deu segurança. A troca com os meus colegas de trabalho em cena também foi bastante importante, porque são atores experientes no cinema e no audiovisual, foi uma troca muito feliz. O que não tirou meu nervosismo, claro que eu estava muito nervoso e emocionado, mas tentei usar isso a meu favor, em prol do personagem.
Que impacto você acredita que o filme vai ter nas diversas gerações que cresceram lendo Mauricio de Sousa e como você acha que o longa vai ajudar a conectá-las?
O filme mostra a história desse brasileiro, artista, que, apesar de tudo o que as probabilidades diziam, dos nãos que ele recebeu, de todos que diziam que ia dar tudo errado, ele foi lá e continuou acreditando nele mesmo e no talento dele, e conseguiu conquistar o que conquistou. Acho isso bastante inspirador, porque o filme é muito sincero e verdadeiro. Quando você vê uma obra inspirada em uma história real, em um brasileiro real, que veio do interior, mudou para São Paulo, trabalhou, batalhou, tem uma família, você cria essa identificação de ver que ele é igual a todos nós e conseguiu alcançar o que alcançou. Acho que isso inspira qualquer um, em qualquer idade, e espero que os espectadores do filme se sintam bastante inspirados para que sigam os seus sonhos. assim como Maurício de Sousa fez.
Legado para gerações
Há mais de 60 anos, Maurício de Sousa — que completa 90 anos em 27 de novembro — pavimentou um caminho que transformou o gibi em um dos maiores instrumentos culturais e educacionais do Brasil. Sua obra, que acompanha o país em sua diversidade e evolução, é um legado de paixão, otimismo e persistência. O universo da Turma da Mônica, considerado "um patrimônio cultural brasileiro", tem suas raízes na paixão inabalável de seu criador pelo desenho
O filho do desenhista, Mauro de Sousa, um dos diretores executivos da MSP Studios e intérprete de Maurício na cinebiografia, ressalta que foi a paixão pelo desenho e pela arte que impulsionou o então repórter policial a trilhar o caminho para tornar-se um dos maiores cartunistas do país. "Desde pequeno, o Maurício era apaixonado por histórias em quadrinhos e isso prosseguiu durante a vida inteira", afirma Mauro, em entrevista ao Correio.
A trajetória de Maurício é marcada por uma visão muito otimista da vida, uma característica que Mauro considera fundamental e que precisava ser retratada no filme. "Acho que um dos pontos principais que eu também queria muito trazer nesse personagem era justamente essa visão muito otimista que o meu pai sempre teve na vida e tem até hoje... Ele está sempre com sorriso no rosto, pensando para frente. Não tem tempo ruim para ele", afirma o ator.
Sobre a relação entre Maurício de Sousa, o empresário, e Maurício de Sousa, o pai, Marina Sousa, a mais nova das seis filhas do cartunista, fala que os papéis se misturavam de tal forma que ela e os irmãos cresceram "ouvindo ele falar das ideias, dos roteiros" e das novidades sobre a Turma da Mônica à mesa de almoço, no jantar e em casa. Marina, em particular, sempre se interessou pelos roteiros e gibis, lendo-os mesmo antes de serem lançados. "O Maurício sempre foi extremamente ligado à empresa que ele criou. E, querendo ou não, é um trabalho muito gostoso de ter ali. É um universo muito lúdico. Nunca foi um problema [para mim] me envolver no trabalho dele", ressalta Marina ao Correio.
Embora sua trajetória tenha consagrado Maurício de Sousa como um dos maiores expoentes da literatura popular do Brasil, seu desejo de integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL) parece ter ficado no passado. O cartunista havia demonstrado interesse em se candidatar à cadeira oito da ABL em 2023, um movimento noticiado como sendo inspirado pela posse de figuras como Gilberto Gil e Fernanda Montenegro. Contudo, Marina confirmou que esse interesse ficou no passado. "O Maurício é integrante da Academia Paulista de Letras (APL) e está bem satisfeito. Ele está com 90 anos, está curtindo agora a família, os filhos, sem estresse", enfatiza Marina. Para Maurício de Sousa, a maior honra é carregar no peito a "medalha" de ser um dos maiores alfabetizadores e incentivadores de leitura do Brasil.
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