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"Furar bolhas sociais", afirma Caio Macedo, sobre filme "Ruas da Glória"

Ator Caio Macedo festeja chegada do longa brasileiro "Ruas da Glória" ao Brasil, após competições internacionais. Para ele, o filme vai além de um romance LGBT. "Acima de tudo, vejo que este filme fala sobre família e luto", declara

Caio Macedo, ator -  (crédito: Sergio Santoian)
Caio Macedo, ator - (crédito: Sergio Santoian)

Após uma bem-sucedida turnê internacional por festivais de cinema, que culminou com a conquista do prêmio de Melhor Filme Americano no Septimius Awards 2025, em Amsterdã, o longa-metragem Ruas da Glória inicia sua circulação no Brasil. O filme, dirigido por Felipe Sholl e protagonizado por Alejandro Claveaux e Caio Macedo, promove uma discussão considerada inédita sobre a comunidade LGBTQIA+, ao narrar a realidade de garotos de programa na capital carioca. A estreia nacional ocorreu em 8 de outubro, dentro da programação de competição de ficções do Festival do Rio. A obra segue em exibição no país, com passagens na Mostra de São Paulo, nos dias 21 e 30 de outubro.

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A jornada internacional do filme começou no final de 2024, com sua estreia no prestigiado Tallinn Black Nights, na Estônia. Em 2025, a produção seguiu em circulação por festivais LGBTQIAPN+, como o QueenFilm, na Alemanha. Neste último, Caio Macedo participou de uma série de exibições e debates, percorrendo cidades como Dusseldorf, Frankfurt e Berlim. Além do prêmio principal no Septimius Awards, o filme recebeu outras duas indicações: Melhor Ator Americano para Caio Macedo e para Alejandro Claveaux.

Em Ruas da Glória, Gabriel se muda para o Rio e fica obcecado por Adriano (Claveaux), um garoto de programa, depois de sofrer uma grande perda. Quando Adriano desaparece, Gabriel inicia uma jornada de investigação até se tornar ele mesmo um acompanhante, e isso quase lhe custa a vida.

Para Caio Macedo, recém-chegado dessa turnê, a experiência foi mais do que uma simples promoção; foi uma imersão. Em entrevista, o ator de 31 anos refletiu sobre as camadas da obra, que vai além de um romance LGBTQIAPN+. "Acima de tudo, vejo que este filme fala sobre família e luto", explica. "Todo o drama romântico, toda a fuga com as drogas e com a prostituição, foi uma forma do meu personagem tapar um buraco. O longa promove uma discussão inédita sobre saber deixar as pessoas que você ama e evoluir junto delas, sobre o legado que elas deixam."

Caio Macedo em cena como Gabriel
Caio Macedo em cena como Gabriel (foto: Divulgação)

Tom documental

Produzido por Daniel van Hoogstraten, da Syndrome Films, em parceria com a RioFilme (Prefeitura do Rio de Janeiro) e o Telecine, Ruas da Glória utiliza características da linguagem documental para alcançar maior veracidade. Com cenários emblemáticos como a Cinelândia, a Glória e a Lapa, o filme busca quebrar barreiras ao expor uma realidade muitas vezes invisibilizada.

Macedo ressalta a complexidade dos personagens, que fogem de uma compreensão simplista. "O filme é inteligente nesse ponto. Não foi exatamente a prostituição ou a droga que levaram o Gabriel à autodestruição, mas sim os sentimentos que ele carregava durante a vida e que não conseguiu trabalhar, com consequências que ele próprio colocou para fora."

O ator — nascido no interior de Pernambuco, em São José do Egito — credita o sucesso em traduzir uma narrativa tão delicada ao ambiente harmonioso e à direção sensível de Felipe Sholl. "O elenco é maravilhoso e o set muito tranquilo. O Felipe foi um diretor muito sensível, empático e se tornou um grande amigo. O roteiro foi inspirado em grandes experiências dele, que já foi um dependente químico e quis usar esse conteúdo pessoal para ajudar a nossa história. Foi algo muito forte para mim", relata.

Caio Macedo e Alejandro Claveaux em "Ruas da Glória"
Caio Macedo e Alejandro Claveaux em "Ruas da Glória" (foto: DIvulgação)

Macedo acredita que o filme tem o potencial de ressoar com um público amplo, furando as bolhas sociais. "Falar sobre narrativas LGBTQIA+ é sempre relevante, pois coloca um porta-voz para falar sobre nossas experiências de forma mais ampla. Sairemos de todos os clichês, pois enfatizamos a hipocrisia dessa sociedade, que, ao mesmo tempo, é a que mata pessoas LGBTQIA+ e também pratica pelas sombras as atitudes que condena. Essas denúncias são muito importantes para a autoconsciência. Vejo que Ruas da Glória será um grande aliado da nossa causa", finaliza o ator.

Com sua chegada ao Brasil, o filme inicia um novo e crucial capítulo de seu percurso: o diálogo com o público no país que serve como pano de fundo para sua história de dor, luto e, sobretudo, esperança.

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postado em 26/10/2025 07:00
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