REVIEW

'Little Nightmares 3' mantém terror, mas tropeça nos mistérios da trama

Sob nova direção, jogo implanta cooperativo e novas mecânicas, mantendo visuais e elementos reconhecíveis para os fãs da franquia

Entre o mundo sombrio inspirado em Tim Burton e a jogabilidade de um jogo independente, nasceu *Little Nightmares, originalmente da Tarsier Studios. A franquia criou uma enorme comunidade fixada nos mistérios que o jogo de terror e quebra-cabeças levanta ao longo da campanha. E agora, ele chega ao terceiro título sendo produzido por outro estúdio, a Supermassive Games de Until Dawn e The Quarry, com uma dupla de protagonistas novos e com a difícil missão de seguir adiante com a trama em Little Nightmares 3.

Sentir medo juntinhos 

Reprodução/Bandai Namco - Com as novas mecânicas, Little Nightmares adota muitos dos acertos dos grandes jogos da Hazelight.

O título marca a primeira vez que o jogo pode ser experienciado em dois jogadores, com um controlando Low (um menino com cabelo crespo e uma máscara de corvo) e Alone (uma menina de cabelo ruivo e rosto coberto). O jogo permite que você jogue o cooperativo local e on-line, e se assim preferir até experienciar o título sozinho, com a máquina assumindo um dos personagens. Contudo, Little Nightmares 3 não permite que você inicie uma campanha com um amigo e continue ela sozinho, ou mesmo com outro amigo, sendo necessário começar uma do zero para ambas situações. 

O jogo trouxe algumas mecânicas únicas para cada um dos personagens, Low possui um arco e flecha, que ele utiliza para atingir botões altos, cordas avariadas que geralmente tem objetos que ajudam na progressão do nível, Alone possui uma chave inglesa que utiliza para esmagar objetos e girar alavancas. Ambos também recebem um guarda-chuva que os ajuda a planar pelo cenário, tanto para alcançar extremidades mais altas, quanto para descer lugares perigosos. E na metade do título surge a lanterna que ajuda a ter uma noção espacial melhor do ambiente, iluminando trechos escuros.

Quebra-cabeças e cooperativo

 

Reprodução/Bandai Namco - Os monstros continuam sinistros e fazem aceno para o passado da Supermassive.

Como o gênero já sugere, Little Nightmares traz várias seções onde existem quebra-cabeças, às vezes tão simples quanto arrastar uma caixa de um lado da sala para o outro, e às vezes pedindo ao jogador para procurar um item chave para seguir o caminho em um ou mais cenários. Assim, como os títulos da Tarsier, o jogo ainda é desafiador, botando o jogador para pensar e ponderar se executou todas as opções viáveis: “Passo aqui correndo? Agachado e devagarinho? Uso o arco? Tenho que fazer mais rápido? Pular?”. 

Nessa versão antecipada o jogo não tinha o passe de amigo ainda disponível, o que forçou a experiência de forma solitária, o que por um lado empobrece o pensamento em dupla, mas foi o suficiente para ver que a Inteligência Artificial do jogo ainda está um pouco falha. Com diversas ocasiões ficando para trás durante a progressão, sendo pega pelos inimigos múltiplas vezes e de vez em quando até esquecendo de seguir fisicamente o personagem, ficando estática em alguns momentos, obrigando a reiniciar do último checkpoint para trazê-la de "volta à vida".

Fora esse contratempo, essa necessidade de dois personagens precisarem fazer as coisas juntos, reflete muito os últimos jogos cooperativos da indústria, principalmente a Hazelight com Split Fiction e It Takes Two. O que prova tanto o interesse dos jogadores em títulos do gênero, quanto dos estúdios, e quem sabe, se Little Nightmares 3 for um sucesso, Bandai Namco talvez prefira fazer o título como uma série de histórias cooperativas. Coisa que o segundo jogo, ainda na mão da Tarsier, possuía diversos elementos, e graças a isso evolui para um cooperativo.

Supermassive e a difícil tarefa

 

Reprodução/Bandai Namco - Low tem que solucionar diversos problemas para continuar progredindo para sobreviver.

A Supermassive tinha uma responsabilidade muito grande com os fãs do título, e pegar uma franquia andando deve ser um difícil, principalmente para seguir uma linha criativa já estabelecida em outros dois títulos, desde a palheta até os designs de personagem. Little Nightmares 3 é sim um título que mantém todos os aspectos dos originais, a movimentação de personagem, a escala de grandeza, os ambientes e criaturas dignas de um filme do cineasta Tim Burton, momentos de perseguição e os já comentados, quebra-cabeças arrojados.

Entretanto, talvez o aspecto de contar uma história através do subtexto do jogo, como os outros dois faziam, tenha sido menos eficaz. Existem momentos claros que você entende a relação dos personagens e o passado de Low, mas é quase auto-explicativo, diferente de Six, protagonista do primeiro jogo, que fez toda uma comunidade se mover para entender o mínimo que o primeiro título conta. Um exemplo é que apesar do segundo jogo se passar em diversos cenários diferentes, assim como o terceiro, em momento nenhum você sente uma desconexão temática, enquanto no novo jogo, parece sempre que o jogador entre um trecho novo de história, sem uma conexão com a localidade passada. 

Esse fator não prejudica em nada o jogo como experiência, mas empobrece aquele lado da comunidade que vai estar sedenta por mistérios, mas que pareceu pouco presente no desenrolar da trama. Por outro lado, um grande acerto da Supermassive Games foi com certeza manter os monstros aterrorizantes que o título possui, com um deles inclusive lembrando muito a movimentação de um dos seus monstros mais famosos, o Wendigo de Until Dawn, uma marca registrada que casou muito bem com a temática aterrorizante.

E aí? 

 

Reprodução/Bandai Namco - Em dupla, o novo jogo inaugura a modalidade cooperativa na franquia.

Little Nightmares 3 consegue manter o padrão de qualidade da franquia apesar de não ser do “autor original”, a essência e a gameplay está presente mas ainda faltou um algo mais. Os fãs vão gostar, sem dúvida, principalmente aqueles dispostos a escavar cada canto do jogo. Agora resta ver como Reanimal, novo título da Tarsier Studios, que tem a mesma pegada de Little Nightmares vai se sair como sequência da franquia original.

*A análise do jogo foi feita com uma cópia para PlayStation 5 enviada pela Bandai Namco Brasil

 

Mais Lidas

Reprodução/Bandai Namco - Os monstros continuam sinistros e fazem aceno para o passado da Supermassive.
Reprodução/Bandai Namco - Com as novas mecânicas, Little Nightmares adota muitos dos acertos dos grandes jogos da Hazelight.
Reprodução/Bandai Namco - Low tem que solucionar diversos problemas para continuar progredindo para sobreviver.
Reprodução/Bandai Namco - Em dupla, o novo jogo inaugura a modalidade cooperativa na franquia.