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Documentário 'Fôlego' usa arte e fé para transformar luto em legado de família

Obra pessoal de Maria Carol Rebello, que será exibida na Mostra de São Paulo, revela facetas desconhecidas de João Rebello na música e reafirma o poder curativo da criação artística com referências ao diretor Jorge Fernando e a veterana atriz Hilda Rebello

O documentário Fôlego — Até depois do fim é mais do que uma homenagem à talentosa família Rebello; é um testemunho de como a arte e a espiritualidade podem oferecer alento mesmo nas horas mais sombrias. Com roteiro de Maria Carol Rebello e direção de Candé Salles, o filme — que será exibido na Mostra de São Paulo nos dias 20 e 28 deste mês após passagem pelo Festival do Rio nesse sábado (11/10) —, narra a trajetória do diretor Jorge Fernando, da atriz Hilda Rebello e do ator e músico João Rebello — respectivamente tio, avó e irmão de Carol.

Em um relato profundamente pessoal, Maria Carol, a Olga de Êta mundo melhor!, explica que o projeto se transformou radicalmente após uma sequência de perdas. Já abalada pela morte do tio e da avó, a família foi atingida pelo trágico assassinato de João, em 2024. Foi a escrita, segundo ela, que se tornou um refúgio essencial. "Com a morte absurda do meu irmão, os sentimentos começaram a sair em forma de texto, não só pra falar do engano que tirou a vida dele, mas também pra eu tentar elaborar a indignação e a saudade", compartilha.

O filme assume, assim, a missão de restaurar a memória completa de João Rebello, mostrando ao público que ele era muito mais que o ator mirim consagrado na tevê. "Meu irmão era um multiartista, sempre a frente do que acontecia no mundo", afirma Maria Carol, destacando sua influência often desconhecida no funk e na música preta brasileira. "É impactante e enorme ver no doc tudo que ele produziu."

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Resiliência

O título, Fôlego — Até depois do fim, sintetiza a busca por resiliência. Maria Carol credita essa força à base espiritual e artística da família, citando o espetáculo Boom — encenado por 17 anos — como um exemplo de como a morte era abordada com humor, música e fé. "A arte educa e salva, e a fé nos mantém confiantes pra seguir nos desafios da vida", reflete.

A experiência de roteirizar, narrar e produzir um projeto tão íntimo solidificou o desejo de Maria Carol de expandir sua atuação nas artes. Ela revela planos concretos de dirigir, incluindo a remontagem do musical infantil O menino do olho azul e a adaptação para o teatro do livro Presos que menstruam, de Nana Queiroz. "Eu não sou só uma atriz, sou artista. Preciso e vou criar as histórias que quero contar", declara.

Sobre a responsabilidade de carregar um legado artístico tão multifacetado, sua visão é ao mesmo tempo fiel e expansionista. "Acredito que seja continuar a contar histórias, emocionar, divertir e fazer refletir", diz. O compromisso, no entanto, não se limita ao passado: é também "dar voz a outros artistas e outras histórias que eu gostaria que fossem ouvidas".

Para ajudar a contar a história de sua família, Maria Carol e Candé selecionaram e convidaram alguns nomes para depoimentos marcantes no documentário. Xuxa, Claudia Raia, Ney Matogrosso, Marcelo D2, Tony Ramos, Guel Arraes, Silvio de Abreu, Patrícia Travassos, Mariana Ximenes, entre outros artistas conhecidos pelo Brasil, contam histórias e relembram saudosamente de passagens com Jorginho (como era carinhosamente chamado por seus amigos), dona Hilda e João.

Fôlego — Até depois do fim se configura, portanto, como um poderoso ciclo de vida e arte: uma família que dedicou sua existência a contar histórias agora tem sua própria história eternizada, assegurando que sua luz continue a guiar e inspirar futuras criações.

Divulgação -
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