Literatura

COP30: Artistas lançam obras para aproximar crianças do debate ambiental

Darlan Rosa, Trudruá Dorrico e Alessandra Roscoe lançam obras para discutir a questão ambiental dirigidas especialmente ao público infantil

Capa do livro Agueiro, ilustrado por Patricia auerbach e Roberta Ase -  (crédito: Divulgação)
Capa do livro Agueiro, ilustrado por Patricia auerbach e Roberta Ase - (crédito: Divulgação)

Com a realização da COP 30 em Belém neste ano, o debate sobre preservação ambiental ganhou destaque, também, no universo da literatura infantil. O artista plástico Darlan Rosa, reconhecido principalmente pela criação do Zé Gotinha, divulgou recentemente a animação COP 30 Lagartistas no YouTube. O projeto surgiu a partir de uma série de esculturas que foram produzidas em 2007, e busca aproximar o público infantil das discussões climáticas.

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O vídeo Lagartistas apresenta a jornada colorida das lagartas criadas por Darlan Rosa. Elas vivem em um ambiente vibrante e são rodeadas por transformação. O curta aborda temas como metamorfose, equilíbrio ambiental e cuidados com o planeta de forma criativa e alegre, enquanto as lagartas aprendem sobre os ciclos da natureza.

O artista recorda o projeto Casulo, em cartaz no CCBB, que motivou a produção do vídeo COP 30 Lagartistas: "Eu criei umas esculturas para as crianças andarem em cima, como se fosse um caminho, e eu as chamei de Lagartistas. Eu fiz também uns desenhos delas". A proposta do vídeo é criar sensibilidade ambiental, algo que, de acordo com Darlan, é fundamental: "Acredito que é mais fácil você ensinar e motivar uma criança do que um adulto".

Darlan defende que as obras voltadas para o público infantil podem atravessar gerações e alcançar leitores adultos: "Eu acredito que um livro infantil, como a gente faz em uma linguagem mais simples e lúdica, pode também alcançar adultos, principalmente os de baixa leitura". Em COP 30 Lagartistas, ao evitar explicações técnicas, Darlan procura utilizar a poesia como ferramenta para promover a consciência ecológica e ambiental.

A relação de Darlan com o público infantil foi moldada desde o final da década de 1960, durante seu trabalho na televisão: "Quando eu tive um programa na TV Brasília, eu contava histórias e desenhava para as crianças simultaneamente", lembra. Sua obra segue contendo um viés lúdico e infantil, abordando temáticas atuais de forma leve e divertida. 

O mineiro radicado em Brasília revela a intenção de transformar o vídeo veiculado pelo YouTube em um livro físico. Além de Lagartistas, outros títulos da literatura infantil brasileira têm explorado o meio ambiente e a natureza. São livros que tratam o tema como parte de uma relação afetiva, estética e ancestral com a natureza.

Narrativa indígena

O Lago Pri Pri, escrito por Trudruá Dorrico e ilustrado por Martina Carvalho,  conta a aventura vivida por um homem Macuxi que foi viver no mundo do rei kasna após se casar com sua filha. O homem passa por reviravoltas para conseguir retornar à sua aldeia. A autora ouviu essa história de sua mãe, parte de uma narrativa Macuxi para apresentar às crianças uma relação profundamente afetiva com a natureza. 

Ao explorar o imaginário macuxi, a obra propõe que preservar o meio ambiente é também preservar histórias e modos de viver transmitidos de geração em geração. Ao aproximar os leitores dessa visão, o livro amplia a compreensão sobre a importância de proteger não apenas o espaço físico, mas todo o universo simbólico que existe nele. 

A ilustradora "acredita na potência do livro na formação das crianças", e ressalta o objetivo do livro de contribuir para que as crianças possam "olhar para o mundo e entender não só a importância de conservar a natureza, como se ela fosse algo distante de nós, mas cuidar dela, porque nós e ela somos a mesma coisa". 

A trama invisível

Nos fios do invisível, escrito por Alessandra Roscoe e com bordados do Grupo Matizes Dumont, utiliza da poesia para tratar, principalmente, do afeto. O livro, que tem como tema central a adoção, traz elementos da natureza, como as nuvens, o mar e os animais durante a narrativa. A história amplia a sensibilidade e reforça que compreender o ambiente não é apenas observar, mas sentir.

A obra foi influenciada pela poesia de Manoel de Barros. "A obra do Manoel traz muito desses elementos, o rio, o céu, os peixes, as árvores... A poesia dele está muito relacionada com a natureza, com esse meio ambiente que está no meio da gente", reflete Alessandra.

Sobre a abordagem lúdica de temas profundos, a autora explica: "Eu acho importante a gente tratar de todos os temas com a infância. A gente precisa ter esse cuidado de como falar. E a poesia é sempre uma possibilidade". "Poder falar com poesia sobre qualquer tema é sempre uma possibilidade de ampliar horizontes", completa.

Mergulho no Pantanal

Agueiro, ilustrado por Patricia Auerbach e Roberta Asse, mergulha no Pantanal para apresentar às crianças os ciclos da água, força que dita o ritmo da vida no bioma. O livro acompanha o movimento das cheias e secas, revelando como animais, plantas e habitantes reorganizam suas rotinas conforme a paisagem muda. Patricia e Roberta abordam a água e o bioma como personagens principais da narrativa.

O livro é não só uma celebração do Pantanal, mas também um alerta sobre a urgência de preservar sua dinâmica e permitir que seus ciclos continuem a existir. "É importante colocarmos os diversos territórios e infâncias brasileiras, não apenas nas pautas de meio ambiente, mas como temas das expressões artísticas e literárias", destaca Roberta. "O Pantanal é um ninhal de histórias sem fim, como é sem fim a beleza de seus tempos e lugares", conclui.

Sobre o livro ser composto apenas por ilustrações, Roberta afirma: "O livro ilustrado é um objeto artístico para todas as idades. Traz narrativas desdobráveis, com significados e percursos diversos, com potencial mágico de criar leituras, releituras e conversas entre várias gerações de leitores".

*Estagiária sob a supervisão
de Severino Francisco

 


  • Darlan Rosa pretende transformar o vídeo COP 30 Lagartistas em livro infantil
    Darlan Rosa pretende transformar o vídeo COP 30 Lagartistas em livro infantil Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
  • Cena do vídeo COP 30 Lagartistas, de Darlan Rosa
    Cena do vídeo COP 30 Lagartistas, de Darlan Rosa Foto: Divulgação
  • Cena do vídeo COP 30 Lagartistas, de Darlan Rosa
    Cena do vídeo COP 30 Lagartistas, de Darlan Rosa Foto: Divulgação
  • Alessandra Roscoe: a trama dos fios invisíveis da naturera
    Alessandra Roscoe: a trama dos fios invisíveis da naturera Foto: Fernando Rabelo
  • Capa do livro O Lago Pri Pri, escrito por Trudruá Dorrico e ilustrado por Martina Carvalho
    Capa do livro O Lago Pri Pri, escrito por Trudruá Dorrico e ilustrado por Martina Carvalho Foto: Divulgação
  • Capa do livro Nos Fios do Inviível, escrito por Alessandra Roscoe e ilustrado pelo Grupo Matizes Dumont
    Capa do livro Nos Fios do Inviível, escrito por Alessandra Roscoe e ilustrado pelo Grupo Matizes Dumont Foto: Divulgação
  • Nos fios do invisí­vel
    Nos fios do invisí­vel Foto: FTD/Reprodução
  • Agueiro
    Agueiro Foto: FTD/ Reprodução
  • O lago pri pri
    O lago pri pri Foto: Companhia das Letras/ Reprodução
  • Trudruá Dorrico, autora do livro O Lago Pri Pri
    Trudruá Dorrico, autora do livro O Lago Pri Pri Foto: Divulgação
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BL
postado em 19/11/2025 05:36 / atualizado em 19/11/2025 13:58
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