
Com a realização da COP 30 em Belém neste ano, o debate sobre preservação ambiental ganhou destaque, também, no universo da literatura infantil. O artista plástico Darlan Rosa, reconhecido principalmente pela criação do Zé Gotinha, divulgou recentemente a animação COP 30 Lagartistas no YouTube. O projeto surgiu a partir de uma série de esculturas que foram produzidas em 2007, e busca aproximar o público infantil das discussões climáticas.
O vídeo Lagartistas apresenta a jornada colorida das lagartas criadas por Darlan Rosa. Elas vivem em um ambiente vibrante e são rodeadas por transformação. O curta aborda temas como metamorfose, equilíbrio ambiental e cuidados com o planeta de forma criativa e alegre, enquanto as lagartas aprendem sobre os ciclos da natureza.
O artista recorda o projeto Casulo, em cartaz no CCBB, que motivou a produção do vídeo COP 30 Lagartistas: "Eu criei umas esculturas para as crianças andarem em cima, como se fosse um caminho, e eu as chamei de Lagartistas. Eu fiz também uns desenhos delas". A proposta do vídeo é criar sensibilidade ambiental, algo que, de acordo com Darlan, é fundamental: "Acredito que é mais fácil você ensinar e motivar uma criança do que um adulto".
Darlan defende que as obras voltadas para o público infantil podem atravessar gerações e alcançar leitores adultos: "Eu acredito que um livro infantil, como a gente faz em uma linguagem mais simples e lúdica, pode também alcançar adultos, principalmente os de baixa leitura". Em COP 30 Lagartistas, ao evitar explicações técnicas, Darlan procura utilizar a poesia como ferramenta para promover a consciência ecológica e ambiental.
A relação de Darlan com o público infantil foi moldada desde o final da década de 1960, durante seu trabalho na televisão: "Quando eu tive um programa na TV Brasília, eu contava histórias e desenhava para as crianças simultaneamente", lembra. Sua obra segue contendo um viés lúdico e infantil, abordando temáticas atuais de forma leve e divertida.
O mineiro radicado em Brasília revela a intenção de transformar o vídeo veiculado pelo YouTube em um livro físico. Além de Lagartistas, outros títulos da literatura infantil brasileira têm explorado o meio ambiente e a natureza. São livros que tratam o tema como parte de uma relação afetiva, estética e ancestral com a natureza.
Narrativa indígena
O Lago Pri Pri, escrito por Trudruá Dorrico e ilustrado por Martina Carvalho, conta a aventura vivida por um homem Macuxi que foi viver no mundo do rei kasna após se casar com sua filha. O homem passa por reviravoltas para conseguir retornar à sua aldeia. A autora ouviu essa história de sua mãe, parte de uma narrativa Macuxi para apresentar às crianças uma relação profundamente afetiva com a natureza.
Ao explorar o imaginário macuxi, a obra propõe que preservar o meio ambiente é também preservar histórias e modos de viver transmitidos de geração em geração. Ao aproximar os leitores dessa visão, o livro amplia a compreensão sobre a importância de proteger não apenas o espaço físico, mas todo o universo simbólico que existe nele.
A ilustradora "acredita na potência do livro na formação das crianças", e ressalta o objetivo do livro de contribuir para que as crianças possam "olhar para o mundo e entender não só a importância de conservar a natureza, como se ela fosse algo distante de nós, mas cuidar dela, porque nós e ela somos a mesma coisa".
A trama invisível
Nos fios do invisível, escrito por Alessandra Roscoe e com bordados do Grupo Matizes Dumont, utiliza da poesia para tratar, principalmente, do afeto. O livro, que tem como tema central a adoção, traz elementos da natureza, como as nuvens, o mar e os animais durante a narrativa. A história amplia a sensibilidade e reforça que compreender o ambiente não é apenas observar, mas sentir.
A obra foi influenciada pela poesia de Manoel de Barros. "A obra do Manoel traz muito desses elementos, o rio, o céu, os peixes, as árvores... A poesia dele está muito relacionada com a natureza, com esse meio ambiente que está no meio da gente", reflete Alessandra.
Sobre a abordagem lúdica de temas profundos, a autora explica: "Eu acho importante a gente tratar de todos os temas com a infância. A gente precisa ter esse cuidado de como falar. E a poesia é sempre uma possibilidade". "Poder falar com poesia sobre qualquer tema é sempre uma possibilidade de ampliar horizontes", completa.
Mergulho no Pantanal
Agueiro, ilustrado por Patricia Auerbach e Roberta Asse, mergulha no Pantanal para apresentar às crianças os ciclos da água, força que dita o ritmo da vida no bioma. O livro acompanha o movimento das cheias e secas, revelando como animais, plantas e habitantes reorganizam suas rotinas conforme a paisagem muda. Patricia e Roberta abordam a água e o bioma como personagens principais da narrativa.
O livro é não só uma celebração do Pantanal, mas também um alerta sobre a urgência de preservar sua dinâmica e permitir que seus ciclos continuem a existir. "É importante colocarmos os diversos territórios e infâncias brasileiras, não apenas nas pautas de meio ambiente, mas como temas das expressões artísticas e literárias", destaca Roberta. "O Pantanal é um ninhal de histórias sem fim, como é sem fim a beleza de seus tempos e lugares", conclui.
Sobre o livro ser composto apenas por ilustrações, Roberta afirma: "O livro ilustrado é um objeto artístico para todas as idades. Traz narrativas desdobráveis, com significados e percursos diversos, com potencial mágico de criar leituras, releituras e conversas entre várias gerações de leitores".
*Estagiária sob a supervisão
de Severino Francisco

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