
O Museu Nacional da República iniciou, na última sexta-feira (14/11), a exposição J. Borges: Matriz. Dedicada a um dos maiores nomes da cultura popular brasileira, a mostra ocupa a Galeria Mezanino e permanece aberta ao público até 28 de dezembro, com entrada gratuita.
A exposição reúne mais de 80 matrizes originais utilizadas em xilogravura produzidas ao longo de quatro décadas pelo artista pernambucano José Francisco Borges, reconhecido internacionalmente como o mais célebre xilogravurista brasileiro.
Ao Correio, o curador e pesquisador Humberto Queiroz diz que a essência da mostra está justamente na oportunidade rara de ver de perto as matrizes talhadas pelo próprio artista. “As matrizes são as bases que dão origem às xilogravuras, e ver essas peças de perto é como enxergar o coração da obra de J. Borges”, explica. Talhadas ao longo de cerca de 40 anos, as matrizes revelam o processo minucioso do artista.
Queiroz lembra que J. Borges é o xilogravurista brasileiro mais conhecido no mundo, um status conquistado sem abrir mão de suas raízes. “J. Borges foi um artista universal justamente por nunca ter deixado suas raízes. Ele nos mostra que o local pode ser profundamente global quando é fiel às formas de vida e às histórias do lugar. Quem vier à mostra terá contato com uma memória viva da cultura popular”.
A exposição percorre temas que atravessam o imaginário nordestino: a religiosidade popular, as festas, o cotidiano sertanejo, as fábulas, as lendas e o misticismo. Mas Humberto faz questão de desfazer uma leitura comum. “Apesar das figuras de santos e anjos, a obra de J. Borges não tem caráter devocional. Ele fazia tudo pela cultura, pelo cômico, pela arte. Era um registro da vida, das histórias e do humor do povo nordestino, não uma obra religiosa”, explica.
O acervo exibido pertence ao pesquisador e jornalista Jeová Franklin, um dos maiores apoiadores e divulgadores da obra de J. Borges. Obras emblemáticas como A chegada da prostituta no céu e O monstro do sertão foram realizadas com as matrizes expostas. Para o curador, são trabalhos que sintetizam a força narrativa do artista. “J. Borges tinha uma habilidade rara de transformar o cotidiano em poesia visual. Era direto, popular, forte, e ao mesmo tempo profundamente imagético”, observa.
Além da dimensão artística, o projeto ressalta o caráter comunitário da produção de J. Borges. Sua oficina em Bezerros (PE) se tornou, ao longo dos anos, um espaço de aprendizado para filhos, netos e inúmeros aprendizes. “É uma tradição que se perpetua pela convivência e pela prática. A xilogravura é uma linguagem em risco de desaparecer na era digital, e a continuidade promovida pela família é fundamental”, finaliza Humberto.
Serviço
J. Borges: Matriz
Entre os dias 14 de novembro e 28 de dezembro (de terça a domingo), das 9h às 18h no Museu Nacional da República.Classificação indicativa livra. A entrada é gratuita

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