Teatro

Com Humberto Pedrancini, 'Outro Lear' chega ao Teatro Sesc Silvio Barbato

Montagem minimalista de Roni Sousa, que mescla audiovisual ao movimento cênico, permite a concentração no texto, que também toca em questões como etarismo, envelhecimento e solidão

Humberto Pedrancini é apaixonado por Rei Lear, o clássico de William Shakespeare, há décadas. Já usou o texto muitas vezes em aulas de teatro, mas nunca havia encenado o drama no qual um monarca déspota decide exigir das filhas provas de amor para poder dividir o reino entre elas. "Há muitos anos que vinha lendo esse texto, uso em aulas de composição do desempenho", conta o ator e diretor, que aceitou a proposta do diretor Roni Sousa para subir ao palco na pele do  rei. "Topei e estamos nessa viagem. Foi feita uma adaptação pelo dramaturgo Yuri Fidelis e fizemos no ano passado."

O texto original de Shakespeare tem, pelo menos, 11 personagens, contando o rei e as três filhas, mas a versão de Fidelis conta apenas com Pedrancini, que contracena com imagens em vídeo durante todo o espetáculo, em cartaz hoje e amanhã no Teatro Sesc Silvio Barbato. "O Lear tem outras tramas que foram tiradas. Ficamos somente com as filhas", explica o ator. "Não se perdeu esse envolvimento. Mas é um rei despótico, vaidoso, que resolve dividir o reino entre as filhas. Ele está velho, cansado e distribuirá as terras de acordo com a que demonstre maior amor por ele."

As duas filhas mais velhas fazem uma ode ao pai e tentam convencê-lo que o amam mais do que tudo no mundo, enquanto Cordélia, a preferida, discursa sobre o amor de forma mais realista, embora não menos afetiva. Enfurecido, o rei decide deserdá-la e aí se dá toda a tragédia shakespeariana. "Esse homem tão altivo, tão tirano, vai ganhando camadas de vida através do sofrimento, percebe que as coisas às quais ele dava valor, na verdade, não tinham, que as filhas são cruéis", analisa Pedrancini. "É uma tragédia. A grande questão é o homem diante de si mesmo, quais são os valores verdadeiros, o que significa ter poder, riquezas, mas estar vazio de amor, afeto, compreensão do mundo."

Para Pedrancini, interpretar Lear é um privilégio e um desafio, porque o personagem permite explorar nuances da essência humana, como fraqueza e vulnerabilidade contrapostas a força e poder. A montagem minimalista de Roni Sousa, que mescla audiovisual ao movimento cênico, permite a concentração no texto, que também toca em questões como etarismo, envelhecimento e solidão. Pedrancini, que recebeu o título de  Cidadão Honorário de Brasília e de Comendador da Ordem do Mérito Cultural de Brasília e é um dos nomes fundadores da cena teatral brasiliense, considera fundamental abordar o tema da velhice para destacar preconceito e a desvalorização frequentemente sofridos pelas pessoas da terceira idade.

Outro Lear

Com Humberto Pedrancini. Direção: Roni Sousa. Hoje, às 20h, e amanhã, às 19h, no Teatro Sesc Silvio Barbato (SCS Quadra 2 Bloco C, lote 227, Edifício Presidente Dutra). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). A sessão de amanhã é gratuita. Não recomendado para menores de 12 anos

 

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