Aos 22 anos, o ator João Pedro Mariano emerge como uma das grandes promessas do audiovisual brasileiro, carregando em sua arte a tranquilidade e a curiosidade do interior de Minas Gerais. Natural de Guaxupé, ele afirma que essa origem "muda completamente" seu olhar sobre o mundo, ensinando-o a ser um observador atento, dotado de uma curiosidade enorme e um desejo de escutar e descobrir o que está por trás das coisas. Essa paixão por "ouvir histórias" é a base de seu ofício, que ele compara, com bom humor, à arte da fofoca mineira.
Sua formação é profundamente ligada ao teatro. Após se mudar para São Paulo aos 17 anos, ele se formou na SP Escola de Teatro e dedicou-se intensamente aos palcos. Ele descreve o teatro como algo "mágico, quase místico", que exige entrega total, moldando um ator com força e um olhar vivo sobre a arte e o mundo.
Essa entrega foi colocada à prova no processo seletivo para o papel de Wellington, o jovem que recebe o apelido de Baby no filme homônimo de Marcelo Caetano. Selecionado entre mais de 1.700 jovens, João Pedro sentiu que sua disponibilidade, curiosidade e talento o prepararam para a oportunidade que mudaria sua trajetória.
A preparação para viver Baby, um jovem que busca se reintegrar à sociedade e se envolve com um homem mais velho após deixar o centro de detenção juvenil, foi um mergulho detalhado. Ele fez intensa pesquisa de campo no centro de São Paulo, visitou a Fundação Casa e casas de prostituição, buscando compreender esse universo. Fisicamente, a construção envolveu aulas de Boxe para acessar a raiva e a potência, e aulas de Vogue (a dança da cultura ballroom) para trazer o feminino, a delicadeza e a expressão do personagem. Emocionalmente, o processo foi de escuta e empatia. "O Baby me atravessou por completo," revela, ensinando-o muito sobre afeto, desejo, dor e resistência.
Sua estreia mundial no Festival de Cannes com Baby foi um divisor de águas e uma das experiências mais intensas de sua vida, marcando sua primeira viagem internacional. Além da emoção da arte, ele percebeu em Cannes a grandiosidade do cinema como indústria, um campo potente de negócios e possibilidades. O reconhecimento veio em forma de quatro prêmios de Melhor Ator em festivais importantes como o Festival do Rio, Mix Brasil e Fest Aruanda, além da indicação ao Grande Otelo. Ele encara os prêmios como um "abraço" e uma confirmação do trabalho, mas lembra que são parte do caminho, lembrando-o da responsabilidade de continuar crescendo como artista.
Além do estigma
A transição para o formato de série o levou ao papel de Luka na produção do Prime Video, Tremembé, inspirada nos livros de Ullisses Campbell. O personagem é baseado em Ricardo de Freitas Nascimento, o Duda, que se envolve romanticamente com Christian Cravinhos (vivido por Kelner Macêdo na série) no presídio. O ritmo acelerado das gravações exigiu um "estudo solitário" e de intensa confiança para criar o personagem.
Comparando os dois papéis, ambos em contextos de tensão social, ele nota a diferença de movimento: Baby é o corpo que se abre para o mundo, buscando a reinserção, enquanto Luka é o corpo que tenta respirar dentro do confinamento, mas se abre em um deslumbramento quase infantil ao encontrar o amor. Para Luka, a pesquisa foi menos sobre reproduzir fatos e mais sobre "entender o que existe de humano nesse corpo, nessa história," buscando dar vida ao personagem "para além do estigma."
João Pedro Mariano destaca a importância central do corpo em sua atuação. "Eu acredito que o corpo é a grande mente do ser humano," ele afirma, explicando que a construção de um personagem começa pela forma como ele anda, respira e se move, pois é onde a emoção ganha forma visível.
Ativismo
A sensibilidade e a responsabilidade social de seus projetos refletem-se também em seu ativismo. Ele é cofundador do coletivo de artistas A.Bordar, que nasceu após ele e amigos serem vítimas de abuso e decidirem denunciar, com o objetivo de dar voz a vítimas de violências e abusos no meio artístico e na sociedade. Essa experiência pessoal ressoa em sua atuação, trazendo um cuidado enorme na escolha de projetos.
Aos 22 anos, João Pedro aconselha outros jovens atores a nunca pararem de estudar, mas lembra que o melhor laboratório é a vida: observar, conversar, sentir curiosidade. "Porque é na vida que a arte nasce", conclui o ator, consolidando sua posição como um talento que usa a arte para refletir e transformar.
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