A atriz Gabriela Amerth, nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro de Engenho de Dentro, está a um passo de realizar um sonho que muitos artistas almejam, mas poucos alcançam: uma nomeação ao Oscar. Sua performance no filme Brownsville Bred a colocou na pré-lista de concorrentes à indicação de Melhor Atriz Coadjuvante para a 98ª edição do prêmio, que será anunciada em fevereiro de 2026. A notícia é um marco e tanto para uma artista que chegou a cantar nas ruas do Rio para custear sua mudança para os Estados Unidos.
Ao Correio, Gabriela detalha a jornada que a levou até este momento. "Tudo que consegui até aqui foi sem representação, o que me dá muito orgulho", conta ela, referindo-se ao fato de ter conseguido o papel por conta própria. A oportunidade surgiu através da plataforma online Actors Access, onde ela se inscreveu para o teste. "Eu apliquei com meu material, recebi um pedido de audição, e passei. Depois de 70 negativas", revela, destacando a perseverança necessária para abrir portas em Hollywood.
Brownsville Bred é descrito por Gabriela como "uma carta de amor à cultura latina". O filme, falado em inglês e espanhol, aborda histórias de aceitação e orgulho das origens. "No Brasil a gente não cresce com essa noção aguda de fazer parte de uma cultura coletiva... mas aqui [nos EUA] essa auto percepção fica bastante evidente", reflete.
No longa, a atriz interpreta Elizabeth, uma personagem neurodivergente devido a uma hipóxia cerebral. "Ela é o centro do que catapulta a virada principal do filme: uma situação de bullying", explica Gabriela, que abordou o papel com "muito cuidado e humanidade" para honrar a pessoa real que inspirou a personagem.
Surpresa do Oscar
A possibilidade de uma indicação ao Oscar só se tornou concreta quando o filme atendeu a todos os requisitos da Academia e se tornou elegível. A produção então submeteu o elenco para consideração. O momento em que Gabriela descobriu a campanha foi emocionante. "Eu estava do lado da diretora, Elaine Del Valle, em uma sessão de perguntas e respostas... quando ela contou pro público que estávamos elegíveis ao Oscar", lembra. "Falando da minha possível indicação, ela disse 'o quão especial seria se uma imigrante brasileira fosse nomeada a melhor atriz coadjuvante?' Fiquei sem reação."
Para a atriz, que mora nos EUA desde 2016, a honra é ainda mais significativa por acontecer em seu primeiro filme como parte do elenco principal. "Achei que pra chegar lá [ao Oscar] eu necessariamente teria que ter uma carreira estável... Depois entendi que não é bem assim, e que grande parte é um jogo político e de relações. Hoje, o Oscar significa a possibilidade de expandir minha carreira."
Sonhos
Enquanto grandes estúdios investem fortunas em campanhas para seus indicados, a equipe de Brownsville Bred realiza um trabalho mais focado. "Claro que é dificílimo competir com o dinheiro e a influência de grandes produções, mas não tem porque não fazer esse movimento de conscientização. O não a gente já tem", pondera, com pragmatismo e esperança.
Gabriela sempre permitiu-se sonhar alto. "Acredito que quase todo ator sonha com o Oscar... Sempre sonhei muito, e minha imaginação me salvou em momentos de dificuldade e emoções sombrias. Tenho muito orgulho de ser uma pessoa positiva e esperançosa, e cheguei aonde cheguei por conta disso."
O Brasil no coração e no futuro
Apesar da jornada internacional – ela também teve participações em Música (Prime) e como figurante em Succession (HBO) –, Gabriela mantém o desejo de atuar em seu país de origem. "Claro! Atuar na minha língua materna me traz profundo pertencimento", declara. Seu desejo é tocante e familiar: "Meu desejo é que eu consiga fazer novela antes de meu avô e avó partirem. Minha vó por parte de mãe era minha grande apoiadora, e ela nunca chegou a ver aonde a vida me trouxe, então queria muito que desse tempo de meu avô me ver na televisão."
Sobre o mercado brasileiro, ela vê com otimismo os recentes reconhecimentos internacionais do cinema nacional. "É reconfortante ver a constante presença e a qualidade do trabalho do cinema brasileiro em festivais nos últimos anos", observa, torcendo para que mais iniciativas abram espaço para cineastas e atores do Brasil.
A trajetória de Gabriela Amerth, da vendedora de bijuterias e passeadora de cães em terras estrangeiras à pré-lista do Oscar, é um testemunho de resiliência e da força de quem não desiste de sonhar, mesmo quando a realidade impõe mais de 70 "nãos" antes do primeiro "sim".
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